sábado, 19 de fevereiro de 2011

21º capítulo – e a noite é do sábado

Catherine

        Cat estava ali. Ansiosa a espera de sua tão aguardada carona. Olhava o relógio inúmeras vezes. Andava de um lado para o outro. Pegava um antigo violão e tirava um som. E nada. Elas haviam marcado as vinte e uma horas.  Já se passava dez minutos e nada.

- Será que é o trânsito?

E o tempo passava. Cada segundo com fração de horas. Ela olhava o relógio de segundo em segundo. A ansiedade e a preocupação tomavam conta de seus pensamentos.

- Será que aconteceu algo com ela? Será que devo ligar?

Já era 21h30min. E nada. Nada. Nada. Meia hora de atraso já é preocupante. Principalmente que ela tem que chegar ao lugar, montar o equipamento e passar o som. Estava esperando a Alicia pela a carona, pois se ela não tivesse dito que faria isso, iria arranjar com algum camarada. Agora em cima da hora seria complicado. Sem carro e com pouco dinheiro para pegar um taxi.

Seus pés não paravam de se mexer. Estava a roer as unhas. O nervoso e estresse estavam lhe subindo a cabeça. Onde estaria essa garota? Onde? O relógio não ficava com seus ponteiros parados, corriam feito atletas.

- Vou ligar para a casa dela para ver se ela saiu.

O telefone tocava, tocava e nada. Caía sempre na caixa postal. Será que ela já saiu e aconteceu algo? Pelo menos uma ligação para dar uma justificativa. Qualquer coisa. Dizer que uma nave espacial a seqüestrou. Dizer que foi para outra dimensão. Ou talvez inventar que o Triângulo das Bermudas trocou de lugar e está na Zona Sul do Rio de Janeiro. Já faltavam vinte minutos para as 22h. Não dava mais para esperar.

- Não se pode querer nada de uma mulher bonita, que não seja suas genitálias.


Ela resolve correr e ir de ônibus. Pega o violão. Resolve deixar a guitarra em casa. Pega o amplificador, o microfone e o suporte deste. Vai correndo com muitas coisas na mão até a parada de ônibus, que pudesse a levar até a Lapa. Preocupada com o horário. Com raiva por ter ficado toda derretida por alguém, que a deu um bolo. Isso nunca tinha acontecido antes.

Nada do ônibus chegar. Quando mais pressa você tem, menos as coisas dão certo para você. Para piorar tudo, uma poça de água estava perto do ponto de ônibus e um carro passa em alta velocidade jogando água em quem estava lá. Pois é, na Catherine. Ela estava já irritada, atrasada, chateada. Não sabia o que fazer. Molhada, suja, atrasada e com muitas coisas na mão. Com medo de ter estragado alguma coisa.

O ônibus chega, ela entra, tem dificuldade em pegar o dinheiro para dar ao motorista, a fila atrás dela começa a reclamar da demora. Um senhor se oferece para ajudar a moça a segurar o amplificador. Ela consegue pegar a carteira e pagar a passagem. Agradece ao senhor e ele falou que era um prazer ajudar a quem um dia fará muito sucesso. Poderá dizer que a ajudou no ônibus. Ela sorriu. Sentou ao lado do senhor no ônibus e foram conversando até o ponto dela.

Ela saiu, foi correndo até o bar, onde iria tocar. Cansada, irritada, suja, molhada, com medo de ter estragado alguma coisa, Catherine chega lá e dá de cara com o dono do bar irritado com a demora.


- Eu não falei para você estar aqui as 21h?

- Desculpe-me senhor, tive problemas com minha carona.

- Por que todo músico é mal educado? Não tem noção de tempo? Vocês sempre chegam atrasados. Parecem que todos são ricos e não precisam comer. Só pode.

- Desculpe-me, isso não irá mais acontecer.

- Não vai mesmo. Já chamei um DJ. Está ali montando o equipamento dele. Não é hoje que você vai tocar aqui. Aliás, nunca mais você tocará aqui. Nem que me pague.

Cat sai ainda mais irritada, com tudo que estava na mão, sem dinheiro que precisava para pagar algumas contas. Molhada, suja com equipamentos na mão. Vai até os Arcos da Lapa, senta ali e tenta vê se o amplificador está bom. Ele funciona a bateria. Liga o violão e começa a tocar. Sim, está funcionando. Um problema a menos. E começa a ficar ali, tocando algumas musicas. Até que ela nota algo engraçado, muitas pessoas estão ao seu redor. Ela pega e liga o microfone, se levanta e começa a tocar e a cantar.

Um rapaz que estava por ali, com um pandeiro, chega e começa a fazer a percussão para a cantora. Eles começam a entrar no bom e velho samba. As pessoas em volta começam a dançar e é o lugar que mais bomba na Lapa inteira. Quem trabalha por ali vendendo bebidas começa a faturar ainda mais. Ninguém quer entrar nos bares, o som está perfeito e a bebida gelada. Um cavaquinho entra no meio da brincadeira. Muitas pessoas, principalmente os turistas, resolvem dar valiosas notas para aqueles três desconhecidos, mas que naquele momento começaram a serem os músicos da Lapa. Nunca se viram, mas a linguagem da boa musica fala em notas afinadas.

Fazem um passeio entre o pagode do Exaltassamba, Martinho da Vila, Cartola, Luiz Melodia, dentre outros músicos que fazem sucesso entre a rapaziada. E pedem mais musicas e a Catherine com um repertório grande sempre sabe o que fazer ou como tocar. Quando tem um lapso de memória, tenta acompanhar os meninos que tocam com ela.

A noite que parecia perdida tomou novo rumo. Ainda suja, menos molhada, mas parecia que iria ter dinheiro para as contas e quem sabe alguém para dormir com ela essa noite.


***

Alicia

        Alicia nota um pequeno problema, ela ainda amava a Vanessa. Ela se entrega aquele amor e desejo. E as duas nuas em sua casa fazem amor sem lembrar de mais nada. O tempo parecia eterno enquanto se entregava aos braços de sua ex-namorada. Sentia-se como nunca tivessem se separado. Deliciavam-se uma do corpo da outra. Da pele delicada, do toque profundo, do gemido encantador.

        Era sufocante o calor que emanava daquelas almas amantes. Era tão doce aquele momento. Tão maravilhoso. Alicia não cansava de dizer que amava Vanessa e essa não cansava de sorrir e fazer a outra gozar. Era ali a paixão e o desejo. Cada qual encarnado em um corpo. Cada corpo se jogando na profundidade do que realmente são e o que querem. A delicadeza sentimental de Alicia não conseguia ajudá-la a ver o que realmente acontecia naquele local. Ela ama a pessoa que só quer transar.

        Vanessa não terminou com o namorado. Mas se entende como bissexual. E a sua dúvida, antes de terminar com Alicia, era com qual dos dois sexos sente amor e por qual sente desejo. Ela ama amar seu homem e tem prazer com a Alicia. Mas a artista plástica ainda não sabe disso. Não entende isso. Só sabe que está ali com a mulher que ama.

        Alicia esconde, mas toda noite derramava alguma lágrima de saudade de sua ex-namorada. Sempre ficava com alguém pensando que pudesse ser aquela dona da paixão dela. Até mesmo quando marcou com a Catherine… Catherine?

        Por um segundo Alicia lembrou o que havia marcado. Já era 22h. Perdeu-se no tempo. E ainda estava perdida. Perdida de paixão. A paixão não nos deixa cegos e sim com algum problema mental sério e, quando acaba a paixão, demoramos ainda para nos recuperar. Talvez nunca nos recuperamos.

        Vanessa não parava. Nunca. Alicia já estava começando a ficar exausta. Mas a outra não queria parar de ouvir aquele gemido. Queria gravar ele na memória para não sentir mais saudade. Queria gravar aquela pele na sua para não precisar voltar mais naquele apartamento. Deseja ser apenas heterossexual, mas seu desejo por mulheres era imenso.

        Alicia já estava pedindo para parar. Cansada. Falando que não iria conseguir andar uns dois dias. A amante apenas olha o relógio. E diz que ainda tem mais algum tempo. Alicia não prestou atenção na questão do tempo, na qual Vanessa se referiu. Estava cansada. Seu corpo mole não conseguia ter mais nenhuma atitude. Sempre que goza mais de duas vezes fica assim.

        Após meia hora, a estudante de publicidade, respirou e parou. Foi ao banheiro, tomou um banho, se vestiu. Deu um beijo na testa de Alicia, que estava deitada no sofá. Mole, sem reação, a não ser apenas olhar a mulher dos cabelos compridos. Vanessa falou que precisa voltar para o seu namorado. Que sempre é bom transar com a artista plástica, mas que o lugar dela é ao lado de João Pedro.

        Alicia tenta falar algo. Seu olhar está cheio de lágrimas e não entende nada. Foi usada? Mais uma vez? Por quê? Mas as perguntas não saem. Só as lágrimas. Ela até levanta, mas é só para fechar a porta, que Vanessa deixou aberta.

        Agora triste, desapontada, abandonada, mais uma vez. Estava entre a tristeza e raiva. Entre falar nunca mais e o “volte, por favor.”. Fica ali, junto a porta pensando no que fez. E lembra que tinha marcado com a Catherine. Corre para seu telefone e vê que recebeu uma ligação dela cerca de uma hora atrás. Coloca a mão nos olhos e vê o erro que cometeu. É incrível como a pessoa que nós amamos pode fazer de tudo conosco. E sempre deixamos que isso aconteça.
       
        Não sabe o que fazer. Se deveria ligar para a Cat.

- Essa hora ela deve estar se apresentando e me odiando. Dei um bolo na garota. Que burra que eu sou.

Foi usada. Usada por quem ela ama. Por que quando estamos apaixonados somos tão tolos? Alicia anda de um lado para o outro se perguntando. Pesquisando na sua mente uma saída. Qualquer uma. Até mesmo voar pela janela. Ops… ela não é um personagem de desenho animado. Ela só queria poder esquecer a Vanessa. Queria ter raiva dela. Transformar tudo isso em o contrario. Todo amor virar ódio ou indiferença. Se for tão forte e grande quanto o amor que tem no peito, Vanessa seria morta em seus pensamentos em instantes.

Ela vai até a geladeira. Abre e pega água. Bebe. Não adianta. E resolve sair de casa. Dar uma volta. Tomar uma cerveja, uma cachaça, uma dose de gim. Qualquer coisa em qualquer lugar. Ela tem raiva de Vanessa, mas no instante mais dela mesma.

***

Bruna


Chegaram de carro na Lapa. Tiveram muita dificuldade para estacionar. Deixaram o carro em um lugar bem distante de lá e foram a pé bom pedaço do caminho. Era mais fácil se tivessem pegado um taxi. Mas já estavam ali, a pé, conversando, rindo, desfazendo planos. Fazer planos nunca dar certo, melhor acabar com todos eles.

Param em um lugar para comer uma porção de batata fritas e tomar já as cervejas. Começam a conversar sentados na parte externa de um bar. Eles falam basicamente dos assuntos que uma lésbica e um homem hetero têm em comum: mulher e futebol.

Começaram a falar do campeonato brasileiro, dos seus times. Falaram de outros times. A falar sobre determinados jogadores. Quais que gostariam de ver em seus times. Riam, bebiam, comiam mais batatas. Encontravam pessoas conhecidas, que se sentavam à mesa com eles. Conversavam e riam ainda mais. A mesa já estava com oito pessoas de vários sexos e orientações sexuais.

Um amigo gay deles, o Marcelo, sugeriu que eles bebessem mais algumas e saíssem de lá. Ouviu falar que tinha uma galera tocando perto dos arcos e que havia muita gente lá ouvindo e curtindo. Todas as demais pessoas concordaram. Andar por aí e ouvir boa musica e se embebedando pode ser bastante lucrativo em uma Lapa lotada. Tomam as ultimas três garrafas de cerveja, dividem a conta e a pagam.

Saem conversando, rindo. Marcelo dando pinta, falando que está solteiro e a procura. Bruna fala que está da mesma forma, o que aguça o olhar de Beatriz, que é lésbica, mas tem medo de sair do armário. Mas aquela noite parece que vai acabar se liberando, pois a Bruna está tão linda. Beatriz tem baixa estatura, cabelos loiros, olhos cor de mel, quase verdes. Adora pegar uma praia. Veio para a Lapa com o Marcelo, que é amiga de Bruna da época da escola. Junto com eles também está Renan, amigo de Rodrigo. Um mulato magro e alto. Cerca de um metro e noventa de altura. Tinha ali com eles o casal Tatiana e Faber. E mais o Carlos, primo de Rodrigo. Praticamente uma gangue.


Chegando ao local referido, estava realmente lotado. Nunca se vira aquilo perto dos arcos. Lotado, muita gente bebendo suas latas. Pessoas com garrafas de uísque. Rindo, alguns dançando, outros cantando e curtindo o som. Bruna dá um grito com um sorriso ao ver quem está ali tocando.

- Eu conheço essa garota. Caraca. Ela é realmente foda. Que voz incrível. Ela tocando ali com os caras. Nossa. Terei que falar com ela.

Beatriz fica até triste. Achando que perdeu a chance. Não sabe se chega e beija, se pede um beijo, se dança junto. Ou se apenas faz de conta que não a quer. A vontade está cada vez maior. Mais intensa. Que a faz se aproximar de Bruna e faz de conta que nada sabe. A Bruna está curtindo a música. Ainda não reparou no interesse da menina loira.

Bruna chega bem perto, o tanto para Catherine a reconhecer. E no intervalo de uma música para a outra, a estudante de administração cumprimenta a cantora, que lhe pede um favor.

- Traz água para mim, por favor.

Bruna traz uma garrafa de água vendida por ambulantes, que ali estavam. Cat bebe a água quase que em uma só golada. Vendo a sede da artista, resolve comprar mais água para ela e os rapazes que ali tocavam. Divertia-se e conversava com os amigos. Muitas pessoas ali ainda davam dinheiro aos músicos que fazia daquela noite a melhor de suas vidas.

Já passava das quatro horas da manhã. Estavam todos ficando um pouco cansados e famintos. Até os músicos, que agradeceram a todos, pegaram o dinheiro, dividiram igualmente e foram embora. Catherine estava a pegar seu equipamento pesado, quando Bruna falou.

- Quer carona?

- Vou aceitar. Está pesado demais. Minha carona me deu um bolo, vim de ônibus para aqui.

- Então vem. A gente te deixa em casa. Só dizer onde é.

Nisso Rodrigo e Renan, os únicos homens que ainda estavam do grupo ajudaram a moça a carregar. Marcelo, Beatriz, Tatiana, Faber e Carlos já haviam ido embora.

Foram a pé até o local onde estava o carro de Rodrigo. O primeiro a ser deixado em casa foi o Renan. Depois, após muito procurar, Catherine foi deixada em seu apartamento. Rodrigo e Bruna ainda ajudaram a moça a levar os equipamentos até o apartamento. Onde ainda ficaram um tempo lá. Resolveram os três saírem para comer.

Foram em uma pizzaria. Tomaram mais algumas cervejas. Voltaram e deixaram novamente Catherine em casa. E foram para o prédio onde os dois residem.

- Eu acho que nunca tive uma noite tão incrível como essa. Você é o melhor amigo, que uma sapa como eu poderia ter.

- Que isso. É bom falar com uma mulher sem frescura e que entende de futebol. Dia desses a gente sai para caçar umas mulheres.

- Com certeza. É muito divertido sair com você.

- Uma coisa. Por que você não ficou com aquela menina loira?

- Quem?

- A loirinha. Toda se querendo para você. A Beatriz.

- A amiga do Marcelo?

- Essa mesma.

- Ela estava dando em cima? Nem reparei.

- Está precisando de treinamento.

- Eu sempre fiquei só com uma garota. Só namorei uma garota. É complicado. Até dia desses fiquei com uma menina, mas ela que chegou e tudo mais. Não sei cantar. Tenho dificuldade de reparar quando me querem. Sou maior lesada nesse quesito.

- Eu te ensino. Ou então a sua amiga do violão. Ela deve pegar mais mulher do que o Renan e eu juntos.

- Não duvido disso. Nem um pouco.

- Bem. Descansa. Boa noite.

- Obrigada por tudo novamente. Até mais.

Eles se cumprimentam com beijos no rosto e vão embora cada um para seu apartamento.


***

Monise


Estava contente. Fez o que não conseguia fazer há anos. Ela estava lutando contra a maldição, que seu coração havia se mergulhado. Sorria e respirava com tranqüilidade. E via o contentamento na qual deixara seus pais. Eles estavam tão felizes, que ela achava que o universo era pequeno do tamanho da felicidade, que eles estavam imersos. Não imaginava que iria dar isso a eles ainda um dia. A possibilidade do sorriso.

Quando ela chegou a casa foi tomar banho. Estava suada e um pouco cansada. Vivia em uma vida sedentária. Então, tudo aquilo a deixara exausta. O banho morno foi revigorante ao seu corpo. E a cama a chamava com voz tímida. Mas ela a ignorou. Sentou em frente ao seu computador. Queria conversar com seus amigos online.

Encontrou várias formas de fazer nada fazendo alguma coisa. Escutou diversas musicas conhecidas e desconhecidas. Riu, gargalhou e parou de sorrir inúmeras vezes. Conversava sobre tudo com esses amigos, que nunca viu. Era melhor do que suas seções de analise.

Quando entrou um amigo, que não era somente online há dois anos. Era Fred. O amigo que foi morar nos Estados Unidos. Ela ficou aflita. Pensando se deveria ou não puxar conversa. Sentiu saudade. Queria que ele falasse com ela, ficou sem jeito até que… ele falou “oi”.

- Oi Fred. Quanto tempo…

- Pois é. Sinto sua falta. Está bem?

- Descreva o que é estar bem.

- Ainda está de depressão?

- Eu não sei. Ultimamente ando me sentindo melhor. Hoje fui andar de skate.

- Foi? Como foi lá?

- Bem legal. Conheci umas pessoas bacanas lá. Deram-me uns toques. Acho que vou ver se vou sempre aos sábados.

- Fico feliz por você. Antes você não falava nada. Lembra quando aconteceu aquilo? Você não comia, não falava. Só chorava. Mas o que exatamente aconteceu naquela noite? Você já contou para alguém?

- Olha Fred, hoje estou muito alegre, não quero falar disso não. Ainda não estou preparada. E a resposta é não. Ainda ninguém sabe do que aconteceu.

- Uma garota some depois de estar contigo e você fica dois anos sem contar para ninguém o que aconteceu. Já pensou como deve estar os pais dela? Encontraram alguma coisa, você sabe?

- Até aonde eu saiba, não. Foi a pior coisa da minha vida.

- Com certeza para os pais deve ter sido horrível. Imagina não saber onde está a sua filha. Nem o corpo para enterrar.

- Pare de falar disso, Fred. Não quero falar nesse assunto.

- Você tem que falar. Eu sempre te vi online. Mas tinha te bloqueado.

- Por quê?

- Porque para mim é complicado entender essa sua atitude.

- Se você soubesse o que passou você entenderia.

- O que aconteceu? Para eu te entender e te ajudar.

- Não quero falar disso. Porra. Estou chorando. Você não sabe que isso me magoa, me machuca?

- Olha, enquanto você não tomar coragem  para contar para alguém o que aconteceu naquela noite, não tem como nos falarmos. Éramos amigos. Eu, você e ela.

- Ela era mais do que minha amiga e você sabe disso.

- E você é uma covarde. Acabou com tudo. Com a amizade, amor, tudo.

- Se você acha isso é problema seu. Não quero falar com você. Ainda não estou preparada.

- Não estará preparada nunca.

- Um dia eu estarei. Talvez. Mas me deixe ser feliz por um dia, por favor.

- Tudo bem. Quando estiver preparada e abrir o jogo e ajudar a  desvendar tudo o que aconteceu, você será bem vinda novamente a minha casa. E saiba, sinto muita a sua falta. Eu sofro todos os dias desde daquela noite.

- E você acha que eu me sinto como? Um dia eu vou lhe contar. É o que eu mais quero, mas toda vez que eu penso no que aconteceu eu só penso em morte. Na minha.

- Quando você estiver preparada pode contar comigo, saiba disso. Mas espero que não tenha que demorar uma vida inteira para isso. Uma vida precisa de você.

- Eu vou deitar. Esse assunto acabou com a minha noite.

- Boa noite. Eu te amo.

- Tchau.

Monise desligou com muita raiva de seu amigo distante. Deitou na cama e chorou. Chorava muito. Toda a cena que presenciou estava ali acontecendo de novo em sua mente, em seu peito cheio de tristeza. É complicado. Para quem vê de fora e para ela. Um dia ela irá se perdoar para poder contar a verdade. Enquanto isso, a verdade é o que a mata, cada instante um pouco.


***

Luciana

Depois que acabaram as delicias que engordam, na qual a Luciana deveria não comer nunca. Ela resolve beber. Os filmes começaram a perder o sentido. Bárbara e Luciana bebiam tudo que encontraram na casa da atleta. Gustavo havia cansado e tinha ido encontrar uns “camaradas” dele.

Luciana estava se sentindo estranha. Queria algo que não sabia. Treinava todos os dias, mas sentia que precisava de algo a mais. Alguma coisa a incomodava. Como fosse um inseto, que a mordesse a todo instante.

Quem nunca se sentiu uma tristeza, que entra e não sai de seu peito? Mesmo sem motivo real? Algo que está penetrado em uma parte de seu corpo. Luciana só queria fazer qualquer coisa para que essa tristeza, que ela nem sabia da onde vinha, se afastasse.

De verdade não é tristeza. É uma confusão. São as dúvidas da vida. O álcool vem para aliviar tudo isso. Ou para embaralhar ainda mais. Babi só assistia ao filme, ainda não notara o stress na qual a amiga estava imersa. Uma saudade que não tem como descrever. Saudade. Que sentimento é esse? Que palavra é essa que é tão nacional?

Não é do Gustavo. Ela pensa que talvez não ame mais o Gustavo. Talvez esteja acostumada com ele. Como um irmão que se beija na boca. Não sente mais a falta dele como no inicio do namoro. Não sente vontade de chamá-lo para todos os lugares que ela vai.

Ela sente vontade de ficar só com mulheres, mas tem medo. Medo do preconceito. Medo do universo inteiro. Medo de ser feliz. Medo dela mesma.

Quem tem medo não consegue ir adiante. Não consegue mover os mundos que sonha mover. A covardia é a forma de nos transformar em estatuas em nossas próprias vidas.

Ela toma mais um gole da mistureba que fez. Fala com a Bárbara que precisa de alguma coisa. E não sabe bem o que é.

- Se for gelo, pega para mim também.

- Acho que é algo mais quente.

- Se for pedir algo para comer pede um duplo.

- Eu preciso algo que me complete.

- Eu quero um sanduba desses também.

- Porra, preste atenção. Eu acho que está na hora de eu amar alguém.

- Eu também te amo. Esse filme está ótimo.

- Vou pedir uma pizza.

Depois de horas os filmes acabaram e as duas dormiram ali. Cada qual com seu viver.


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desculpem por eu ter escrito pouco na hora da Luciana. vários problemas. o que atrapalhou mais foi um ser verde que me atrapalhou. ai... ele tá aqui... socoorrooooooooooooooooo

Um comentário:

Lilith disse...

ser verdeee???:S
que maluquice é essa andy??

a cat recebeu um bolooo :O olhaa soo!!