sábado, 26 de fevereiro de 2011

22º capítulo – cotidiano matinal

Catherine

        Estava já em casa. Tudo deu errado ou tudo deu certo? Ela pensou. O que havia planejado não deu certo. Mas ela conseguiu o dinheiro que precisava. Isso era uma aflição a menos. Mas realmente ficou muito revoltada com a Alicia. Ninguém nunca havia feito isso com ela. Dar um bolo daquele jeito? Não tem como isso acontecer.

        - Essa garota está brincando com fogo.

        Depois de anos era a primeira vez que Cat estava indo para a cama sozinha. E teve medo de seus monstros. De seus pensamentos. As lembranças ruins vieram todos. O seu passado. A morte de Carla. Tudo a atormentava. E o sono não vinha. E tudo ficando claro. Os carros passando na rua. As pessoas falando. E ela ali na cama. Jogada. Sem atitude tomar.

        Desiste de dormir. Toma um banho frio. Sai para o mercado. Precisa comprar algumas coisas. Precisa comer. Beber. Compra o necessário. E lógico, uma garrafa de vodka. A sua melhor e fiel amiga. Que nunca a deixa. Ou melhor, deixa, quando ela toma tudo. Mas isso não é problema, desde que o dinheiro para comprar outra garrafa esteja ali com ela.

        Andando ali no mercado ela fica com sono. Quase cai. Mas continua a andar para pegar tudo que precisava. E ela vai para a fila. Estava enorme. Ela parece um zumbi. E quando menos espera estava ali, dormindo em pé. Quando é a vez dela na fila (sim, de alguma forma ela andava junto com a fila), ela não tem noção disso. Quando uma voz a chama. Uma voz doce e meiga. Ela acorda e quase beija a dona da voz. Era uma antiga aluna dela na escola de música.

        - Hey Cat. Dormindo. Acorda se não será atropelada por carrinhos de supermercado.

        - Você me chamando. Eu pensei que tinha morrido e ido para o céu sem querer e um anjo me chamou para eu me tocar do meu lugar.

        - Anjo? Você não sabe nada, sua linda. Estou mais para uma diabinha.

        - Obrigada. Deixa-me pagar essas compras. Mas a gente podia se encontrar dia desses. Você tem mais de dezoito anos, não é?

        - Você sempre me fez rir. Fiz dezoito ontem.

        - Então, vamos comemorar.

        - Lógico. Quer ir a um barzinho hoje?

        - Sim. Qual?

        - Eu passo em sua casa e depois a gente vê.

        - Ótima idéia. Aqui. Este cartão tem meu endereço e telefone. Vai lá em minha casa. A gente pode tocar um violão também. Cantar.

        - Eu não fiz nada de muito bom ontem. Eu posso chamar uma galera para ir à sua casa e a gente faz algo legal lá. Falo pra cada um levar uma bebida, ou algo pra comer. Topa?

        - Você estando lá, lógico que concordo. Só que sem menores.

        - Pode deixar. Criança nenhuma vai estar lá.

        Catherine paga as compras. E vai embora. Tem que arrumar a casa e o quarto para receber as pessoas. Ainda bem que foi fazer compras hoje.

***

Alicia

        Alicia acordou e não sabia onde estava. Ela havia bebido demais. Deve ter transado com alguém. Mas não viu ainda a pessoa. Bem, não era um motel. Pelo menos não parecia. Parecia um apartamento. Estava seminua debaixo de lençóis. Ela torcia para ser uma pessoa conhecida. Ou melhor, uma pessoa linda.

        Ela começa a ouvir passos. Talvez uma tosse. Grave demais. Ela começa a se preocupar que pode ser alguém do sexo masculino. Ela começa a tremer. E de torcida, começa a rezar baixinho. Vai que ela ouviu errado. Ou é no apartamento de cima. Quando chega ali no quarto ele com o café da manhã.

        - Marco???

        - Desculpe. Não queria te acordar. Trouxe o café para você. Estava tão apagada ontem quando te encontrei.

        - O que aconteceu?

        - Te encontrei bêbada, apagada em uma mesa de bar. Paguei a conta. Peguei você e te trouxe pra cá. Coloquei você na cama. Fique tranqüila. Não aconteceu nada. Eu dormi na sala.

        - Eu não sei como aconteceu.

        - Alguém deve ter tentado te drogar. Mas eu devo ter chego antes.

        - Eu não me lembro de quase nada. Sei que sentei em um bar. Pedi uma cerveja. Tomei. Pedi a segunda e depois disso não lembro.

        - Pois é. Devem ter te drogado. Ainda bem que cheguei a tempo.

        - Você está falando a verdade, não é?

        - Pode notar que eu não toquei em você. Você que tirou suas próprias roupas. Fiquei super sem graça. Mas sinta a sua vagina. Eu não transei com você.

        - Acredito em você. Antes de eu ir para a rua já havia transado com a minha ex. Notei que parece que realmente só havia transado com ela. Mais ninguém.

        - Aqui. Eu trouxe café para você. Suco. Torrada. E essas coisas que mulher gosta de comer. Patê e tudo mais.

        - Se eu fosse hetero, casava com você. Até café na cama traz.

        - Se você fosse hetero com certeza estaria debaixo dos lençóis com você.

        - E não seria ruim. Você é bonito. E naquela vez que quase aconteceu eu fiquei morrendo de vontade. Imagina se eu fosse hetero.

        - Pois é.

        Marco levou o café para a moça que o tomou conversando com ele. Depois ele saiu do quarto para ela poder se vestir. Ela agradeceu por tudo e foi para seu apartamento. Mas que isso tudo foi estranho, sim, foi muito estranho.

***

Bruna

        Era um novo dia. Bruna acordou era onze e meia da manhã. Estava alegre. A noite passada foi bem divertida. Amigos. Música. Bebida. Ela pensa que precisa disso todos os dias. A felicidade está escondida dentro de instantes, segundos, risadas, uma dose de amizade. Estava com a ressaca mais divertida de sua vida. A dor de cabeça e enjôo não a faz desanimar. Um bom banho, um analgésico e muita água é a solução para os maus do dia seguinte.

        O dia estava lindo lá fora. Um belo Sol. Pessoas na praia. Mas e a coragem de sair de casa? A vontade de não ver o Sol era maior do que ela. A vontade é só de nada fazer. Ou ouvir um som. Algo bem preguiçoso, digno de um domingo após um sábado maravilhoso.

        Ela não quer almoçar. O estomago está muito ruim para isso. Toma mais água. Faz uma saladinha depois e este é seu almoço e café da manhã. Depois para adoçar a boca, uma barrinha de cereais.

        Bruna resolve ligar para Marcelo. Quer ver o que perdeu com a Beatriz, a loirinha que ficou dando em cima dela. O amigo riu muito quando a Bruna liga.

        - Nuninha, estava falando de você nesse instante.

        - Bem ou mal e com quem?

        - Bem e com a Bia.

        - Nossa. Eu liguei para você para perguntar dela mesmo. Eu sou tão lerda. E namorei tanto a mesma mulher que não sei reparar quando alguém está querendo chegar em mim. O Rodrigo que me falou depois. É verdade?

        - Benhê, se não fosse mais do que verdade, ela não estaria aqui falando de você o tempo inteiro.

        - Pede desculpa para ela. Eu sou muito desorientada nesse quesito.

        - Imaginei. Vem aqui em casa. Daí quem sabe?

        - Pode ser. Estou ruim de ressaca.

        - Então, vem aqui que você bebe mais e acaba com a ressaca.

        - Tentador. Mulher, amigo gay e bebida. É se eu disser que não será até feio. Vou aí daqui a pouco então.

        - Isso mesmo gata. Vou falar para a Bia que hoje ela beija na boca.

        - Pode falar que estou chegando. Beijos.

        - Beijos.

        Eles desligam e ela vai se arrumar para ir à casa do amigo, que não fica muito distante dali. Ela está ansiosa. Ficar com outra garota. Mulher sempre é interessante para quem gosta.

***

Monise

        Acorda irritada ainda com a conversa de seu amigo (nem tanto, agora) Fred. Amigo tem que um apoiar o outro. E ele não a apóia. Não quis ficar ali para segurar a mão dela quando mais precisou. Quer apenas cobrar dela uma atitude que não pode ter sozinha.

        Amigo que é amigo não é aquele que separa briga, e sim aquele que chega de voadora. E ele apenas se ausentou. Ficou distante. E quando pode cobrou e cobrou. Ela sente falta da amizade, porém a raiva que está dele a faz querer evitar completamente estar próxima dele.

        Monise busca o que fazer. O que querer. Mas a busca nem sempre é realmente o que deseja. Talvez mesmo que você encontre respostas para tudo que queira. Você decide pelo o vazio. O nada. Eles acabam muito menos assustadores do que realmente você precisa fazer.

        Monise anda pela a casa. Apenas anda feito um fantasma de dias ensolarados. Seus pais notam que a alegria de ontem parece ter passado. A mãe tenta falar com ela.

        - Filha. Vamos depois ao shopping? Daí nós podemos tomar alguma coisa. Ver umas roupas novas para você. E se quiser até um novo skate.

        - Hoje não mãe. Estou de péssimo humor. Seria uma má companhia. Se quiser sair com o papai, não acharei ruim ficar sozinha. Acho que seria melhor até para vocês.

        - O que aconteceu?

        - Não quero falar disso.

        Monise continua nessa. Cozinha, sala, quarto, banheiro. Banheiro, quarto, sala, cozinha, geladeira. Água, vinho, licor. Coca-cola, rum, energético. E pega o jornal, tenta ler, desiste. Liga o computador, resolve conversar com alguém, mas nada interessante e logo fica offline. Abre a janela, se incomoda com a felicidade da cidade. Fecha e fecha a cortina. E continua a andar.

        Os pais não sabem o que fazer. Ficam preocupados, mas não querem enfrentar. Tem medo de ser pior. A mãe já tem lágrimas nos olhos e o pai o telefone da terapeuta. Ligar e perguntar o que fazer? Ou chorar? Ou tentar? Ou apenas abraçar a filha que está inquieta? Eles ligam para a terapeuta que fala para levar a menina no dia seguinte.

        Monise continua inquieta. Continua com raiva. Continua triste. Continua… o mais importante é sempre continuar. Nunca parar.

***

Luciana

        Luciana acorda, mas quer dormir de novo. Tem que correr na praia. Mas também quer ficar na cama. Ela olha e vê ao seu lado a amiga que acabou dormindo por lá mesmo. Bárbara chega a roncar. Luciana coloca o travesseiro em cima do rosto. Quer levantar. Mas e a vontade de não levantar?

        Ela resolve sair da cama. A vontade de fazer xixi foi mais forte que a preguiça. E uma coisa desencadeia outra. Acaba escovando os dentes, tomando banho. Acaba por acordar e pensar em comer alguma coisa. E pensa em sair. E tem que acordar a Bárbara.

        Babi é uma menina que dorme muito e pesado. Nem se o prédio desabasse e abrisse um buraco naquele lugar do Rio de Janeiro, ela acordaria. E Lu descobre isso depois de tentar acordar. E jogar água e apelar para o gelo. Colocando-o dentro de suas calças. A amiga acorda gritando.

        - Vai tomar no cu, Luciana. Que isso? Quer me acordar, me come.

        - Eu quero sair para correr. Não posso te deixar aí dormindo.

        - Pode sim. Me deixa dormir. Depois que você chegar eu dou banho em você, filhinha.

        - Levanta, Babi. Vem comigo. Preciso de alguém para me segurar se eu quiser fazer merda.

        - A praia inteira te conhece. Monte de mulher para te segurar.

        - Você ainda não entendeu, que estou com muitas coisas na cabeça?

        - Quem tem coisas na cabeça é o Gustavo. Os chifres que você coloca nele.

        - Eu preciso de um amor. Paixão é bom, mas passa. E eu sei que não tenho mais nada de amor de mulher pelo o Gustavo. Parece que eu transo com um irmão.

        - Que nojo, Lu.

        - Sério.

        - Quer falar sério? Você está precisando é sair. Se divertir. Beber todas com todas os sapatões. Comer a professora. Sossegar.

        - Será que consigo?

        - O que?

        - Sossegar?

        - Difícil, mas quem sabe algum século?

        - Você é uma comedia. Sua vadia. Eu te amo.

        - Também te amo, sua sapatão linda.

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falta de tempo = capítulo curto.
beijos

Um comentário:

Lilith disse...

arruma tempo aii andy!!

kkk
mesmo curto ainda ta bom, mas da vontade de querer saber as novidades logoooooooooooooooooo


=)