sábado, 26 de fevereiro de 2011

22º capítulo – cotidiano matinal

Catherine

        Estava já em casa. Tudo deu errado ou tudo deu certo? Ela pensou. O que havia planejado não deu certo. Mas ela conseguiu o dinheiro que precisava. Isso era uma aflição a menos. Mas realmente ficou muito revoltada com a Alicia. Ninguém nunca havia feito isso com ela. Dar um bolo daquele jeito? Não tem como isso acontecer.

        - Essa garota está brincando com fogo.

        Depois de anos era a primeira vez que Cat estava indo para a cama sozinha. E teve medo de seus monstros. De seus pensamentos. As lembranças ruins vieram todos. O seu passado. A morte de Carla. Tudo a atormentava. E o sono não vinha. E tudo ficando claro. Os carros passando na rua. As pessoas falando. E ela ali na cama. Jogada. Sem atitude tomar.

        Desiste de dormir. Toma um banho frio. Sai para o mercado. Precisa comprar algumas coisas. Precisa comer. Beber. Compra o necessário. E lógico, uma garrafa de vodka. A sua melhor e fiel amiga. Que nunca a deixa. Ou melhor, deixa, quando ela toma tudo. Mas isso não é problema, desde que o dinheiro para comprar outra garrafa esteja ali com ela.

        Andando ali no mercado ela fica com sono. Quase cai. Mas continua a andar para pegar tudo que precisava. E ela vai para a fila. Estava enorme. Ela parece um zumbi. E quando menos espera estava ali, dormindo em pé. Quando é a vez dela na fila (sim, de alguma forma ela andava junto com a fila), ela não tem noção disso. Quando uma voz a chama. Uma voz doce e meiga. Ela acorda e quase beija a dona da voz. Era uma antiga aluna dela na escola de música.

        - Hey Cat. Dormindo. Acorda se não será atropelada por carrinhos de supermercado.

        - Você me chamando. Eu pensei que tinha morrido e ido para o céu sem querer e um anjo me chamou para eu me tocar do meu lugar.

        - Anjo? Você não sabe nada, sua linda. Estou mais para uma diabinha.

        - Obrigada. Deixa-me pagar essas compras. Mas a gente podia se encontrar dia desses. Você tem mais de dezoito anos, não é?

        - Você sempre me fez rir. Fiz dezoito ontem.

        - Então, vamos comemorar.

        - Lógico. Quer ir a um barzinho hoje?

        - Sim. Qual?

        - Eu passo em sua casa e depois a gente vê.

        - Ótima idéia. Aqui. Este cartão tem meu endereço e telefone. Vai lá em minha casa. A gente pode tocar um violão também. Cantar.

        - Eu não fiz nada de muito bom ontem. Eu posso chamar uma galera para ir à sua casa e a gente faz algo legal lá. Falo pra cada um levar uma bebida, ou algo pra comer. Topa?

        - Você estando lá, lógico que concordo. Só que sem menores.

        - Pode deixar. Criança nenhuma vai estar lá.

        Catherine paga as compras. E vai embora. Tem que arrumar a casa e o quarto para receber as pessoas. Ainda bem que foi fazer compras hoje.

***

Alicia

        Alicia acordou e não sabia onde estava. Ela havia bebido demais. Deve ter transado com alguém. Mas não viu ainda a pessoa. Bem, não era um motel. Pelo menos não parecia. Parecia um apartamento. Estava seminua debaixo de lençóis. Ela torcia para ser uma pessoa conhecida. Ou melhor, uma pessoa linda.

        Ela começa a ouvir passos. Talvez uma tosse. Grave demais. Ela começa a se preocupar que pode ser alguém do sexo masculino. Ela começa a tremer. E de torcida, começa a rezar baixinho. Vai que ela ouviu errado. Ou é no apartamento de cima. Quando chega ali no quarto ele com o café da manhã.

        - Marco???

        - Desculpe. Não queria te acordar. Trouxe o café para você. Estava tão apagada ontem quando te encontrei.

        - O que aconteceu?

        - Te encontrei bêbada, apagada em uma mesa de bar. Paguei a conta. Peguei você e te trouxe pra cá. Coloquei você na cama. Fique tranqüila. Não aconteceu nada. Eu dormi na sala.

        - Eu não sei como aconteceu.

        - Alguém deve ter tentado te drogar. Mas eu devo ter chego antes.

        - Eu não me lembro de quase nada. Sei que sentei em um bar. Pedi uma cerveja. Tomei. Pedi a segunda e depois disso não lembro.

        - Pois é. Devem ter te drogado. Ainda bem que cheguei a tempo.

        - Você está falando a verdade, não é?

        - Pode notar que eu não toquei em você. Você que tirou suas próprias roupas. Fiquei super sem graça. Mas sinta a sua vagina. Eu não transei com você.

        - Acredito em você. Antes de eu ir para a rua já havia transado com a minha ex. Notei que parece que realmente só havia transado com ela. Mais ninguém.

        - Aqui. Eu trouxe café para você. Suco. Torrada. E essas coisas que mulher gosta de comer. Patê e tudo mais.

        - Se eu fosse hetero, casava com você. Até café na cama traz.

        - Se você fosse hetero com certeza estaria debaixo dos lençóis com você.

        - E não seria ruim. Você é bonito. E naquela vez que quase aconteceu eu fiquei morrendo de vontade. Imagina se eu fosse hetero.

        - Pois é.

        Marco levou o café para a moça que o tomou conversando com ele. Depois ele saiu do quarto para ela poder se vestir. Ela agradeceu por tudo e foi para seu apartamento. Mas que isso tudo foi estranho, sim, foi muito estranho.

***

Bruna

        Era um novo dia. Bruna acordou era onze e meia da manhã. Estava alegre. A noite passada foi bem divertida. Amigos. Música. Bebida. Ela pensa que precisa disso todos os dias. A felicidade está escondida dentro de instantes, segundos, risadas, uma dose de amizade. Estava com a ressaca mais divertida de sua vida. A dor de cabeça e enjôo não a faz desanimar. Um bom banho, um analgésico e muita água é a solução para os maus do dia seguinte.

        O dia estava lindo lá fora. Um belo Sol. Pessoas na praia. Mas e a coragem de sair de casa? A vontade de não ver o Sol era maior do que ela. A vontade é só de nada fazer. Ou ouvir um som. Algo bem preguiçoso, digno de um domingo após um sábado maravilhoso.

        Ela não quer almoçar. O estomago está muito ruim para isso. Toma mais água. Faz uma saladinha depois e este é seu almoço e café da manhã. Depois para adoçar a boca, uma barrinha de cereais.

        Bruna resolve ligar para Marcelo. Quer ver o que perdeu com a Beatriz, a loirinha que ficou dando em cima dela. O amigo riu muito quando a Bruna liga.

        - Nuninha, estava falando de você nesse instante.

        - Bem ou mal e com quem?

        - Bem e com a Bia.

        - Nossa. Eu liguei para você para perguntar dela mesmo. Eu sou tão lerda. E namorei tanto a mesma mulher que não sei reparar quando alguém está querendo chegar em mim. O Rodrigo que me falou depois. É verdade?

        - Benhê, se não fosse mais do que verdade, ela não estaria aqui falando de você o tempo inteiro.

        - Pede desculpa para ela. Eu sou muito desorientada nesse quesito.

        - Imaginei. Vem aqui em casa. Daí quem sabe?

        - Pode ser. Estou ruim de ressaca.

        - Então, vem aqui que você bebe mais e acaba com a ressaca.

        - Tentador. Mulher, amigo gay e bebida. É se eu disser que não será até feio. Vou aí daqui a pouco então.

        - Isso mesmo gata. Vou falar para a Bia que hoje ela beija na boca.

        - Pode falar que estou chegando. Beijos.

        - Beijos.

        Eles desligam e ela vai se arrumar para ir à casa do amigo, que não fica muito distante dali. Ela está ansiosa. Ficar com outra garota. Mulher sempre é interessante para quem gosta.

***

Monise

        Acorda irritada ainda com a conversa de seu amigo (nem tanto, agora) Fred. Amigo tem que um apoiar o outro. E ele não a apóia. Não quis ficar ali para segurar a mão dela quando mais precisou. Quer apenas cobrar dela uma atitude que não pode ter sozinha.

        Amigo que é amigo não é aquele que separa briga, e sim aquele que chega de voadora. E ele apenas se ausentou. Ficou distante. E quando pode cobrou e cobrou. Ela sente falta da amizade, porém a raiva que está dele a faz querer evitar completamente estar próxima dele.

        Monise busca o que fazer. O que querer. Mas a busca nem sempre é realmente o que deseja. Talvez mesmo que você encontre respostas para tudo que queira. Você decide pelo o vazio. O nada. Eles acabam muito menos assustadores do que realmente você precisa fazer.

        Monise anda pela a casa. Apenas anda feito um fantasma de dias ensolarados. Seus pais notam que a alegria de ontem parece ter passado. A mãe tenta falar com ela.

        - Filha. Vamos depois ao shopping? Daí nós podemos tomar alguma coisa. Ver umas roupas novas para você. E se quiser até um novo skate.

        - Hoje não mãe. Estou de péssimo humor. Seria uma má companhia. Se quiser sair com o papai, não acharei ruim ficar sozinha. Acho que seria melhor até para vocês.

        - O que aconteceu?

        - Não quero falar disso.

        Monise continua nessa. Cozinha, sala, quarto, banheiro. Banheiro, quarto, sala, cozinha, geladeira. Água, vinho, licor. Coca-cola, rum, energético. E pega o jornal, tenta ler, desiste. Liga o computador, resolve conversar com alguém, mas nada interessante e logo fica offline. Abre a janela, se incomoda com a felicidade da cidade. Fecha e fecha a cortina. E continua a andar.

        Os pais não sabem o que fazer. Ficam preocupados, mas não querem enfrentar. Tem medo de ser pior. A mãe já tem lágrimas nos olhos e o pai o telefone da terapeuta. Ligar e perguntar o que fazer? Ou chorar? Ou tentar? Ou apenas abraçar a filha que está inquieta? Eles ligam para a terapeuta que fala para levar a menina no dia seguinte.

        Monise continua inquieta. Continua com raiva. Continua triste. Continua… o mais importante é sempre continuar. Nunca parar.

***

Luciana

        Luciana acorda, mas quer dormir de novo. Tem que correr na praia. Mas também quer ficar na cama. Ela olha e vê ao seu lado a amiga que acabou dormindo por lá mesmo. Bárbara chega a roncar. Luciana coloca o travesseiro em cima do rosto. Quer levantar. Mas e a vontade de não levantar?

        Ela resolve sair da cama. A vontade de fazer xixi foi mais forte que a preguiça. E uma coisa desencadeia outra. Acaba escovando os dentes, tomando banho. Acaba por acordar e pensar em comer alguma coisa. E pensa em sair. E tem que acordar a Bárbara.

        Babi é uma menina que dorme muito e pesado. Nem se o prédio desabasse e abrisse um buraco naquele lugar do Rio de Janeiro, ela acordaria. E Lu descobre isso depois de tentar acordar. E jogar água e apelar para o gelo. Colocando-o dentro de suas calças. A amiga acorda gritando.

        - Vai tomar no cu, Luciana. Que isso? Quer me acordar, me come.

        - Eu quero sair para correr. Não posso te deixar aí dormindo.

        - Pode sim. Me deixa dormir. Depois que você chegar eu dou banho em você, filhinha.

        - Levanta, Babi. Vem comigo. Preciso de alguém para me segurar se eu quiser fazer merda.

        - A praia inteira te conhece. Monte de mulher para te segurar.

        - Você ainda não entendeu, que estou com muitas coisas na cabeça?

        - Quem tem coisas na cabeça é o Gustavo. Os chifres que você coloca nele.

        - Eu preciso de um amor. Paixão é bom, mas passa. E eu sei que não tenho mais nada de amor de mulher pelo o Gustavo. Parece que eu transo com um irmão.

        - Que nojo, Lu.

        - Sério.

        - Quer falar sério? Você está precisando é sair. Se divertir. Beber todas com todas os sapatões. Comer a professora. Sossegar.

        - Será que consigo?

        - O que?

        - Sossegar?

        - Difícil, mas quem sabe algum século?

        - Você é uma comedia. Sua vadia. Eu te amo.

        - Também te amo, sua sapatão linda.

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falta de tempo = capítulo curto.
beijos

sábado, 19 de fevereiro de 2011

21º capítulo – e a noite é do sábado

Catherine

        Cat estava ali. Ansiosa a espera de sua tão aguardada carona. Olhava o relógio inúmeras vezes. Andava de um lado para o outro. Pegava um antigo violão e tirava um som. E nada. Elas haviam marcado as vinte e uma horas.  Já se passava dez minutos e nada.

- Será que é o trânsito?

E o tempo passava. Cada segundo com fração de horas. Ela olhava o relógio de segundo em segundo. A ansiedade e a preocupação tomavam conta de seus pensamentos.

- Será que aconteceu algo com ela? Será que devo ligar?

Já era 21h30min. E nada. Nada. Nada. Meia hora de atraso já é preocupante. Principalmente que ela tem que chegar ao lugar, montar o equipamento e passar o som. Estava esperando a Alicia pela a carona, pois se ela não tivesse dito que faria isso, iria arranjar com algum camarada. Agora em cima da hora seria complicado. Sem carro e com pouco dinheiro para pegar um taxi.

Seus pés não paravam de se mexer. Estava a roer as unhas. O nervoso e estresse estavam lhe subindo a cabeça. Onde estaria essa garota? Onde? O relógio não ficava com seus ponteiros parados, corriam feito atletas.

- Vou ligar para a casa dela para ver se ela saiu.

O telefone tocava, tocava e nada. Caía sempre na caixa postal. Será que ela já saiu e aconteceu algo? Pelo menos uma ligação para dar uma justificativa. Qualquer coisa. Dizer que uma nave espacial a seqüestrou. Dizer que foi para outra dimensão. Ou talvez inventar que o Triângulo das Bermudas trocou de lugar e está na Zona Sul do Rio de Janeiro. Já faltavam vinte minutos para as 22h. Não dava mais para esperar.

- Não se pode querer nada de uma mulher bonita, que não seja suas genitálias.


Ela resolve correr e ir de ônibus. Pega o violão. Resolve deixar a guitarra em casa. Pega o amplificador, o microfone e o suporte deste. Vai correndo com muitas coisas na mão até a parada de ônibus, que pudesse a levar até a Lapa. Preocupada com o horário. Com raiva por ter ficado toda derretida por alguém, que a deu um bolo. Isso nunca tinha acontecido antes.

Nada do ônibus chegar. Quando mais pressa você tem, menos as coisas dão certo para você. Para piorar tudo, uma poça de água estava perto do ponto de ônibus e um carro passa em alta velocidade jogando água em quem estava lá. Pois é, na Catherine. Ela estava já irritada, atrasada, chateada. Não sabia o que fazer. Molhada, suja, atrasada e com muitas coisas na mão. Com medo de ter estragado alguma coisa.

O ônibus chega, ela entra, tem dificuldade em pegar o dinheiro para dar ao motorista, a fila atrás dela começa a reclamar da demora. Um senhor se oferece para ajudar a moça a segurar o amplificador. Ela consegue pegar a carteira e pagar a passagem. Agradece ao senhor e ele falou que era um prazer ajudar a quem um dia fará muito sucesso. Poderá dizer que a ajudou no ônibus. Ela sorriu. Sentou ao lado do senhor no ônibus e foram conversando até o ponto dela.

Ela saiu, foi correndo até o bar, onde iria tocar. Cansada, irritada, suja, molhada, com medo de ter estragado alguma coisa, Catherine chega lá e dá de cara com o dono do bar irritado com a demora.


- Eu não falei para você estar aqui as 21h?

- Desculpe-me senhor, tive problemas com minha carona.

- Por que todo músico é mal educado? Não tem noção de tempo? Vocês sempre chegam atrasados. Parecem que todos são ricos e não precisam comer. Só pode.

- Desculpe-me, isso não irá mais acontecer.

- Não vai mesmo. Já chamei um DJ. Está ali montando o equipamento dele. Não é hoje que você vai tocar aqui. Aliás, nunca mais você tocará aqui. Nem que me pague.

Cat sai ainda mais irritada, com tudo que estava na mão, sem dinheiro que precisava para pagar algumas contas. Molhada, suja com equipamentos na mão. Vai até os Arcos da Lapa, senta ali e tenta vê se o amplificador está bom. Ele funciona a bateria. Liga o violão e começa a tocar. Sim, está funcionando. Um problema a menos. E começa a ficar ali, tocando algumas musicas. Até que ela nota algo engraçado, muitas pessoas estão ao seu redor. Ela pega e liga o microfone, se levanta e começa a tocar e a cantar.

Um rapaz que estava por ali, com um pandeiro, chega e começa a fazer a percussão para a cantora. Eles começam a entrar no bom e velho samba. As pessoas em volta começam a dançar e é o lugar que mais bomba na Lapa inteira. Quem trabalha por ali vendendo bebidas começa a faturar ainda mais. Ninguém quer entrar nos bares, o som está perfeito e a bebida gelada. Um cavaquinho entra no meio da brincadeira. Muitas pessoas, principalmente os turistas, resolvem dar valiosas notas para aqueles três desconhecidos, mas que naquele momento começaram a serem os músicos da Lapa. Nunca se viram, mas a linguagem da boa musica fala em notas afinadas.

Fazem um passeio entre o pagode do Exaltassamba, Martinho da Vila, Cartola, Luiz Melodia, dentre outros músicos que fazem sucesso entre a rapaziada. E pedem mais musicas e a Catherine com um repertório grande sempre sabe o que fazer ou como tocar. Quando tem um lapso de memória, tenta acompanhar os meninos que tocam com ela.

A noite que parecia perdida tomou novo rumo. Ainda suja, menos molhada, mas parecia que iria ter dinheiro para as contas e quem sabe alguém para dormir com ela essa noite.


***

Alicia

        Alicia nota um pequeno problema, ela ainda amava a Vanessa. Ela se entrega aquele amor e desejo. E as duas nuas em sua casa fazem amor sem lembrar de mais nada. O tempo parecia eterno enquanto se entregava aos braços de sua ex-namorada. Sentia-se como nunca tivessem se separado. Deliciavam-se uma do corpo da outra. Da pele delicada, do toque profundo, do gemido encantador.

        Era sufocante o calor que emanava daquelas almas amantes. Era tão doce aquele momento. Tão maravilhoso. Alicia não cansava de dizer que amava Vanessa e essa não cansava de sorrir e fazer a outra gozar. Era ali a paixão e o desejo. Cada qual encarnado em um corpo. Cada corpo se jogando na profundidade do que realmente são e o que querem. A delicadeza sentimental de Alicia não conseguia ajudá-la a ver o que realmente acontecia naquele local. Ela ama a pessoa que só quer transar.

        Vanessa não terminou com o namorado. Mas se entende como bissexual. E a sua dúvida, antes de terminar com Alicia, era com qual dos dois sexos sente amor e por qual sente desejo. Ela ama amar seu homem e tem prazer com a Alicia. Mas a artista plástica ainda não sabe disso. Não entende isso. Só sabe que está ali com a mulher que ama.

        Alicia esconde, mas toda noite derramava alguma lágrima de saudade de sua ex-namorada. Sempre ficava com alguém pensando que pudesse ser aquela dona da paixão dela. Até mesmo quando marcou com a Catherine… Catherine?

        Por um segundo Alicia lembrou o que havia marcado. Já era 22h. Perdeu-se no tempo. E ainda estava perdida. Perdida de paixão. A paixão não nos deixa cegos e sim com algum problema mental sério e, quando acaba a paixão, demoramos ainda para nos recuperar. Talvez nunca nos recuperamos.

        Vanessa não parava. Nunca. Alicia já estava começando a ficar exausta. Mas a outra não queria parar de ouvir aquele gemido. Queria gravar ele na memória para não sentir mais saudade. Queria gravar aquela pele na sua para não precisar voltar mais naquele apartamento. Deseja ser apenas heterossexual, mas seu desejo por mulheres era imenso.

        Alicia já estava pedindo para parar. Cansada. Falando que não iria conseguir andar uns dois dias. A amante apenas olha o relógio. E diz que ainda tem mais algum tempo. Alicia não prestou atenção na questão do tempo, na qual Vanessa se referiu. Estava cansada. Seu corpo mole não conseguia ter mais nenhuma atitude. Sempre que goza mais de duas vezes fica assim.

        Após meia hora, a estudante de publicidade, respirou e parou. Foi ao banheiro, tomou um banho, se vestiu. Deu um beijo na testa de Alicia, que estava deitada no sofá. Mole, sem reação, a não ser apenas olhar a mulher dos cabelos compridos. Vanessa falou que precisa voltar para o seu namorado. Que sempre é bom transar com a artista plástica, mas que o lugar dela é ao lado de João Pedro.

        Alicia tenta falar algo. Seu olhar está cheio de lágrimas e não entende nada. Foi usada? Mais uma vez? Por quê? Mas as perguntas não saem. Só as lágrimas. Ela até levanta, mas é só para fechar a porta, que Vanessa deixou aberta.

        Agora triste, desapontada, abandonada, mais uma vez. Estava entre a tristeza e raiva. Entre falar nunca mais e o “volte, por favor.”. Fica ali, junto a porta pensando no que fez. E lembra que tinha marcado com a Catherine. Corre para seu telefone e vê que recebeu uma ligação dela cerca de uma hora atrás. Coloca a mão nos olhos e vê o erro que cometeu. É incrível como a pessoa que nós amamos pode fazer de tudo conosco. E sempre deixamos que isso aconteça.
       
        Não sabe o que fazer. Se deveria ligar para a Cat.

- Essa hora ela deve estar se apresentando e me odiando. Dei um bolo na garota. Que burra que eu sou.

Foi usada. Usada por quem ela ama. Por que quando estamos apaixonados somos tão tolos? Alicia anda de um lado para o outro se perguntando. Pesquisando na sua mente uma saída. Qualquer uma. Até mesmo voar pela janela. Ops… ela não é um personagem de desenho animado. Ela só queria poder esquecer a Vanessa. Queria ter raiva dela. Transformar tudo isso em o contrario. Todo amor virar ódio ou indiferença. Se for tão forte e grande quanto o amor que tem no peito, Vanessa seria morta em seus pensamentos em instantes.

Ela vai até a geladeira. Abre e pega água. Bebe. Não adianta. E resolve sair de casa. Dar uma volta. Tomar uma cerveja, uma cachaça, uma dose de gim. Qualquer coisa em qualquer lugar. Ela tem raiva de Vanessa, mas no instante mais dela mesma.

***

Bruna


Chegaram de carro na Lapa. Tiveram muita dificuldade para estacionar. Deixaram o carro em um lugar bem distante de lá e foram a pé bom pedaço do caminho. Era mais fácil se tivessem pegado um taxi. Mas já estavam ali, a pé, conversando, rindo, desfazendo planos. Fazer planos nunca dar certo, melhor acabar com todos eles.

Param em um lugar para comer uma porção de batata fritas e tomar já as cervejas. Começam a conversar sentados na parte externa de um bar. Eles falam basicamente dos assuntos que uma lésbica e um homem hetero têm em comum: mulher e futebol.

Começaram a falar do campeonato brasileiro, dos seus times. Falaram de outros times. A falar sobre determinados jogadores. Quais que gostariam de ver em seus times. Riam, bebiam, comiam mais batatas. Encontravam pessoas conhecidas, que se sentavam à mesa com eles. Conversavam e riam ainda mais. A mesa já estava com oito pessoas de vários sexos e orientações sexuais.

Um amigo gay deles, o Marcelo, sugeriu que eles bebessem mais algumas e saíssem de lá. Ouviu falar que tinha uma galera tocando perto dos arcos e que havia muita gente lá ouvindo e curtindo. Todas as demais pessoas concordaram. Andar por aí e ouvir boa musica e se embebedando pode ser bastante lucrativo em uma Lapa lotada. Tomam as ultimas três garrafas de cerveja, dividem a conta e a pagam.

Saem conversando, rindo. Marcelo dando pinta, falando que está solteiro e a procura. Bruna fala que está da mesma forma, o que aguça o olhar de Beatriz, que é lésbica, mas tem medo de sair do armário. Mas aquela noite parece que vai acabar se liberando, pois a Bruna está tão linda. Beatriz tem baixa estatura, cabelos loiros, olhos cor de mel, quase verdes. Adora pegar uma praia. Veio para a Lapa com o Marcelo, que é amiga de Bruna da época da escola. Junto com eles também está Renan, amigo de Rodrigo. Um mulato magro e alto. Cerca de um metro e noventa de altura. Tinha ali com eles o casal Tatiana e Faber. E mais o Carlos, primo de Rodrigo. Praticamente uma gangue.


Chegando ao local referido, estava realmente lotado. Nunca se vira aquilo perto dos arcos. Lotado, muita gente bebendo suas latas. Pessoas com garrafas de uísque. Rindo, alguns dançando, outros cantando e curtindo o som. Bruna dá um grito com um sorriso ao ver quem está ali tocando.

- Eu conheço essa garota. Caraca. Ela é realmente foda. Que voz incrível. Ela tocando ali com os caras. Nossa. Terei que falar com ela.

Beatriz fica até triste. Achando que perdeu a chance. Não sabe se chega e beija, se pede um beijo, se dança junto. Ou se apenas faz de conta que não a quer. A vontade está cada vez maior. Mais intensa. Que a faz se aproximar de Bruna e faz de conta que nada sabe. A Bruna está curtindo a música. Ainda não reparou no interesse da menina loira.

Bruna chega bem perto, o tanto para Catherine a reconhecer. E no intervalo de uma música para a outra, a estudante de administração cumprimenta a cantora, que lhe pede um favor.

- Traz água para mim, por favor.

Bruna traz uma garrafa de água vendida por ambulantes, que ali estavam. Cat bebe a água quase que em uma só golada. Vendo a sede da artista, resolve comprar mais água para ela e os rapazes que ali tocavam. Divertia-se e conversava com os amigos. Muitas pessoas ali ainda davam dinheiro aos músicos que fazia daquela noite a melhor de suas vidas.

Já passava das quatro horas da manhã. Estavam todos ficando um pouco cansados e famintos. Até os músicos, que agradeceram a todos, pegaram o dinheiro, dividiram igualmente e foram embora. Catherine estava a pegar seu equipamento pesado, quando Bruna falou.

- Quer carona?

- Vou aceitar. Está pesado demais. Minha carona me deu um bolo, vim de ônibus para aqui.

- Então vem. A gente te deixa em casa. Só dizer onde é.

Nisso Rodrigo e Renan, os únicos homens que ainda estavam do grupo ajudaram a moça a carregar. Marcelo, Beatriz, Tatiana, Faber e Carlos já haviam ido embora.

Foram a pé até o local onde estava o carro de Rodrigo. O primeiro a ser deixado em casa foi o Renan. Depois, após muito procurar, Catherine foi deixada em seu apartamento. Rodrigo e Bruna ainda ajudaram a moça a levar os equipamentos até o apartamento. Onde ainda ficaram um tempo lá. Resolveram os três saírem para comer.

Foram em uma pizzaria. Tomaram mais algumas cervejas. Voltaram e deixaram novamente Catherine em casa. E foram para o prédio onde os dois residem.

- Eu acho que nunca tive uma noite tão incrível como essa. Você é o melhor amigo, que uma sapa como eu poderia ter.

- Que isso. É bom falar com uma mulher sem frescura e que entende de futebol. Dia desses a gente sai para caçar umas mulheres.

- Com certeza. É muito divertido sair com você.

- Uma coisa. Por que você não ficou com aquela menina loira?

- Quem?

- A loirinha. Toda se querendo para você. A Beatriz.

- A amiga do Marcelo?

- Essa mesma.

- Ela estava dando em cima? Nem reparei.

- Está precisando de treinamento.

- Eu sempre fiquei só com uma garota. Só namorei uma garota. É complicado. Até dia desses fiquei com uma menina, mas ela que chegou e tudo mais. Não sei cantar. Tenho dificuldade de reparar quando me querem. Sou maior lesada nesse quesito.

- Eu te ensino. Ou então a sua amiga do violão. Ela deve pegar mais mulher do que o Renan e eu juntos.

- Não duvido disso. Nem um pouco.

- Bem. Descansa. Boa noite.

- Obrigada por tudo novamente. Até mais.

Eles se cumprimentam com beijos no rosto e vão embora cada um para seu apartamento.


***

Monise


Estava contente. Fez o que não conseguia fazer há anos. Ela estava lutando contra a maldição, que seu coração havia se mergulhado. Sorria e respirava com tranqüilidade. E via o contentamento na qual deixara seus pais. Eles estavam tão felizes, que ela achava que o universo era pequeno do tamanho da felicidade, que eles estavam imersos. Não imaginava que iria dar isso a eles ainda um dia. A possibilidade do sorriso.

Quando ela chegou a casa foi tomar banho. Estava suada e um pouco cansada. Vivia em uma vida sedentária. Então, tudo aquilo a deixara exausta. O banho morno foi revigorante ao seu corpo. E a cama a chamava com voz tímida. Mas ela a ignorou. Sentou em frente ao seu computador. Queria conversar com seus amigos online.

Encontrou várias formas de fazer nada fazendo alguma coisa. Escutou diversas musicas conhecidas e desconhecidas. Riu, gargalhou e parou de sorrir inúmeras vezes. Conversava sobre tudo com esses amigos, que nunca viu. Era melhor do que suas seções de analise.

Quando entrou um amigo, que não era somente online há dois anos. Era Fred. O amigo que foi morar nos Estados Unidos. Ela ficou aflita. Pensando se deveria ou não puxar conversa. Sentiu saudade. Queria que ele falasse com ela, ficou sem jeito até que… ele falou “oi”.

- Oi Fred. Quanto tempo…

- Pois é. Sinto sua falta. Está bem?

- Descreva o que é estar bem.

- Ainda está de depressão?

- Eu não sei. Ultimamente ando me sentindo melhor. Hoje fui andar de skate.

- Foi? Como foi lá?

- Bem legal. Conheci umas pessoas bacanas lá. Deram-me uns toques. Acho que vou ver se vou sempre aos sábados.

- Fico feliz por você. Antes você não falava nada. Lembra quando aconteceu aquilo? Você não comia, não falava. Só chorava. Mas o que exatamente aconteceu naquela noite? Você já contou para alguém?

- Olha Fred, hoje estou muito alegre, não quero falar disso não. Ainda não estou preparada. E a resposta é não. Ainda ninguém sabe do que aconteceu.

- Uma garota some depois de estar contigo e você fica dois anos sem contar para ninguém o que aconteceu. Já pensou como deve estar os pais dela? Encontraram alguma coisa, você sabe?

- Até aonde eu saiba, não. Foi a pior coisa da minha vida.

- Com certeza para os pais deve ter sido horrível. Imagina não saber onde está a sua filha. Nem o corpo para enterrar.

- Pare de falar disso, Fred. Não quero falar nesse assunto.

- Você tem que falar. Eu sempre te vi online. Mas tinha te bloqueado.

- Por quê?

- Porque para mim é complicado entender essa sua atitude.

- Se você soubesse o que passou você entenderia.

- O que aconteceu? Para eu te entender e te ajudar.

- Não quero falar disso. Porra. Estou chorando. Você não sabe que isso me magoa, me machuca?

- Olha, enquanto você não tomar coragem  para contar para alguém o que aconteceu naquela noite, não tem como nos falarmos. Éramos amigos. Eu, você e ela.

- Ela era mais do que minha amiga e você sabe disso.

- E você é uma covarde. Acabou com tudo. Com a amizade, amor, tudo.

- Se você acha isso é problema seu. Não quero falar com você. Ainda não estou preparada.

- Não estará preparada nunca.

- Um dia eu estarei. Talvez. Mas me deixe ser feliz por um dia, por favor.

- Tudo bem. Quando estiver preparada e abrir o jogo e ajudar a  desvendar tudo o que aconteceu, você será bem vinda novamente a minha casa. E saiba, sinto muita a sua falta. Eu sofro todos os dias desde daquela noite.

- E você acha que eu me sinto como? Um dia eu vou lhe contar. É o que eu mais quero, mas toda vez que eu penso no que aconteceu eu só penso em morte. Na minha.

- Quando você estiver preparada pode contar comigo, saiba disso. Mas espero que não tenha que demorar uma vida inteira para isso. Uma vida precisa de você.

- Eu vou deitar. Esse assunto acabou com a minha noite.

- Boa noite. Eu te amo.

- Tchau.

Monise desligou com muita raiva de seu amigo distante. Deitou na cama e chorou. Chorava muito. Toda a cena que presenciou estava ali acontecendo de novo em sua mente, em seu peito cheio de tristeza. É complicado. Para quem vê de fora e para ela. Um dia ela irá se perdoar para poder contar a verdade. Enquanto isso, a verdade é o que a mata, cada instante um pouco.


***

Luciana

Depois que acabaram as delicias que engordam, na qual a Luciana deveria não comer nunca. Ela resolve beber. Os filmes começaram a perder o sentido. Bárbara e Luciana bebiam tudo que encontraram na casa da atleta. Gustavo havia cansado e tinha ido encontrar uns “camaradas” dele.

Luciana estava se sentindo estranha. Queria algo que não sabia. Treinava todos os dias, mas sentia que precisava de algo a mais. Alguma coisa a incomodava. Como fosse um inseto, que a mordesse a todo instante.

Quem nunca se sentiu uma tristeza, que entra e não sai de seu peito? Mesmo sem motivo real? Algo que está penetrado em uma parte de seu corpo. Luciana só queria fazer qualquer coisa para que essa tristeza, que ela nem sabia da onde vinha, se afastasse.

De verdade não é tristeza. É uma confusão. São as dúvidas da vida. O álcool vem para aliviar tudo isso. Ou para embaralhar ainda mais. Babi só assistia ao filme, ainda não notara o stress na qual a amiga estava imersa. Uma saudade que não tem como descrever. Saudade. Que sentimento é esse? Que palavra é essa que é tão nacional?

Não é do Gustavo. Ela pensa que talvez não ame mais o Gustavo. Talvez esteja acostumada com ele. Como um irmão que se beija na boca. Não sente mais a falta dele como no inicio do namoro. Não sente vontade de chamá-lo para todos os lugares que ela vai.

Ela sente vontade de ficar só com mulheres, mas tem medo. Medo do preconceito. Medo do universo inteiro. Medo de ser feliz. Medo dela mesma.

Quem tem medo não consegue ir adiante. Não consegue mover os mundos que sonha mover. A covardia é a forma de nos transformar em estatuas em nossas próprias vidas.

Ela toma mais um gole da mistureba que fez. Fala com a Bárbara que precisa de alguma coisa. E não sabe bem o que é.

- Se for gelo, pega para mim também.

- Acho que é algo mais quente.

- Se for pedir algo para comer pede um duplo.

- Eu preciso algo que me complete.

- Eu quero um sanduba desses também.

- Porra, preste atenção. Eu acho que está na hora de eu amar alguém.

- Eu também te amo. Esse filme está ótimo.

- Vou pedir uma pizza.

Depois de horas os filmes acabaram e as duas dormiram ali. Cada qual com seu viver.


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desculpem por eu ter escrito pouco na hora da Luciana. vários problemas. o que atrapalhou mais foi um ser verde que me atrapalhou. ai... ele tá aqui... socoorrooooooooooooooooo

sábado, 12 de fevereiro de 2011

20º capítulo – todo mundo espera alguma coisa...

Catherine

        Para pensativa. Sorri. Se sente quase voar. Algo que poucas vezes sentiu. Algo que em seu peito, nunca permitiu. Parecia que a presença da Alicia estava penetrando em sua mente e alma. Ela que é artista parece que nesse momento encontrou a sua musa, a sua inspiração.

        Ela sorri de contente. De feliz. Ah! O nome disso já é um eterno aumentativo: paixão. Enquanto o amor é o ar (sempre precisamos deste para viver), a paixão é a ventania. Bagunça seus cabelos, enche seus olhos de cisco, até lhe desorienta. Às vezes pode até virar um furacão e lhe levar tudo. E, no fim, você perceberá que mesmo com tanto movimento do ar, você não parou de respirar.

        São duas almas artísticas, diferentes, que se esbarram. Cat é mais rock n’ roll ao som de Led Zeppelin. Alicia é o fino da bossa. É o som refinado e encantador de Tom Jobim. É impossível não ser apaixonar por um dos dois.

        O encontro dessas duas moças tem ar de graça de contentamento. Coração disparado e mãos úmidas. Cat, que sempre fugiu deste sentido diferente, agora o sente feito flor. Se vicia nos pensamentos e desejos enlouquecidos. Sempre foi corpo agora é tão alma.

        Estava se sentindo cada vez mais próxima de tudo, que se distanciava desde que era adolescente. Desde que tinha sofrido por amor e por amar alguém que lhe foi proibida. Um amor que a fez ter que sair de casa e de cidade. Aprender a ser sozinha. Ser solitária. Ser até rude. Amar é um verbo com vários outros verbos embutidos. Mas também é um sentimento.

        Catherine não estava ainda amando uma pessoa, e sim uma idéia de amar. Ela mal conhece Alicia. Apenas a beijou. Como amar o que nem sabe o que é? Lógico que Cat já havia pensado nisso, mas a razão dela parecia ter fugido, sumido. Ela entrava a cada pensamento, mais no labirinto daquela paixão com sabor de sorvete de flocos.

        Estava, ali, escalando a barreira entre a vida de ter todas e ninguém para cair no caminho monogâmico sentimental. Subia uma escada para o paraíso. Se sentindo como um super-herói de sua própria existência. Se salvando na ultima hora. Se carregando nos braços.

        A música, sua paixão de vida, parecia ainda melhor com tanto universo em seu peito. Universo feminino. Um universo com uma grande estrela chamada de Alicia.

         O tempo estava passando. A noite já estava querendo piscar seus olhos. Cat se sentia mais preparada e nervosa do que em qualquer outra ocasião. Respirava fundo diversas vezes. Abria e fechava a geladeira, para pensar, a cada minuto. Pensou até em beber, mas desistiu. Queria estar sóbria, pelo menos naquela noite.


        - E a hora não passa.

        A ansiedade ia devorando as mãos de Cat. A vontade do perfeito ia complementando sua mente povoada pela artista plástica. Decidiu que iria cantar uma música para seu estranho amor. Bom, qual? “Beija eu” da Marisa Monte? “Você é linda” do Caetano Veloso? Na hora sai logo com o coração, desde que não seja brega.

       
        Cat foi tomar banho e se arrumar. No seu jeito, estava lindíssima. O cabelo levemente arrepiado com gel, para dar um ar mais moderno. Uma camisa que teve suas mangas rasgadas. Uma jaqueta por cima e uma boa e velha calça jeans. Sem maquiagem. Agora é só esperar sua princesa encantada chegar. A saudade já apertava sua garganta.


***

Alicia

        Seu rosto tinha um sorriso malicioso. Em sua pele uma forma de felina sagaz. Uma tigresa insaciável. Vendo as horas correndo como as ondas do mar, que ela via da vista de seu apartamento. Sentindo a brisa que tocava em sua pele. Adorava seu lar de frente para o mar. Aquele lugar mágico. Respirava a vida todos os dias. Via crianças brincar na areia. Senhores e senhoras fazendo suas caminhadas pelo calçadão. E os jovens e suas conversas e flertes.

        Hoje ela tinha apenas um plano: ser de Catherine. O resto não importava. Ela não tinha nenhum plano B. E para que o teria? Tudo certo. Tinha que estar linda, o que não era difícil para Alicia. Mesmo se vestisse de roupa feito de papel de pão, ainda brilharia em qualquer local que ela fosse. Sempre chama atenção com sua beleza. Ela decidiu que iria com um vestidinho. Mas não era hora de se vestir. Era apenas esperar o tempo passar pela janela de seu apartamento.

        Al, acabando de sair do banho, viu a irmã ali admirando a paisagem. E ainda a ouviu suspirar.

        - Alguém está apaixonada?

        - Hoje não é paixão. É apenas desejo. Curiosidade. Vontade.

        - Você ficou corna e mudou. Você era mais boazinha, romântica. Influencia da irmãzinha aqui?

        - Não. Vontade de deixar meus instintos tomarem conta de mim. Apenas isso.

        - Vai sair hoje?

        - Vou.

        - Também. De verdade vou viajar com uma galera lá para Cabo Frio. Quer ir?

        - Não. Vou para a Lapa.

        - Hummm… Nunca te imaginei lá. Você é tão burguesinha. Vai lá ver alguém?

        - Vou com a Cat.

        - Entendi os suspiros. Vai dar pra ela, não é?

        - Vou sim. Estou ansiosa.

        - Vai fundo, irmãzinha. Depois me conta como foi.

        - Pode deixar. E você me conte tudo de Cabo Frio. Quem sabe um eu dia vá com você e a sua galera.

        - Adoro que muita mulher vai adorar você com a gente. Todo mundo quer que eu te coloque na fita.

        - Esse povo é bobo.

        - Por que você acha isso?

        - Qual motivo tanta gente pede isso para você?

        - Você é linda. Quer motivo maior?

        - Sou normal.

        - Normal? Você? Você sabe que é linda. Fica fazendo tipo, mas você sabe que é e usa bem isso.

        - Sim. Ando me sentindo uma gata mesmo.

        - Cuidado com essas garras. Pode ferir alguém, gatinha.

        - A idéia é essa.

        - É, mulheres, apertem os cintos. Alicia está de garras de fora.

        - E sempre estarei.

        - Vou lá me vestir. Depois te dou um beijinho antes de sair.

        - Tudo bem. Vou te esperar.

        Depois que Al se vestiu, beijou sua irmã e saiu de mochila nas costas. Alicia resolveu ficar mais a vontade. E ficou nua. Dançando feito uma menina de dois anos. Contente. Aproveitando seu corpo solto. Em uma felicidade que parecia que nunca iria embora. E resolve ir tomar banho. Já era sete e meia da noite. Tomou seu banho demorado com sabonete liquido. Lavou cada pedacinho de sua pele com muita espuma. Liberando de vez sua libido. Ela sai de toalha e escuta a campainha. Vai abrir assim, de toalha. Pensou que pudesse ser sua irmã que esqueceu alguma coisa. E abre a porta.

        - Esqueceu o que Al… … … … Vanessa?

        - Só de toalha? Acho que cheguei na hora certa.

        - Eu tenho que sair.

        - Não vai sair. Pelo menos até eu matar minha saudade.

        - Você é louca.

        - Louca por esse seu corpo lindo.

        - Você tem namorado.

        - Sim, um namorado. Homem. Sinto falta de você, mulher.

        - Então, porque terminou comigo?

        - Precisei, mas isso não diminui meu desejo por você.

        Vanessa fecha a porta com o pé e leva Alicia até o sofá. Esta não consegue se defender das investidas da ex-namorada. E acaba por se entregar. Agora são oito e meia da noite.

***

Bruna

        Quando ela volta já é inicio da noite. Com o cabelo impecável. Mas precisa tomar outro banho. Nossa, tomou banho pela manhã e quando foi para o salão de beleza, já à tarde, estava tão quente, que ficou molhada de suor. Conversou muito. Fofocou demais. O ambiente perfeito.

        Quando ainda estava no banho, seu amigo chega a sua casa para buscá-la. A mãe bateu na porta do banheiro para avisar. A jovem estudante grita:

        - Avisa a ele que só cinco minutinhos e estarei pronta.

        Vocês acreditaram nisso? Cinco minutos é sempre o tempo marcado para algumas horas, no relógio biológico feminino. Não é porque ela é lésbica, que não deixa de ter esta marca registrada tão feminina. Se perder no tempo quando quer ter o tempo todo só para si. É como se duas horas estivessem dentro de 5 minutos.

        Ela ensaboa cada parte de seu corpo com toda delicadeza do universo. E com muito cuidado para que nenhuma gota d’água entre em sua touca e estrague seu cabelo. Seria o caos. Fazendo o sábado um dia perfeito para ver televisão e tomar sorvete.

        Ao sair do banho, se enrola na toalha, tira a touca bem devagar, para não pingar. Sai do banheiro e grita:

        - Rô, espera só mais um pouquinho. Só vou me vestir. Só cinco minutinhos.

       
        Rodrigo estava lá na sala. Os pais da sua amiga já o conheciam. Estavam conversando. Sorrindo. Contando piadas.

Pai:   - Esses cinco minutos femininos me lembram quando era adolescente e minha mãe me chamava cedo para ir para escola e eu falava para ela esperar cinco minutos. Eles nunca são reais.

Mãe: - Sei. Mas nem todas as mulheres são assim. Eu me arrumo mais rápida do que você. E você, Rodrigo, se arruma rápido ou devagar?

Rô:   - Depende da necessidade. O que eu vou fazer no banho.

Pai:   - Sei. O famoso cinco contra um, não é? Daí demora mesmo.

Rô:   - Bem por aí. (diz todo envergonhado)

Mãe: - Não fique envergonhado. Aqui falamos tudo abertamente. Achei até estranho minha filha demorar a admitir para nós que ela é homossexual.

David:- Mãe, é que toda acha isso ruim. Briga, coloca para fora de casa, às vezes.

Mãe: - Eu não sou toda mãe. Eu quero ser sempre amiga de vocês. E uma coisa, Rodrigo, você e minha filha vão sair juntos pra pegar mulher? Acho tão engraçado você aqui a esperando.

Enquanto isso, Bruna fica vendo se realmente vai se vestir com aquela roupa que escolheu mais cedo. Podia ir mais feminina, ou mais masculina. Ir com uma camisa de caveira, bem típico de lésbica. Ela tira quase todas as roupas do armário. Se veste de todas as formas até escolher 4 modelos. E resolve deixar que todos na sala escolham.

Ela se veste com o primeiro. Camisa de botão, saia e gravatinha. A mãe acha que ela parece uma personagem de revista japonesa. David ri. Rodrigo fala que está perfeita. E o Pai resolve se ausentar da resposta, pois estava com a boca cheia de pizza.

Veste o segundo, uma calça colada ao corpo, uma sandália com um salto pequeno, uma blusa sem manga e um chapéu negro. A mãe acha que ela ficou linda. Rodrigo diz novamente que está perfeita. O David diz que ela parece uma menininha. E o pai se engasga com a pizza.

Veste o terceiro, um short curto, uma regata, uma bandana, que deixa os cachos de fora e um all star. O Rodrigo novamente diz que está perfeita. A mãe diz que é melhor até agora. O irmão diz para ela tirar a bandana dele e o pai toma um gole de suco.

Por ultimo ela coloca um vestido curto, sandália rasteira, uma blusinha por cima para evitar alguns ventos frios daquele inverno. O pai fala que está linda. A mãe fala que ela vai sentir frio. O irmão diz que os caras vão cair em cima. E o Rodrigo fala que está perfeita.

Ela acaba indo com uma calça jeans, tênis all star, camisa de caveira e uma jaqueta por cima, ou seja, nenhum dos outros modelitos.


***

Monise

Monise resolveu nesse sábado fazer algo que há cerca de dois anos ela não fazia. Andar de skate. Olhou debaixo de sua cama e estava lá, empoeirado, com o rolamento seco, os truks (eixo do skate) estavam bem arranhados por antigas manobras e o nose (parte da frente) estava um pouco gasta. Estava aposentado. Tantas vezes ela pensou em vender, jogar fora, doar, dar para algum amigo da época do skate, mas o manteve ali sempre debaixo da cama. Talvez, algo dentro dela, esperava por esse dia. O dia do fim da aposentadoria.

Outro detalhe que ela reparou é que tanto o shape, tanto seu velho tênis estavam completamente fora de moda. Era necessário um novo tênis, uma graxa no rolamento e coragem para sair de casa e ir para o Aterro do Flamengo. Tem uma pista lá, onde sempre gostou de frequentar.

A menina sai de sua cama onde esteve a manhã inteira, sem querer tomar café nem nada. Mas resolve agora sair daquele presídio domiciliar onde se impôs. Tomou um banho. Colocou uma camisa regata preta, uma calça jeans levemente agarrada em suas cochas, meia soquete, seu velho tênis de andar de skate, apertado, sujo, estragado e preste a ser arremessado, boné, mp3 no ouvido. Tomou um copo de suco e um sanduíche com resto de frango do almoço e queijo. Deu um beijo nos pais, que a acharam estranha e perguntaram aonde a jovem iria.

- Vou lá ao Aterro andar de skate. Podem me dar uma grana para a água e para comprar um tênis novo? Este está me apertando os dedos.

- Quer que eu vá com você?

- E atrapalhar o seu descanso, mãe? Nunca. Hoje é o seu dia de não fazer nada. Trabalha todos os dias da semana. Sábado e domingo é dia de você e do pai relaxar. Pode deixar que eu sei chegar lá. Só quero a grana do tênis, porque está foda.

- Nem quer que vamos buscar você, vai que fique até tarde na pista. Eu vou levar o meu celular. Quando quis ir embora, se estiver tarde ligo para vocês.

- Quanto é o tênis?

- Não sei.

- Melhor ir com você até a loja. Compro e depois você vai.

- Pode ser. Primeiro preciso passar uma graxa aqui no rolamento. Está muito seco.

- Pega o meu no armário na minha mala de ferramentas. Tem a graxa do seu “velho” aqui.

- Vou pegar então.

A menina pega a graxa, passa no rolamento. Pronto, bem melhor. Parece andar macio, mesmo após tantos anos. E a vontade. O frio na barriga. Estava tudo ali. Como se toda aquela vida de dois anos atrás estivesse batendo em sua porta.

Ela sai com o pai pela a porta do apartamento. A menina faz ali, no corredor de seu prédio, um Fakie 360 Flip, que consiste nela estar na base contraria e saltar e o skate girar embaixo de seus pés. Seu pai leva um susto com a ousadia de sua filha. Pensa em repreendê-la, porém, faz tanto tempo que não a vê animada. Suas palavras de “não faça isso aqui” se calara e apenas aplaudiu Monise. A menina sorriu e falou:

- Viu papai, eu ainda sou capaz de fazer isso. Ainda sou capaz.

A mãe que estava na porta do apartamento deixou os olhos cheios de lágrimas ao ver, que a filha, após dois anos, estava feliz. E não importa o que ela faça, a felicidade daquela moça é a coisa mais importante para aquela mãe que havia perdido todas as esperanças de ouvir aquela risada.

Ela foi até a loja. Escolheu o tênis de skatista da moda, com orientação da atendente da loja. O pai pagou. Ela pegou o tênis antigo pelo o cadarço e quando chegou à rua arremessou, quase acertou um carro. Um menino de rua correu, pegou, colocou no pé e saiu correndo com ele.

Ela dá um beijo e um abraço no pai e sai de skate. Ia andar só alguns bairros vendo o mar. Iria demorar, mas queria, precisava ficar sozinha. Só ela, o mar e o skate. E a trilha sonora em seu mp3. ela se sentia livre, bela, solta.

        Um tempo depois ela chega ao Aterro do Flamengo. Encontra uma galera que ela não conhecia. Os meninos que estava aprendendo a andar. Uns mais profissionais. E outros mais medianos como ela. Quis impressionar um pouco. Resolveu andar na pista inteira. E depois tentar fazer umas manobras.

        A primeira tentativa era fazer um Fake, que era fazer a manobra de costa e descer de costa. Depois foi para o corrimão. Fez o Nose Grid, na qual ela deslizou sobre o corrimão com a parte da frente do skate e por ultimo, ainda no corrimão um 50-50, onde desliza com a parte do meio do skate.

        Com isso ela chama a atenção, principalmente dos “feras” que ali estavam. Uma menina bonita, andando de skate, sempre é interessante. Eles se aproximam e começam a puxar conversa. Ela fala que andava há dois anos atrás, porém, se aposentou por motivos particulares e agora está voltando. A elogiam e começam a querer ensinar a menina umas novas táticas.

        Ela passa a tarde inteira na pista com os novos amigos. O seu pai liga para saber se já está na hora de buscar e diz que pode, pois já está cansada, não conseguiria voltar andando. Ele chega, ela se despede dos amigos, entra no carro e vai embora. Se sentindo feliz como há dois anos atrás.

***

Luciana

            Chegou de sua corrida suada. Entrou no banho gelado. Depois sai sorrindo, sempre. Pensando o que será desse fim de semana. Ela não tem nada agendado. Não sabe de festa nenhuma. Está quieta em seu canto a espera do improvável ligar para o seu celular, tocar a sua campainha ou lhe socar a cara.

            Hoje não quer se preocupar com nada. Deixar a mente livre e se sentir solta. Pode fazer nada de produtivo. Até mesmo ver algum programa humorístico sem grana nessa noite. Pode alugar uns dez DVDs e passar o dia inteiro assistindo e comendo uma panela de brigadeiro. Ou pode sair e nadar nua à noite. Pode sair para o cinema com o Gustavo. Ir para uma balada com a Bárbara. Qualquer coisa. Apenas quer ser feliz, como sempre é. Sem preocupações. E se alguma aparecer, manda ela se fuder.

            Luciana almoça com os pais. Um almoço chato. O pai no telefone falando de negócios com um empregado do mesmo escritório dele. A mãe ligando e marcando cabeleleiro, manicure, pedicure em um salão de beleza, e ainda querendo convencer a Lu de ir junto. A atleta negou, falando que salão de beleza é um lugar muito chato e que não quer morrer de tédio ou com o veneno das cobras locais.

            Os pais saíram. Ela está sozinha em casa. Um tédio gigantesco. Joga-se na cama pensando o que fazer. E ao mesmo tempo sem fazer nada. Ela liga o computador, coloca umas musicas e fica dançando vestida de calcinha e regata. Seu vizinho tarado do prédio vizinho fica a olhando de binóculo.

            Ela rebola e samba. Sabe que tem um intrometido, mas adora deixar esses rapazes que perdem o tempo olhando o corpo dos outros, no lugar de ter uma mulher de verdade. Eles ficam de pau duro, babando. Quem não ri com o desejo alheio? Ela um pouco depois, fez de conta q ia tirar a regata e ficar apenas de top. O rapaz estava só de cueca. Ela resolve tirar. O menino pira. Ela vai para a janela e faz de conta que vai tirar o sutiã, olha para o rapaz com o binóculo que ela tem, dá uma risadinha, um sinal de ok e fecha a cortina.

            Seu celular enfim toca. Era Babi querendo saber qual seria a boa do dia.

            - Se você descobrir, me avise. Hoje estou em um tédio gigantesco.

            - Então somos duas. Não tem nada de interessante para fazer.

            - Ter, com certeza deve ter. Moramos no Rio de Janeiro e hoje é sábado, porém, já fizemos tudo. Acaba que tudo fica chato.

            - Quando estivermos na faculdade nossa vida não fará mais sentido. Já nos divertimos de todas as formas.

            - Tem outras coisas que ainda não fizemos, porém, não quero fazer hoje.

            - Como o que?

            - Participar de uma suruba.

            - A gente podia, né?

            - Hoje não. Eu ainda sou menor de idade. E hoje não estou disposta. Essa semana eu dei demais. A minha buceta está até ardida. Prefiro fazer nada.

            - Deu tanto assim para quem?

            - Para quem mais? Para a Julia e para o Gustavo. É complicado esse negocio de ter amante fixa.

            - Era mais fácil você continuar só pegando às vezes.

            - Muito mais fácil. Hoje não quero sexo. Vem pra cá para casa. Vamos, sei lá, fazer cachorro quente, bolo, brigadeiro, assistir dez mil filmes.

            - Pode ser. Quais filmes?

            - Sei lá, vamos à locadora alugar alguns.

            - Valeu. Estou indo pra aí.

            - Beijos então.

            Um tempo depois Bárbara chega à casa de Luciana e elas vão até a locadora, pegam cinco filmes. Depois as duas vão ao supermercado comprar leite condensado, chocolate, salsicha, pão de cachorro-quente, refrigerante. Cozinham e vão para o quarto de Luciana. Comer e ver filmes. Gustavo chega e se une as meninas para o dia do filme e guloseimas. 

***

No capítulo de hoje quero agradecer o Marcinho por ter me ajudado a entender de skate. Só assim para ter essas coisas que eu nada sabia no capítulo da Monise.
Valeu cara.
Beijão.