domingo, 14 de novembro de 2010

Décimo Capítulo – normalidade ou não… um filme da vida

Catherine

        Ela sai da casa de Alicia, mas mentiu. Cat não dá aulas aos sábados, muito menos na hora do almoço. Ela não saiu por causa da presença física da mãe da menina, mas a estranha presença de Vanessa. Catherine queria que Alicia só para uma noite, mas sentiu algo estranho. Aquela senhora falando da outra moça a incomodou. Um incomodo que nunca sentira. O sentimento que a dominou foi a vontade de brigar com a Vanessa e não a raiva daquela senhora de cabelos pintados de loiro.

        - A Alicia fez uma escultura dessa tal de Vanessa em detalhes? Quer dizer que a conhece bem. Se duvidar nem ex é. As duas devem ter se encontrado ontem e “e feito amor”. Com certeza. Deve ter sido essa Vanessa no telefone ontem. A Alicia deve está querendo me usar. E se elas forem do tipo que tem relacionamento aberto? E a Alicia está cassando uma para trepar com as duas. Bem, se a outra for tão linda e gostosa como a Alicia. Mas, não… não… ela está me enganando. Está mentindo para mim.

        Catherine prestou atenção depois no que havia dito sozinha. Aquelas palavras significavam apenas uma coisa.

        - Ciúmes?!? Eu?!? Ah! Que bobagem. Eu só quero comer a Alicia e tchau. Não tem motivos para ciúmes. Eu mal a conheço. Nem teria como me apaixonar. Pouquíssimo tempo. Dois dias? E nunca rolou nem um beijo. Não sei qual é o gosto dela. O jeito dela na cama, de beijar. Mas é tão linda. E a forma dela de falar… de olhar… sorrir… Mas isso é tesão. Eu quero comer essa garota. Está difícil, mas eu vou conseguir. Quanto mais difícil, mais vontade eu tenho.

        Catherine para por instantes de dialogar com a sua própria pessoa, ascende um cigarro e não consegue pensar aonde deve ir. Vai até primeira lanchonete e come um sanduíche com suco de laranja, mas está complicado para engolir. Termina, paga a conta e ascende outro cigarro. E ela continua a andar. Tanto que chega ao bar da primeira noite que viu Alicia. Está fechado. Só abre depois das dezoito horas. Ela senta em um banco na praça e olha para o vinho. Vai até o boteco ali perto e pede para um rapaz atrás do balcão abrir a garrafa. Volta para o banco e começa a beber.

        Ela ascende mais um cigarro.


***

Alicia

        A mãe de Alicia fica o almoço inteiro falando de Vanessa e criticando o jeito de Catherine. Comparando as duas. Alicia ficou calada. Não queria dizer nada, pois sabia que brigaria com a mãe. Já ao final, sua mãe diz que ela deveria voltar para a Vanessa. A filha levantou com raiva e bateu na mesa.

        - Mãe, presta atenção. A Vanessa terminou comigo. Ela não quer saber de mim. Voltou para o João Pedro. Está transando com ele. Aliás, ela me traiu uma semana inteira com ele. E você diz que eu e ela temos que voltar? Ela não me quer mais. Quer dizer, aquela safada me quer como amante. Veio aqui, me beijou e foi embora. E você quer que voltemos? E você espantou a Catherine daqui. Se ela queria só uma noite comigo, ótimo, pois é isso que eu quero com ela. Sexo. Entendeu? Você atrapalhou a minha futura transa e ainda me magoou falando o tempo inteiro da Vanessa.

        - Desculpa filha. Eu não sabia que era assim.

        - Mas é. E agora, mãe, por favor, eu quero ficar sozinha.

        - Tudo bem. Mas ainda acho que essa tal de Cat não é para você.

        - Eu que sei, mãe. Eu que sei.

        - Tudo bem. Estou indo embora. Mas você precisa de alguém. Sua irmã tem a Verônika há seis anos e você fica sozinha?

        - Acontece, mãe. Acontece. Agora a senhora pode ir embora. Amanhã a gente se fala no trabalho.

        - Tudo bem. Tchau.

        Alicia respira fundo. Ela não sabe o que fazer. Ficou com raiva da mãe. Dona Antônia sempre foi controladora. Queria decidir pelos filhos. Todos saíram cedo de casa para não terem que ouvir que eles deveriam fazer isso ou aquilo em situações pessoais. Alicia ainda trabalha com a mãe, mas viver juntas não tem como mais ser. Dona Antônia, apesar de viver sem os filhos e ser viúva há cinco anos, ela nunca está só. Tem já um namorado há um ano, além de ter amigas que estão sempre fazendo companhia.
       
        Alicia anda de um lado para o outro. Arruma a mesa e a cozinha com o pensamento em Catherine. Queria ligar para ela, mas estava sem graça. Resolve ligar para a irmã e contar o fato, porém, ninguém atende na casa.

        - Deve ter saído com a Vero.

        Precisava conversar com alguém. Marcos? Por que não? Tudo bem que ele é homem, mas o importante é desabafar. Pega o interfone e o chama. Pouco depois estava aquele novo amigo ali, de bermuda e chinelo, na porta do apartamento de Alicia.

        Marcos entra e Alicia pede para ele se sentar no sofá. Ela está muito estressada e ele com seu ar sério, mas com uma sombra de sorriso-moleque. Ela diz que precisa conversar com alguém. Que está confusa, estressada e se sentindo sozinha.

        - Como uma mulher linda como você pode ter tantos problemas e ainda se sentir só?

        - Pois é. Estou me sentindo péssima.

        - Conta tudo que lhe aflige, gata.

        - Minha ex-namorada é louca e eu ainda a amo. Ela termina comigo em um dia e no outro vem querendo ir pra cama comigo. Parece que ela não sabe se quer um homem ou uma mulher. Acho que ela quer ser namorada de um cara e amante de uma garota. Sabe, ontem ela veio aqui e nós nos beijamos e quase fizemos amor, ou sexo, sei lá. Só não fomos até o fim, porque o namoradinho corno dela ligou.

        - Caraca… que garota sem noção. Trocar uma gata como você por um cara. Ela é muito burra.

        - Pois é. Além dela, no dia que terminamos, eu conheci umas meninas em um bar. Legais, simpáticas, bonitas. Mas uma delas, a mais velha, me ligou. O nome dela é Catherine. Cantora. Tem um jeitão sedutor. Um olhar, mãos, boca, voz… Cara, eu estou louca para trepar com ela e parece que ela também quer.

        - Lógico. Ela e toda a torcida do Flamengo.

        - Ontem, antes de eu vir pra casa, eu estava na casa dela e quase rolou um beijo…

        - Vocês ainda não se beijaram?

        - Não… na hora que ia rolar a Vanessa, minha ex, me ligou. Cara… loucura. Daí eu não transei nem com uma nem com a outra.

        - O nível do tesão lá em cima. A sua… ahm… eu não sei se falo xana, vagina, buceta… enfim… isso que você tem no meio das pernas, está até batendo palmas de tanta vontade que você está.

        - Sim… Mas eu tentei de novo. Liguei para a Catherine…

        - A cantora?

        - Isso. Então, hoje de manhã liguei para ela e decidimos de almoçarmos juntas aqui. Seria perfeito. Uma comidinha gostosa, um vinho que ela trouxe, apesar de eu já ter um aqui guardado para essas ocasiões. Daí papo vai, vinho vem e pronto… iria rolar.

        - E não rolou?

        - Minha mãe apareceu e perturbou tanto que ela foi embora.

        - Caraça… que raiva, maluco. Poxa, porque sua mãe fez isso?

        - É cara. Ela é assim mesmo. Ciumenta, controladora e ela adora a Vanessa. Agora eu briguei com a minha mãe, estou sem namorada e sem a noitada de sexo com a Cat.

        - É… Alicia, gatinha… desculpe a franqueza, mas você precisa de sexo.

        - E agora? O que eu faço? Ligo para a Cat?

        - Ela deve estar meio chateada.

        - Pois é…

        - Assim… normalmente diria à você que para sexo eu estou aqui. Mas com você não rola. Viu o problema de você ser lésbica. Se fosse pelo menos bissexual.


        - É…

        - Vamos beber?

        - Eu praticamente não bebo.

        - Assim… mas se o coração está uma bosta, o melhor é beber para afogar as magoas e esquecer da falta de sexo. Eu ligo para um lugar e peço umas cervejas. Só para no livrar do stress. Daí conversamos. Podemos ver televisão. Um filme, sei lá… Topa?

        - Por que não? Eu topo.

        Marcos liga e pede as cervejas e aproveita, liga para uma pizzaria e pede uma de calabresa e outra de frango com catupiry. Ela resolve ver em um dos canais que passam filmes, algum interessante para os dois.

        Filme, cerveja e pizza. Um homem e uma mulher.

        O filme é de suspense. Eles antes do filme falam sobre vários assuntos. Sobre pizza e outras massas, sobre filmes que assistiram… sobre ex-namoradas… sobre mulheres. Ele pega o Bartolomeu e brinca com ele. Faz carinho e fala que ele será sempre o Bart. Que os dois já tem intimidade. Ela sorri para o amigo. O filme começa e eles continuam bebendo, comendo, conversando e rindo. Marcos alegra sua amiga. Ela até esquece do stress.
       
        Cerveja entra e o filme já nem interessa. As pizzas já foram formas de exemplificar tudo. Desde coisas mais sérias como uma visão política e econômica, passando por vidas amorosas até sexual. O que era um problema se tornou em piada na boca de Alicia. Começou a rir de seus problemas. E ela que não está acostumada a beber, acaba por dormir no colo de Marcos, que adormece também. Os dois no sofá em plena tarde de domingo com a TV ligada.

***

Bruna

        Ela se arruma buscando a beleza de dias ímpares. Dia ímpar, dia único. Algo que pudesse chamar atenção e encher os olhos alheios de todo ar lindo que esta moça exala ao andar com um sorriso contente. Bruna não gosta de ficar triste e quando fica, busca atentamente por qualquer centavo de alegria perdida pelos cantos ou esquecida em algum bolso. E foi Bárbara que mostrou aqueles centavos alegres, pois Bruna notou que a Babi notou a beleza dos dias ímpares em mais um dia par. São poucas pessoas que reparam na beleza cotidiana, a beleza feijão com arroz. A maioria insiste em enxergar na beleza cara e rara do caviar.

        Bruna se veste, olha no espelho, troca a blusa, coloca a vermelha, tenta a roxa, desiste da calça e tenta a saia, mas esta é melhor com aquela blusinha branca. Ela se maquia. Uma maquiagem delicada para dias de Sol. Uma leve sombra de maquiagem e junto o batom que parece elevar toda mulher a condição de rainha. Majestosa, atraente e completamente, simplesmente e diretamente linda. Um batom que dá vida aos lábios e o gloss que realça essa vida.

        E o telefone nada de tocar…

        A ansiedade de Bruna não é só de o telefone tocar e sair com a Bárbara. É bem maior. É uma forma de fugir de tudo aquilo que a faz mal.

        - E se a Cássia me vê com a Bárbara? Ou se for a Ligia?

        Sorriu e escutou o som vindo do celular. Bárbara falou que pode ir buscar a menina em seu prédio e de lá elas iriam ao cinema. Está passando um filme ótimo. Bruna topou a idéia. Passou seu endereço para a “amiga - pretendente” e avisou os pais de sua ida ao cinema. Correu ao espelho, conferiu o visual, calçou uma sandália rasteirinha, pegou uma bolsa com identidade, carteira da UNE, dinheiro, batom (é lógico), celular e chiclete. Ela sempre tem chicletes com ela para aliviar a ansiedade.

        Bárbara chega ao prédio da moça e o porteiro interfona ao apartamento de Bruna. Ela corre para atender e avisa que está descendo. No elevador está Diana, amiga de Cássia, Bruna a cumprimenta por educação. A acha fofoqueira. As duas descem na portaria, onde Bruna encontra com Bárbara e sai. Diana vê e interfona de imediato e comunica à amiga.

        Bruna e Bárbara começam a falar da beleza do bairro e da praia. Babi elogia Bruna, que retribui a gentileza. Elas vão até o ponto de ônibus e resolvem ir ao Shopping Rio Sul, em Botafogo. Bruna diz que ama ir nesse shopping. Babi diz que prefere o outro do mesmo bairro, mas o Rio Sul é bonito.

        Elas sobem as escadas rolantes. Chegam ao cinema, escolhem o filme e compram os ingressos. Bárbara compra pipoca e refrigerante e a Bruna opta por pães de queijo e suco. Elas entram. A sessão está para começar. As moças dão risadas com um dos trailers. Babi diz que ama filmes. Adora vir ao cinema e Bruna fala que gosta também. O filme começa. A atenção a princípio parece ser só no filme até que Bárbara segura na mão de Bruna que a olha. Elas se aproximam… aproximam e… um beijo acontece. As duas ficam avermelhadas de vergonha, tom este não reparado no escuro do cinema. Elas estão sentadas no fundo do cinema. Bárbara continua segurando na mão de Bruna. Por cinco anos Bruna beijou apenas Cássia. É a primeira vez que beijava outra boca. Primeira que beijava no cinema. Primeira vez que beijou perto de pessoas estranhas. Primeira vez que se sentia nervosa, ansiosa por um beijo, que não é em Cássia. Aliás, ela foi beijada por Ligia, mas ela considerou apenas os beijos de Cássia e agora o de Bárbara.

        Bruna vira e a beija de novo. Como é bom beijar quem te deseja. Como é bom fazer algo escondido. Como é bom ser desejada.

        Naquele momento o filme e o cinema e as pessoas e tudo, pipoca, refrigerante, pão de queijo, suco, tudo virou mera figuração daqueles beijos. As bocas já não se desgrudam. A vontade é de estar a sós. A sensação é de aquela união solitária. Como mais ninguém estivesse no cinema. A respiração é ofegante e as mãos trêmulas. Os corpos acesos e as línguas não param.


***

Monise

        Enfim, Monise sai do hospital.

        Do branco do quarto ao banco do carro. Os pais conversaram, mas pela janela fechada um filme de cinema mudo vai se revelando para aqueles olhos secos e pesados. É mudo, pois os sons que a vida passa não a interessam. As conversas, canções e risos alheios. E como sorriem. São alegres? Por quê? Mas o mundo não é injusto? Talvez seja porque fazemos parte dele. Se a sociedade é sempre culpada é porque somos, como seres individuais, tão culpados quanto. Culpados pelo o quê?  É só olhar nos jornais tingidos de rubro sangue. Ou melhor, apenas reparar na fome, miséria, violência e todo o resto que nós sociedade fingimos não existir, preocupados com a roupa que vamos para alguma festa.

        “O mundo é egoísta, porque assim somos”, palavras estas refletem nos olhos daquela menina de mão enfaixada, trancada dentro do carro. A dor da realidade grita crueldade. “Se todos nós somos egoístas, porque reclamamos tanto do egoísmo do outro?” Parece uma dúvida complicada, porém a resposta é simples. Reclamamos, pois dentro do nosso egoísmo, queremos ser egoístas sozinhos. O resto que se vire para fazer o mundo melhor. Mas nós, eu sou, o resto também.

        Monise que entender o motivo que faz tanta gente, dos mais ricos aos mais humildes, sorrir. “O que essas pessoas acham de tão engraçado para carregar estes sorrisos?”, pensa esta menina sem esperança. Talvez esta seja a diferença entre o feliz e o triste: a esperança. Esperança que depois de um dia inteiro de chuva, o outro amanhecerá esbanjando Sol. Pessoas que tem esperança em ganhar na loteria. Ganhar um beijo. Ver um arco-íris. Esperança no seu time do coração. Na bolsa de valores. Que a novela seja boa. Esperança nos filhos, pais, irmãos. Esperança na religião. Em Deus.

        As pessoas só podem acordar felizes se tiverem esperança. Os que não esperam por nada acabam por entrar em depressão. Contra um pensamento ruim, apenas o bom para salvar. E a vida continua. Continua para quem quer continuar. É um ciclo. O estranho ciclo da vida. E quem é que quer viver?

        O estranho filme acaba. Na garagem é tudo cinza. O colorido é dado por alguns carros ali parados. Seus pais falam alguma coisa para a menina sair do carro. Ela sente como tudo fosse à primeira vez e observa o que lhe cerca com certo estranhamento e admiração. Sempre que volta de uma quase morte, ela se sente assim. Alguém que acabara de recuperar a visão e saiu do escuro.

        A jovem loira e tatuada entra no elevador. Nenhuma palavra sai de sua boca. Repara em todos os detalhes, em todas as luzes e chega à porta de casa. “Como esta porta tem detalhes”. Entra e olha a sala. Seus pais estão cansados. Monise está viva mais uma vez. Parece que sua vida não lhe cansa de dar oportunidades. Ela vai até um grande espelho que tem na sala de estar e repara em seu rosto, sua pele pálida, seus cabelos curtos, suas olheiras. Lembra quando era ainda mais jovem. Seu jeito moleca, atrevido, sua pele avermelhada de tanto correr, seus cabelos compridos e lisos. Não tinha olheiras, nem piercings, nem tatuagens, nem tristeza. Seu sorriso era lindo e sincero. Hoje é lembrança do álbum de retrato. Talvez ela tenha que se enxergar mais a fundo.

        Sua mãe a interrompe perguntando se ela ainda queria batata frita. Monise fez sim com a cabeça, sorriu, virou para a mãe e falou que quer bolo de chocolate. Sua mãe lhe sorriu de volta. Parecia aquela menina levada que andava de boné virado para trás e adorava skate. A menina que ia feliz para escola, não para aprender matemática ou língua portuguesa, mas para fazer piadas com os amigos. A menina amiga de Fred. Menina de olhos contentes. Onde essa menina foi parar?  Talvez nem ela saiba.

        A mãe de Monise sente saudade da filha. A filha sente falta de sua própria alegria e daquela que os pais tinham. Mas depende dela. Depende do quê? Por quê? É ela. Monise. Linda, loira, classe média alta. Olhar que murchou igual a flor de jardim quando é arrancada. Quem ou o que tirou Monise da terra? Que ou quem a tirou dela mesma? Seu corpo parece oco. Sua alma está perdida junto da sua felicidade.

        - Filha, aqui as batatas? Você tem que se alimentar. O que quer comer?

        - Comida chinesa.

        - Vou pedir.

        - Mãe…

        - O que foi?

        - Eu amo você e o papai.

        - Nós também te amamos.


***

Luciana

       
        O seu silêncio na mesa foi tão estranha, que preocupou seus pais. Nunca viram a filha séria e calada daquele jeito por tanto tempo. O pai resolve quebrar o gelo e o silêncio dizendo à Lu que ela poderia sair do castigo. Ela apenas agradece, termina o almoço, pede licença e vai para o quarto. Está chocada com o que ficou sabendo de Monise. Luciana é tão alegre que não compreende a tristeza. Ainda mais aqueles atos. Ela gosta tanto de viver, que enxerga qualquer ato contra a própria vida alguma coisa insensata. E é.

        Ela queria entender. Ela queria saber… Queria? Ela quer, pois é uma necessidade. Como alguém pode ser infeliz em um mundo tão lindo. A vida é maravilhosa que as lágrimas parecem sempre injustificáveis. Ainda mais nesta cidade, onde o azul do céu parece ser o mais belo. Tem o mar, a praia, árvores, flores, pássaros. A natureza dá um show. A vida é incrível. Existem problemas? Sim, mas nós que criamos. Se pudermos criar problemas, também somos capazes de criar soluções.

        Solução. Luciana quer ajudar Monise e achar isso, a solução. Luciana Resolve dar uma volta para pensar. Anda, anda… anda… até que repara no seu caminho. Ela está indo ao bar que conheceu a Monise, Bruna, Catherine e Alicia. E decide ir lá de vez. Quem sabe lá, justo lá, uma idéia surge. Quase não anda, já corre. Chega a praça próxima do bar. O bar a esta hora está fechado. Ela olha a praça e vê uma moça bebendo alguma coisa pelo gargalo. Parece vinho. E fumando sentada em um dos bancos da praça. Parece frustrada e pensativa.

        - Mas eu acho que já a vi. Mas… é a garota do violão.


***

Encontro Casual (Catherine e Luciana)

        Luciana se aproxima da cantora.

         - Você acredita em destino?

        - Se o destino for um cara gozador, eu acredito.

        - Não me reconhece?

        - Hey!!! Você estava neste bar sexta!

        - Sim. Você é a garota do violão, que batia a cabeça no balcão… ops… rimou…

        - Isso. Você é a louquinha que puxou assunto comigo.

        - Exatamente.

        - É… destino, não é?
       
        - Parece.

        - Você não sabe o que esse cara gozador anda aprontando comigo.

        - Diga.

        - Lembra daquela garota que estava no bar de olhos verdes, chorando… uma das cornas…

        - Sei sim…

        - Então, saí com ela. Almocei na casa da irmã dela com ela e a cunhada.

        - E aí? Ficou com ela?

        - Não.

        - Como não?

        - Tudo parece nos aproximar e depois afastar. Pior que estou com muita vontade de ir para cama com ela.

        - Que foda! Mas tenta de novo. Ela é gata…

        - Muito gata. Mas… ah! Cara! Nunca tive dificuldade pra trepar com ninguém.

        - Ela quer?

        - Sim. Pelo menos parece. É o resto que atrapalha. Mãe, a ex…

        - Leva ela pra sua casa e a tranca e diz que ela só sai se der para você.

        - Boa… boa…

        - Pois é. Para idéias de sexo desesperado chamem a Lu aqui. Sou muito boa para pensar nisso.

        - Sério? Mas você parece ser tão nova…

        - Sou. Tenho dezessete anos. Fico maior de idade no final de novembro.

        - Opa! Festa!

        - Com certeza. Aniversario meu sempre rola festa. Sou muito sociável. Mas voltando ao assunto mais interessante: Sexo. Eu só sou boa em sexo escondido, aflito, corrido e desesperado, porque eu tenho namorado.

        - Mas vocês dois só trepam correndo?

        - Não… não… o sexo desesperado não é com o Gu, mas com as meninas que eu fico.

        - Esperta você… mas tem que ser mais devagar com as mulheres… o melhor do sexo entre duas mulheres do que com homem é que com a gente demora mais… é mais excitante… mais gostoso… mais quente…

        - Eu faço o que posso. Eu amo muito meu namorado pra deixar de ficar com ele, mas eu também amo as mulheres. Não quero deixar de ficar com elas também.

        - Freud explica?

        - Acho que nem ele…

        - Mas e aí… o que conta de novo? Por que veio de novo a esse bar?

        - Cheguei aqui sem querer. Mas eu estou meio pensativa com um lance.

        - O que foi?

        - Lembra naquela mesma noite em que nos conhecemos, tinha uma menina loira de cabelos curtos…

        - Sei sim… comeu ela?

        - Não. Sabe… eu tenho impressão que eu conheço de outro lugar, mas não é isso.  Eu liguei pra ela hoje. Ontem nos encontramos de tarde e foi legal. Mas hoje, ao falar com ela notei que sua voz estava estranha. Ela está no hospital.

        - Morreu alguém?

        - Cara, pior que isso. Ela foi hospitalizada.

        - Por quê?

        - Ela falou alguma coisa com cocaína e punhal.

        - É… essa menina tem problema…

        - Eu percebi. Eu quero ajudá-la, mas não sei como.

        - É… menina… está foda para nós duas…

        - O que faz uma menina bonita atentar contra sua própria vida?

        - Ela deve ter alguma coisa que a faz muito infeliz. Trauma de infância. Sei lá…

        - Pois é…

        - Lu… esse é o seu nome, não é? Vamos fazer uma coisa. Nos unir para solucionar os problemas dessas garotas que estamos querendo levar para a cama.

        - E também tem a Bruna. Ela estava no bar também e é corna de namorada e amiga.

        - Lógico. Vamos traçar um plano.

        - Aquela garota dos olhos verdes parece ser do tipo que pra trepar tem que conquistar.

        - É… e eu que já conheci mãe, irmã, cachorro… em dois dias… E olha que eu só quero sexo. Como pode isso? Se eu quisesse casar com ela eu não teria conhecido as duas assim, direto.

        - Você poderia ver o que ela faz e mostrar interesse. Mulher ama ser alvo de atenção.

        - Pelo o que eu entendi ela é artista plástica. Escultora.

        - Que delicia. Ela, com certeza, é boa com as mãos.

        - E como deve ser… só de pensar fico arrepiada…

        - Ah… leva ela para museus, exposições, teatro… ela deve adorar esses tipos de coisas. Umas coisas mais sofisticadas e culturais.

        - Boa… bem, a loirinha lá da coca, ahm… você tem que mostrar a ela as coisas boas da vida.

        - Já sei… vou ficar pelada na frente dela.

        - Ai… essa minha cabeça que consegue imaginar tudo que falam. Essa bendita criatividade… só de pensar eu fico querendo também…

        - Quer mesmo?

        - Eu sou da seguinte filosofia: quanto mais, melhor.

        - Você mora longe?

        - Não. Topa?

        - Só se for agora.

        As duas sorriram com o sorriso mais safado de cada uma. Cat jogou a garrafa de vinho vazia no lixo e levou a menina para a sua casa. Não é tão distante. No caminho elas marcaram que deveriam reunir as cinco. Principalmente para auxiliar a Monise.

        - E como podemos ajudar a corna que você falou? Aquela menina em que a namorada e a amiga se pegaram… Bruna, não é?

        - Ah! Essa a minha amiga Bárbara está dando um jeito. Mas ela poderia ajudar com a Monise e a Alicia.

        - Boa… boa…

        - Mulheres…

        - Complicadas…

        - Deliciosas…

        - Como alguém pode viver sem?

        - Nem sendo uma…

        - Você pensa em se casar?

        - Não sei. Se for com homem, só se for o Gustavo. E você?

        - Eu tenho alergia a essa palavra. Prefiro assim: sem amor, sem dor.

         - Faz sentido.

        Elas chegam ao prédio de Catherine.

        - Você mora aqui?

        - Moro.

        Elas sobem e entram no apartamento.

        - E aí?

        - Vamos?

        - É… Vamos…




Nenhum comentário: