Catherine e Luciana
- Enfim… ta ficando meio tarde.
- Pois é, e eu ainda vou dormir sozinha.
- Você sempre dorme acompanhada?
- Bem… ahm… de fato, dormir, eu quase não durmo. Dormir é mais força de expressão do que um ato em si.
- Então, você trepa todos os dias.
- Tem dois anos que é bem por aí…
- Você tem noção de quantas, você já traçou?
- Parei de contar aos dezessete anos.
- Estou com medo da resposta, mas vou perguntar: Por que parou aos dezessete?
(risadas das duas)
- Por três motivos. O primeiro, que eu não achava mais graça
- Muita vodka? Muita gente? Contabilidade sexual? Ruim em matemática? Puta que pariu. (risadas) Cat, você é demais. Eu morro de rir com você.
- Querida, na hora que você largar o chifrudo, vai ser que como eu.
- Eu?
- Você é safada. Tem potencial para isso. Moça criada a mel. Está em seus olhos que você vai ser como eu.
- Nada… eu gosto de namorar.
- Eu já gostei um dia.
- Você já namorou?
- Não quero falar disso não. Vamos! Vou te levar para casa e conseguir a de hoje.
- Precisa me levar não.
- Precisa sim, que você é ainda criança.
- Que nada, Cat.
- Let’s go, baby. Vem comigo que tudo é mais divertido.
- Você é louca.
- Nada… Eu só vivo demais.
- Vai acabar vivendo pouco tempo.
- Prefiro muito em pouco a pouco
- Você é louca mesmo.
- Você não viu nada. Um dia olhe no espelho. Você vai ser mais do que eu.
- Eu já disse. Eu gosto de namorar…
- E de trair. Eu pelo menos sou honesta. Não traio. É sexo e acabou. Amor é foda. É dramático demais.
- Mas…
- Nada de “mas”… Vamos lá, baby. A noite é uma criança e nós os seus brinquedos prediletos. Estou com vontade de fazer cócegas no universo.
- Ok! Ok!
A noite estava iluminada como sempre na cidade cartão postal do Brasil. Os sorrisos das pessoas que estavam por ali ajudavam a iluminar ainda mais aquela noite irresistível. Cat e Lu eram as mais sorridentes dentre todos. Riam daquele momento de estarem juntas. A felicidade parecia a companhia perfeita daquelas duas jovens. A mais velha das duas mexia com as mulheres e também com os homens, que passavam por elas. Uma linda ruiva olhou em seus olhos e deu um sorriso encantador. A cantora pegou no braço da moça, puxou-lhe para perto e sussurrou algo em seu ouvido, que fez a moça lhe pedir o número de seu telefone. Catherine falou o telefone, que foi anotado no celular. Um selinho selou aquele instante sedutor.
- Cat, o que você disse para aquela garota?
Catherine abre um sorriso, passa as mãos em seus cabelos lisos, olha a jovem amiga.
- Eu disse que a minha cama ainda está vazia nesta noite.
- Você a conhecia?
- Nunca a vi. Mas no exato instante que ela me viu, me desejou fudendo com ela. Resolvi realizar o desejo dela.
- Ela vai ligar?
- Com certeza. O problema que hoje eu não quero só uma.
- Ainda estamos na rua, pode encontrar com mais dez.
- Eu vou encontrar uma pra você também.
- Nada, eu na preciso de dicas. Eu consigo pegar quem eu quiser.
- É?
- Lógico.
- Vamos testar a sua habilidade de pegar mulher na rua.
- Mas como saber se a mulher vai topar? Ela pode ser heterossexual.
- Querida, toda mulher, não importa religião, cor, credo, tipo físico, no fundo é bissexual. Até a gente no fundo somos bissexuais. Não existe alguma mulher totalmente hetero ou lésbica. Somos todas “farinha do mesmo saco”. Uma hora ou outra provamos do que geralmente dizemos que não gostamos. Até as que falam que não curtem, que tem nojo, tenha certeza, em algum momento ela sentiu ou virá sentir desejo por alguma mulher. O importante é saber o que falar para elas. A palavra é a maior arma para tudo. Você pode causar guerra, paz e sexo com as palavras certas, ou não.
- Então, o que eu devo falar para as mulheres.
- Primeiro não vai ir a qualquer mulher. Tem que deixar que ela queira te caçar. Mulher é muito mais caçadora que os homens. Eu ouvir dizer que são leoas que caçam e não os leões. Se isso realmente é verdade, faz todo o sentido. A nossa sociedade, até no principio dela, fala que o homem é que escolhe. Não é bem assim. A mulher faz coisas para ser escolhida pelo o homem que ela escolheu. Elas só os deixam chegarem, se não eles não teriam serventia. Daí ficou com essa que o “cara que tem a pegada”, que “o cara que tem que chegar”. Mas a mulher que quer, vai dar o sinal que quer. E nós mulheres somos mais sensíveis a esses sinais. Percebemos facilmente quando elas querem. É só reparar os olhares, a boca, o jeito de andar que muda. A mão no cabelo. Repare nos detalhes, moça.
- Aquela de saia verde olhou para cá.
- Ela vai encontrar com alguém mais a frente. Veja o olhar de quem está ansiosa, preocupada e atrasada. Se for lésbica é passiva com 100% de certeza.
- Como você tem essa certeza?
- Mulheres de modo geral, quando querem dar, chegam atrasadas. É uma forma de saber se o macho realmente quer. Se esperar, e dependendo de como ele a receber, tenha certeza, eles vão parar na cama. Ativas geralmente chegam na hora ou um pouco antes. Se chegarem atrasadas elas terão um bom motivo, ou estão fazendo o esquema da passiva. Ver se a caça deseja ser caçada. É uma ótima tática. Se um dia quiser comer uma garota, pode fazer isso. Mas não se atrase muito, se não ela ficará com raiva e vai embora, ou vai achar que você não quer muito. Tudo tem que ser equilibrado nesse jogo de sedução.
- E essa de vestido florido?
- Essa gata?
- Essa mesmo?
- Linda.
- Muito mesmo.
- Já comi.
- Ahm?!?
- Samantha!
- Catherine?
- Oi gata. Tempo que a gente não se vê.
- Pois é, Cat. Saudade de seu apartamento. Está do mesmo jeito?
- Hoje minha cama está vazia.
- Pára de mentir que eu sei que sua cama nunca está vazia. Alias, deve estar vazia agora, pois você está aqui. Mas logo estará bem cheia.
- Vem preencher esse vazio de minha existência.
- Eu não sei. Estou namorando.
- Isso nunca foi problema para você.
- É, mas o garotão da vez é policial. Ciumento. Já ameaçou um cara que assobiou para mim.
- Ah! Tenho medo de homem não.
- Dele você tem que ter. Ele é chato com isso de ciúmes.
- E por que está com ele?
- Ele me come gostoso e eu preciso ter um namorado para minha família não perturbar.
- Leva ele lá
- Não sei. Tenho medo de ele fazer algo com você.
- Pergunta só se ele não curte. Tenho certeza que curte.
- E se ele quiser entrar no meio.
- Daí eu e ele comemos você.
- E se ele quiser te comer.
- Hum… complica.
Lu: - Você não disse que toda mulher é bi?
Cat: - É… você tem razão. Sam, Se ele quiser me comer, eu dou, mas eu tenho que comer você.
Sam: - Ok. Vou dar essa idéia para ele.
Cat: - Você tem meu telefone, não é?
Sam: - Tenho. É um número que nunca se deve perder. Meu disque sexo infalível.
Cat: - Me liga. Tenho sempre alguma hora para você.
Sam: - Ligo sim. Quem sabe ainda hoje não pode rolar uma festinha intima.
Cat: - Acharia perfeito.
Sam: - Ok. Vou encontrar com ele. Depois te ligo.
Cat: - Olha, hoje deve ir outra menina lá.
Sam - Quer marcar para outro dia, então?
Cat: - Não. Quanto mais, melhor.
Sam: - Está ok. Tenho que ir. Até daqui a pouco.
Samantha se distancia das duas. E elas continuam a caminhada analisando cada olhar, jeito de andar, de se vestir, de falar e se mexer de cada mulher que passava perto delas. Luciana ria, mas prestava atenção em Catherine como uma aluna e a outra como a sua mestra. Aulas de sedução? De aproximação? Aulas de como perceber o interesse da pessoa do mesmo sexo? Era aula de como se esquecer do dia a dia e se voltar para a alegria. Alguns apontariam um dos sete pecados, a luxúria, como a lição ali dada, mas vai, além disso. Luciana estava aprendendo sobre ela mesma, pois ela é mulher e ser humano.
***
Alicia
Alicia e Al. Duas irmãs que se amam, porém, são tão diferentes em atitudes e pensamentos. A doçura de uma contrasta com a acidez da outra. Alicia pensa. Al faz. Alicia se choca. Al choca. A caçula sempre chorou mais por amor. Sofre com gosto a fossa. Al sofre e toma atitudes para não sofrer mais. Alan, o irmão mais velho e único hetero, tem comportamento do perfeito galã-canalha, ele que provoca as lágrimas.
Alicia e Al. Duas irmãs que se amam, porém, são tão diferentes em atitudes e pensamentos. A doçura de uma contrasta com a acidez da outra. Alicia pensa. Al faz. Alicia se choca. Al choca. A caçula sempre chorou mais por amor. Sofre com gosto a fossa. Al sofre e toma atitudes para não sofrer mais. Alan, o irmão mais velho e único hetero, tem comportamento do perfeito galã-canalha, ele que provoca as lágrimas.
A atitude de Al de transar dentro do elevador panorâmico, após terminar um relacionamento de seis anos, assustou Alicia, porém, ela nunca duvidou em tal capacidade da irmã. É uma forma de agir louca, mas sadia para quem busca um jeito rápido de amenizar a dor da perda.
Já era mais de dez da noite e Alicia voltou ao seu apartamento. Novamente sozinha. Não seria por muito tempo, já que a irmã está vindo para passar alguns dias com ela. Mas segundos de solidão são portas para pensamentos tristes e pessimistas. E agora, para quem dizer “eu te amo”? O que pode ocupar este buraco em sua alma? O seu cachorro não sabe latir um, talvez, bizarro “eu amo você”. Quem não quer alguém para dizer a você um “eu te amo” e poder responder “eu também”? Esse vazio ficou gritando silêncios absurdos no ouvido da moça. Ela teve vontade de chorar, mas ficou apenas um nó no peito. Pior do que perder uma pessoa é não ter, com isso, seu porto seguro. O amor é a ilusão necessária para se buscar a felicidade.
As fotos sorridentes só retratam o que não voltará. E o tempo é algo bizarro. Às vezes um instante é longo como a eternidade e outras vezes, corre e mal podemos ver seus pés.
O telefone toca. Ninguém diz nada. É mudo. Só o coração acelerado é percebido. O mesmo ninguém desliga. Alicia respira forte. Seu pensamento se divide e subdivide em milhares de pensamentos simultâneos. Um prevalece em segundo em segundo: Vanessa. O que esta menina quer de verdade? Insegurança, medo não são nobres sentimentos, ainda quando estes estão atrelados ao amor. O amor tem que ser sem medo para ser livre.
Agora é a campainha que chama. Al com uma mochila nas costas e uma bolsa na mão. Um olhar que se perpetua diante a porta.
As moças se abraçam, como se fizesse muito tempo que não se viam. Um abraço afetuoso, fraternal, amoroso, caloroso. Tantos adjetivos que talvez não possam descrever as lágrimas que escorrem pelo o rosto das duas. Após anos, as duas irmãs vão conviver em um mesmo espaço. Brigas, sorrisos, pessoas, tudo se passou na cabeça daquelas duas.
- Irmã. Bom saber que eu terei você aqui.
- Você sempre será minha irmãzinha e eu sempre vou lhe proteger.
- Eu amo você.
- Também, mas vamos com cuidado com esses sentimentos. Somos duas mulheres lindas, gostosas, cheirosas… vai que a gente dormindo se pega?
- Você é tudo que eu preciso. Só você para me fazer sorrir.
- Relaxa, irmã. Em breve a dor da perda passa. Sei que nós seres humanos não sabemos entender a perda. Fim de relacionamento parece como se alguém estivesse morrido, mas somos lindas… logo estaremos nos agarrando com outras.
- Você principalmente. Já pegou a minha vizinha.
- Pois é, mal chego para morar aqui e já estou famosa.
- Um monte de gente vai querer ficar no elevador com você.
- Vou adorar esse tempo que estarei com você, maninha.
- Mas e aí. Conte-me sobre a mulherada. A Vanessa, a cantora.
- Não quero falar sobre isso não. A Vanessa é louca. Termina comigo e fica me ligando.
- E a cantora?
- A Catherine?
- Ela mesma. Eu senti certa química entre vocês.
- Nada. Ela é só uma amiga.
- Amiga? Aquela não me parece do tipo que têm amigas. No máximo “amiguinhas intimas”
- Que isso, Al.
- Irmã, eu conheço mulher safada de longe. Pelo o cheiro.
- E se for? Comigo não rola.
- Vamos ver.
- Você não acredita, não é?
- Eu só acredito em meus instintos e eles me dizem que você ainda vai cair do cavalo com essa de que não rola.
- Tudo bem, talvez role. Ela é muito bonita e tal… mas eu ainda sou apaixonada.
- Eu também ainda estou apaixonada, mas isso não é motivo para ficar chupando dedo. Tristeza não é motivo para solidão.
- Cada pessoa lida como pode com seus sentimentos.
- Ainda bem que eu choro no corpo de outra.
- Eu não sei se consigo ser como você.
- É que você é um doce, Lili. Aprenda que ninguém é realmente bonzinho. Se você viver em um mundo de fadas, você acaba sofrendo. Nada é perfeito, nada é bom. Temos que ter um pouco de maldade também, se não se acaba
- Não sei. Cada um é de uma forma e eu acho isso bom. Não precisamos ser ruins porque são ruins conosco.
- Talvez. Mas eu ainda gosto de uma vingança doce do que viver no gelo de minhas lágrimas.
- Sabe… talvez você esteja certa. Mas vamos ver… sabe, ela é realmente linda, mas acho que a Vanessa ainda quer algo comigo.
- Vanessa é uma indecisa.
- E quem não é confuso?
- Eu. Eu sei o que quero e quando quero. E você também é assim.
- Eu acho que não. Sou tão confusa.
- Se você não fosse decidida você estaria mais confusa sobre a Vanessa e o fato de estar “pintando” outra garota na sua.
- É…
- Fique tranqüila, maninha. Vai dar tudo certo conosco. Somos lindas… isso é o que é importante.
- Só você para me colocar para cima.
- Eu coloco onde você quiser, Lili.
- Olha… você é minha irmã.
- É uma pena… é uma pena.
***
Bruna
Lígia: - Eu não acredito no que vejo.
Lígia: - Eu não acredito no que vejo.
Bruna diz que ligará para Bárbara no dia seguinte e elas se despedem. Lígia tem os olhos vermelhos das lágrimas de raiva, que encharcam a sua face. Acabara de enxergar uma realidade, que não queria acreditar. Não podia ser verdade aquilo que seus olhos mostravam como a pura verdade. Sentiu como se estivesse sendo furtada de sua alegria. Lígia quer Bruna. Bruna quer ser feliz.
A estudante de administração entra no prédio com um sorriso aliviado. Ela conseguiria beijar outra que não era Cássia. Chamou o elevador, cumprimentou o porteiro, que lhe sorriu alegre. Sentia-se leve. Agora ela sabe que é capaz de esquecer aquele amor, que durara anos. Amor adolescente. Ela se sentiu mais mulher, decidida, desejada, inteligente e feliz. O elevador chega. Ela abre a porta. Uma senhora e seu filho saem de lá e sorri para a moça. Ela entra e antes de apertar o botão que corresponde ao seu andar, uma garota aos prantos abre a porta, que ainda não havia se fechado por completo. Esta garota é Lígia.
- Por quê?
E o silêncio assustado de Bruna reina por poucos segundos.
- Diga. Por quê? Eu vi você com outra.
- Eu que pergunto. Pra que isso? Você está louca?
- Eu te amo. Você ainda não entendeu isso?
- Você era minha amiga, mas me traiu. Você teve coragem de ficar com a garota que eu amo.
- Eu só estava lutando com as armas que eu tinha para poder lhe ter. Eu sempre te amei. Não quero te perder.
- Você é completamente insana, menina. Eu imagino o que você tenha visto, mas aquilo é sem importância e mesmo tivesse você não tem como interferir em nada, Lígia. Você não faz mais parte de minha vida.
- Não fala isso. Eu amo você, porra. O que você quer que eu faça para ter o seu perdão?
- Esse é o meu andar. Deixa-me ir embora. Vai para sua casa e dorme. Tente se acalmar e me dá um tempo. Dia desses, quem sabe a gente conversa.
- Bru…
- Fala…
- Não se esqueça de mim.
A porta do elevador se fecha.
-… nem se eu quisesse… nem se eu quisesse.
Bruna entra em casa e cumprimenta os pais e o irmão, que quer saber de tudo. Davi sempre foi curioso. A irmã vai ao banheiro lavar as mãos e o caçula a acompanha. Ela o olha e diz que foi tudo ótimo até encontrar com a Lígia no prédio.
- Essa menina é louca.
- Eu sei. Mas, hoje, eu quase acreditei nela. Deu até pena. E se ela me amar de verdade?
- Ela não teria feito o que fez com você. Trair e depois te expor. Essa menina é doente, galinha, safada. Todo mundo sabe da fama dela.
- Ela chorou.
- Não vai cair na dela…
- Não! Mas…
- A Cássia perguntou de você.
- O que ela quis saber?
- Se você estava mais calma. Se havia saído e com quem.
- A fofoqueira da Diana deve ter dito algo para ela. Ela me viu saindo.
- Deve ter sido isso mesmo, pois eu nem havia dito se sim ou não se você tinha saído e ela já perguntou com quem. E do jeito que a Diana é deve ter dito tudo. Altura da menina, a roupa, sapatos. Tudo.
- E eu não duvido. Diana incomoda com isso.
- E você vai continuar a sair com essa menina?
- Eu não sei. Sabe… foi legal ficar com outra menina, conhecer alguém novo, ela é bonita, interessante. Mas ela tem nada a ver comigo.
- Mana, também, não é? Você dificulta demais as coisas. Quer sempre a pessoa certa. Não existe a pessoa certa e sim o que encaixa melhor.
- Não é achar a pessoa certa, mas ter alguém que converse comigo às vezes. Alguém que tenha um conhecimento, que assista jornal, que goste de ler…
- Você não quer uma namorada, quer um clone. E clones podem enjoar. O legal às vezes do relacionamento é aquela briguinha por ter algo diferente, para depois fazer as pazes.
- David, você já namorou para dizer essas coisas?
- Prefiro não abrir a minha vida pessoal nesse instante.
- Eu sou sua irmã.
- Depois a gente fala de mim. Quero saber de você.
- Sabe, eu estava pensando. Às vezes eu acho que devo perdoar, porque dói muito mais não ter elas por perto do que a situação. Sabe, eu as amo de verdade. Mas… ah… irmão… eu não sei. Estou confusa. Tem momentos que eu tenho raiva, outros momentos que eu tenho pena. Mas de verdade eu sei que eu amo.
***
Monise
Um universo estranho sugava aquela menina. Com seus planetas, meteoros, estrelas e buracos negros. Ela se partia em bilhões e se perdia pelo o espaço. Tudo sem sentido. Perdido. Exausto. Um universo deprimido. Os sentidos eram sem nexo. Estava sozinha em cada parte de seus bilhões. Desfragmentada. Despetalada. Sem rumo. Sem sorriso. Mundos ainda mais distantes a convidava para dançar. Mas a sua resposta era sempre apática. Ela se perdia na imensidão. Esse universo tem o seu nome, seus olhos. O buraco negro parecia querer levá-la de vez. Mas sempre tem um Sol. Às vezes nem é tão amarelo como em desenhos infantis. Parecia esbranquiçado, acinzentado, apagado. Era mais feio que um sol de inverno em uma cidade cinza.
Um universo estranho sugava aquela menina. Com seus planetas, meteoros, estrelas e buracos negros. Ela se partia em bilhões e se perdia pelo o espaço. Tudo sem sentido. Perdido. Exausto. Um universo deprimido. Os sentidos eram sem nexo. Estava sozinha em cada parte de seus bilhões. Desfragmentada. Despetalada. Sem rumo. Sem sorriso. Mundos ainda mais distantes a convidava para dançar. Mas a sua resposta era sempre apática. Ela se perdia na imensidão. Esse universo tem o seu nome, seus olhos. O buraco negro parecia querer levá-la de vez. Mas sempre tem um Sol. Às vezes nem é tão amarelo como em desenhos infantis. Parecia esbranquiçado, acinzentado, apagado. Era mais feio que um sol de inverno em uma cidade cinza.
Uma estrela gigante quis se aproximar e iluminar aqueles planetas gelados. Uma estrela que vinha de outro universo.
Ela se levanta, liga o computador. É uma espécie de refúgio para os mais solitários. Na internet se encontra com pessoas com diversos problemas com diversos problemas e soluções. Moças alegres, tristes, românticas, carentes, drogadas, ativas, passivas, loucas, inconseqüentes. Também tem aquelas que reúnem todos esses aspectos. Monise usa o apelido de “Menina do dia”. Ela queria ser o dia, uma manhã ensolarada, porém, era sempre noite nublada com chuva fina.
Ela queria dizer algo para alguém. O que? Quem? Ela queria ler alguma palavra que mudasse tudo aquilo que sente. Parece tudo vazio. As pessoas parecem vazias. Uma “amiga de internet” chorava, pois sua namorada beijou outra em sua frente. Por quê? As pessoas às vezes podem ter atitudes cruéis sem motivo algum. O desejo virou desculpa para todas as atitudes que violam os sentimentos. Há os que querem ambos. E outras não enxergam sentido na paixão. Sentir algo de bom por alguém parece ser tão complicado, que muitos e muitas decidem fugir dos olhos úmidos, frio na barriga e uma imensa vontade de gritar sorrindo sobre o seu amor. Monise quer sentir, mas o medo a domina, que a congela, esfria, endurece. A menina do outro lado do computador diz a Monise para ela nunca passar pelo o que está passando. Ter cuidado com as pessoas, pois às vezes os gestos mais delicados são os mais cruéis. Um beijo saiu pior que uma bala no coração. Monise lhe diz:
- Talvez, o melhor é não sentir.
A “Menina do dia”, que ama a escuridão, começa a ouvir canções que parecem quebrar ainda mais sua alma de cristal. E fica imaginando em sua mente torturada os motivos que podem levar os seres humanos serem tão cruéis principalmente, com os mais inocentes, aqueles mais alegres e amorosos. Ela até lembra-se de algumas noticias de jornais, de quando morre alguma pessoa, algum jovem, aparece a família, amigos, amigas, namorado, namorada, padre, pastor, o raio que seja, mas sempre aparece alguém para dizer o quão bom era aquele ser humano que foi embora sem poder dar um misero tchau. A pior despedida é aquela que não existe. A pessoa se vai e você não pode dar um abraço, chorar em seus braços e dizer para um dia voltar. Você pode até querer dizer isso a um morto, mas não tem o mesmo gosto, pois não há o calor dos dois lados dos corpos, nem lágrimas daquele que foi.
A morte dói. A crueldade dói ainda mais. A falta de amor é o que parece está transformando o planeta
O que ela lera na internet tocou o coração marcado por feridas, ainda mais intensa, de Monise. Ela, justo ela que parece perdida, desencontrada, tenta buscar explicações das dores do mundo. Muita gente se diz sofrer por amor. Mas de verdade parece que sofrem por desamor. A falta de amor alheio. E se realmente a pessoa ama com o sentido literal da palavra, ela não vai sofrer, pois não vai deixar de amor. O problema do mundo é confundir paixão com amor.
Ela continua na internet buscando drogas alternativas para aquele fim de dia. E percebe em várias conversas como o ser humano pode ser fútil, cruel… Ela tenta se alegrar e encontra a cada segundo de sua vida um motivo ainda maior para deixar de acreditar no ser humano. Deixar de querer tentar mais uma vez viver nesse mundo. Mas a morte talvez não seja a melhor busca. Tentar melhorar o mundo? Só se todos morressem e nascessem com outra mentalidade, em outro planeta, com outra consciência. O coração, um músculo que apenas bombeia sangue, acaba por ser o nome símbolo de tudo. Quando amamos falamos que demos nosso coração. Quando nos desiludimos o pobre coração está quebrado. Congelamos o coração. Destruímos o coração. Vendemos o coração. Trocamos o coração por outros órgãos (o fígado, por exemplo). Mas na verdade o coração fica ao lado esquerdo do peito em todos esses insanos momentos batendo, levando o sangue para todos os demais órgãos. A culpa de amar não é do coração é do cérebro. Mas imagina alguém falando que deu seu cérebro para alguém? Pobre coração.
Após pensar sobre o coração, Monise dá uma risadinha. Ela chegou a falar isso em um chat que ela tem no seu computador. Uma forma de conversar com várias pessoas ao mesmo tempo. Lá ela lê de tudo, vê de tudo e acredita em praticamente em nada. “É engraçado como as pessoas gostam de criar mascaras quando estão na internet. Duvido que as pessoas sejam o que fingem ser”, Pensa a “Menina do dia”.
A noite vem ficando mais escura e fria dentro daquele quarto. O sono parece estar distante. O mundo parece distante. É como se ela estivesse em uma ilha deserta. Longe suficiente de tudo, até da vida, a sua própria.
Menina do dia diz:
Se eu for dormir, não vou conseguir. Meus olhos se fecham, mas é como estivesse sempre vendo a luz do dia, queimando meus olhos, por isso Menina do dia. Pois toda hora parece uma manhã que corrói meu olhar solitário.