Catherine
Estava já em casa. Tudo deu errado ou tudo deu certo? Ela pensou. O que havia planejado não deu certo. Mas ela conseguiu o dinheiro que precisava. Isso era uma aflição a menos. Mas realmente ficou muito revoltada com a Alicia. Ninguém nunca havia feito isso com ela. Dar um bolo daquele jeito? Não tem como isso acontecer.
- Essa garota está brincando com fogo.
Depois de anos era a primeira vez que Cat estava indo para a cama sozinha. E teve medo de seus monstros. De seus pensamentos. As lembranças ruins vieram todos. O seu passado. A morte de Carla. Tudo a atormentava. E o sono não vinha. E tudo ficando claro. Os carros passando na rua. As pessoas falando. E ela ali na cama. Jogada. Sem atitude tomar.
Desiste de dormir. Toma um banho frio. Sai para o mercado. Precisa comprar algumas coisas. Precisa comer. Beber. Compra o necessário. E lógico, uma garrafa de vodka. A sua melhor e fiel amiga. Que nunca a deixa. Ou melhor, deixa, quando ela toma tudo. Mas isso não é problema, desde que o dinheiro para comprar outra garrafa esteja ali com ela.
Andando ali no mercado ela fica com sono. Quase cai. Mas continua a andar para pegar tudo que precisava. E ela vai para a fila. Estava enorme. Ela parece um zumbi. E quando menos espera estava ali, dormindo em pé. Quando é a vez dela na fila (sim, de alguma forma ela andava junto com a fila), ela não tem noção disso. Quando uma voz a chama. Uma voz doce e meiga. Ela acorda e quase beija a dona da voz. Era uma antiga aluna dela na escola de música.
- Hey Cat. Dormindo. Acorda se não será atropelada por carrinhos de supermercado.
- Você me chamando. Eu pensei que tinha morrido e ido para o céu sem querer e um anjo me chamou para eu me tocar do meu lugar.
- Anjo? Você não sabe nada, sua linda. Estou mais para uma diabinha.
- Obrigada. Deixa-me pagar essas compras. Mas a gente podia se encontrar dia desses. Você tem mais de dezoito anos, não é?
- Você sempre me fez rir. Fiz dezoito ontem.
- Então, vamos comemorar.
- Lógico. Quer ir a um barzinho hoje?
- Sim. Qual?
- Eu passo em sua casa e depois a gente vê.
- Ótima idéia. Aqui. Este cartão tem meu endereço e telefone. Vai lá em minha casa. A gente pode tocar um violão também. Cantar.
- Eu não fiz nada de muito bom ontem. Eu posso chamar uma galera para ir à sua casa e a gente faz algo legal lá. Falo pra cada um levar uma bebida, ou algo pra comer. Topa?
- Você estando lá, lógico que concordo. Só que sem menores.
- Pode deixar. Criança nenhuma vai estar lá.
Catherine paga as compras. E vai embora. Tem que arrumar a casa e o quarto para receber as pessoas. Ainda bem que foi fazer compras hoje.
***
Alicia
Alicia acordou e não sabia onde estava. Ela havia bebido demais. Deve ter transado com alguém. Mas não viu ainda a pessoa. Bem, não era um motel. Pelo menos não parecia. Parecia um apartamento. Estava seminua debaixo de lençóis. Ela torcia para ser uma pessoa conhecida. Ou melhor, uma pessoa linda.
Ela começa a ouvir passos. Talvez uma tosse. Grave demais. Ela começa a se preocupar que pode ser alguém do sexo masculino. Ela começa a tremer. E de torcida, começa a rezar baixinho. Vai que ela ouviu errado. Ou é no apartamento de cima. Quando chega ali no quarto ele com o café da manhã.
- Marco???
- Desculpe. Não queria te acordar. Trouxe o café para você. Estava tão apagada ontem quando te encontrei.
- O que aconteceu?
- Te encontrei bêbada, apagada em uma mesa de bar. Paguei a conta. Peguei você e te trouxe pra cá. Coloquei você na cama. Fique tranqüila. Não aconteceu nada. Eu dormi na sala.
- Eu não sei como aconteceu.
- Alguém deve ter tentado te drogar. Mas eu devo ter chego antes.
- Eu não me lembro de quase nada. Sei que sentei em um bar. Pedi uma cerveja. Tomei. Pedi a segunda e depois disso não lembro.
- Pois é. Devem ter te drogado. Ainda bem que cheguei a tempo.
- Você está falando a verdade, não é?
- Pode notar que eu não toquei em você. Você que tirou suas próprias roupas. Fiquei super sem graça. Mas sinta a sua vagina. Eu não transei com você.
- Acredito em você. Antes de eu ir para a rua já havia transado com a minha ex. Notei que parece que realmente só havia transado com ela. Mais ninguém.
- Aqui. Eu trouxe café para você. Suco. Torrada. E essas coisas que mulher gosta de comer. Patê e tudo mais.
- Se eu fosse hetero, casava com você. Até café na cama traz.
- Se você fosse hetero com certeza estaria debaixo dos lençóis com você.
- E não seria ruim. Você é bonito. E naquela vez que quase aconteceu eu fiquei morrendo de vontade. Imagina se eu fosse hetero.
- Pois é.
Marco levou o café para a moça que o tomou conversando com ele. Depois ele saiu do quarto para ela poder se vestir. Ela agradeceu por tudo e foi para seu apartamento. Mas que isso tudo foi estranho, sim, foi muito estranho.
***
Bruna
Era um novo dia. Bruna acordou era onze e meia da manhã. Estava alegre. A noite passada foi bem divertida. Amigos. Música. Bebida. Ela pensa que precisa disso todos os dias. A felicidade está escondida dentro de instantes, segundos, risadas, uma dose de amizade. Estava com a ressaca mais divertida de sua vida. A dor de cabeça e enjôo não a faz desanimar. Um bom banho, um analgésico e muita água é a solução para os maus do dia seguinte.
O dia estava lindo lá fora. Um belo Sol. Pessoas na praia. Mas e a coragem de sair de casa? A vontade de não ver o Sol era maior do que ela. A vontade é só de nada fazer. Ou ouvir um som. Algo bem preguiçoso, digno de um domingo após um sábado maravilhoso.
Ela não quer almoçar. O estomago está muito ruim para isso. Toma mais água. Faz uma saladinha depois e este é seu almoço e café da manhã. Depois para adoçar a boca, uma barrinha de cereais.
Bruna resolve ligar para Marcelo. Quer ver o que perdeu com a Beatriz, a loirinha que ficou dando em cima dela. O amigo riu muito quando a Bruna liga.
- Nuninha, estava falando de você nesse instante.
- Bem ou mal e com quem?
- Bem e com a Bia.
- Nossa. Eu liguei para você para perguntar dela mesmo. Eu sou tão lerda. E namorei tanto a mesma mulher que não sei reparar quando alguém está querendo chegar em mim. O Rodrigo que me falou depois. É verdade?
- Benhê, se não fosse mais do que verdade, ela não estaria aqui falando de você o tempo inteiro.
- Pede desculpa para ela. Eu sou muito desorientada nesse quesito.
- Imaginei. Vem aqui em casa. Daí quem sabe?
- Pode ser. Estou ruim de ressaca.
- Então, vem aqui que você bebe mais e acaba com a ressaca.
- Tentador. Mulher, amigo gay e bebida. É se eu disser que não será até feio. Vou aí daqui a pouco então.
- Isso mesmo gata. Vou falar para a Bia que hoje ela beija na boca.
- Pode falar que estou chegando. Beijos.
- Beijos.
Eles desligam e ela vai se arrumar para ir à casa do amigo, que não fica muito distante dali. Ela está ansiosa. Ficar com outra garota. Mulher sempre é interessante para quem gosta.
***
Monise
Acorda irritada ainda com a conversa de seu amigo (nem tanto, agora) Fred. Amigo tem que um apoiar o outro. E ele não a apóia. Não quis ficar ali para segurar a mão dela quando mais precisou. Quer apenas cobrar dela uma atitude que não pode ter sozinha.
Amigo que é amigo não é aquele que separa briga, e sim aquele que chega de voadora. E ele apenas se ausentou. Ficou distante. E quando pode cobrou e cobrou. Ela sente falta da amizade, porém a raiva que está dele a faz querer evitar completamente estar próxima dele.
Monise busca o que fazer. O que querer. Mas a busca nem sempre é realmente o que deseja. Talvez mesmo que você encontre respostas para tudo que queira. Você decide pelo o vazio. O nada. Eles acabam muito menos assustadores do que realmente você precisa fazer.
Monise anda pela a casa. Apenas anda feito um fantasma de dias ensolarados. Seus pais notam que a alegria de ontem parece ter passado. A mãe tenta falar com ela.
- Filha. Vamos depois ao shopping? Daí nós podemos tomar alguma coisa. Ver umas roupas novas para você. E se quiser até um novo skate.
- Hoje não mãe. Estou de péssimo humor. Seria uma má companhia. Se quiser sair com o papai, não acharei ruim ficar sozinha. Acho que seria melhor até para vocês.
- O que aconteceu?
- Não quero falar disso.
Monise continua nessa. Cozinha, sala, quarto, banheiro. Banheiro, quarto, sala, cozinha, geladeira. Água, vinho, licor. Coca-cola, rum, energético. E pega o jornal, tenta ler, desiste. Liga o computador, resolve conversar com alguém, mas nada interessante e logo fica offline. Abre a janela, se incomoda com a felicidade da cidade. Fecha e fecha a cortina. E continua a andar.
Os pais não sabem o que fazer. Ficam preocupados, mas não querem enfrentar. Tem medo de ser pior. A mãe já tem lágrimas nos olhos e o pai o telefone da terapeuta. Ligar e perguntar o que fazer? Ou chorar? Ou tentar? Ou apenas abraçar a filha que está inquieta? Eles ligam para a terapeuta que fala para levar a menina no dia seguinte.
Monise continua inquieta. Continua com raiva. Continua triste. Continua… o mais importante é sempre continuar. Nunca parar.
***
Luciana
Luciana acorda, mas quer dormir de novo. Tem que correr na praia. Mas também quer ficar na cama. Ela olha e vê ao seu lado a amiga que acabou dormindo por lá mesmo. Bárbara chega a roncar. Luciana coloca o travesseiro em cima do rosto. Quer levantar. Mas e a vontade de não levantar?
Ela resolve sair da cama. A vontade de fazer xixi foi mais forte que a preguiça. E uma coisa desencadeia outra. Acaba escovando os dentes, tomando banho. Acaba por acordar e pensar em comer alguma coisa. E pensa em sair. E tem que acordar a Bárbara.
Babi é uma menina que dorme muito e pesado. Nem se o prédio desabasse e abrisse um buraco naquele lugar do Rio de Janeiro, ela acordaria. E Lu descobre isso depois de tentar acordar. E jogar água e apelar para o gelo. Colocando-o dentro de suas calças. A amiga acorda gritando.
- Vai tomar no cu, Luciana. Que isso? Quer me acordar, me come.
- Eu quero sair para correr. Não posso te deixar aí dormindo.
- Pode sim. Me deixa dormir. Depois que você chegar eu dou banho em você, filhinha.
- Levanta, Babi. Vem comigo. Preciso de alguém para me segurar se eu quiser fazer merda.
- A praia inteira te conhece. Monte de mulher para te segurar.
- Você ainda não entendeu, que estou com muitas coisas na cabeça?
- Quem tem coisas na cabeça é o Gustavo. Os chifres que você coloca nele.
- Eu preciso de um amor. Paixão é bom, mas passa. E eu sei que não tenho mais nada de amor de mulher pelo o Gustavo. Parece que eu transo com um irmão.
- Que nojo, Lu.
- Sério.
- Quer falar sério? Você está precisando é sair. Se divertir. Beber todas com todas os sapatões. Comer a professora. Sossegar.
- Será que consigo?
- O que?
- Sossegar?
- Difícil, mas quem sabe algum século?
- Você é uma comedia. Sua vadia. Eu te amo.
- Também te amo, sua sapatão linda.
falta de tempo = capítulo curto.
beijos