sábado, 6 de novembro de 2010

Nono Capítulo – Alô?

Catherine


        Solidão de manhã pode enlouquecer qualquer palavra sã, qualquer pensamento único, qualquer vontade de falar, pensar…

        - Não sei… não sei… O que está havendo comigo? Não vou ligar. Não devo ligar. Ela me deixou com vontade. Ela que ligue. Mas fui eu que fiquei com vontade… Droga. Eu nunca fui atrás de mulher alguma. Elas que me procuram. Mas a Alicia… como é gata, essa menina. Aquela boca, aquelas pernas, a pele, cheiro e olhar. Mulher de comer rezando.

        Existem inúmeros tipos de mulher. Aquela que mesmo que você não preste, ela continua a te amar. Aquela que você é um doce e que sempre vai te odiar. Aquelas que nasceram para serem desejadas até a ultima gota de suor. Aquela que você olha e que casar (as mais perigosas). Aquelas que são para uma noite, ou para todas. Mulheres mães, irmãs, avós, amigas, namoradas, esposas, amantes.  Alicia nasceu para ser todos os tipos de mulheres que você sonhar, desejar, querer, esperar, ascender, morrer, amar… Catherine quer Alicia. Deseja Alicia. Ela está acesa por Alicia. E talvez ela possa esperar por Alicia…

        - Ligar ou não ligar? Eis a questão.

        É complicado saber se deve procurar uma garota ou não. O medo de ser chata, pegajosa e outros adjetivos pouco felizes é algo que está sempre com aquela que pensa ligar.

        - E se ela estiver com a pessoa que ligou para ela? E se ela estiver ocupada? E quem ligou foi a ex dela? Ah! Eu nunca liguei para isso. Eu vou lá, a levo para a cama e pronto. Ela que se vire com a mulher dela.

        Saudade. Catherine estava provando o gosto amargo de uma das mais lindas palavras da língua portuguesa. Saudade dos olhos verdes e pele macia, que ela nem chegou a tocar, mas só de olhar, beijar, ela podia sentir a delicadeza do toque.

        - Pára Cat de pensar nela.

        A loucura pode causar pensamentos. Pensamentos de amor são causados pelas as loucuras. Os amores são casos de loucos. Todo apaixonado, romântico é um louco bem ou mal aventurado.  E a loucura do amor parece um fantasma que está louco para puxar os pés vadios de Catherine. Seu coração está ficando cheio da loucura.

        - Não!

        Ela anda de um lado para o outro. Ascende um cigarro, toma um café. O café está acabando. Os cigarros também. A vontade de beber, de gritar, de cantar… a vontade de ligar…

        Ela liga o som, coloca um CD que ela acha que seja a cara de Alicia: Marisa Monte. E escuta uma canção e começa a cantarolar junto da cantora. De noite na cama. Realmente, ela não quer dar bandeira, mas amor já é demais.

        Ela pensa… pensa… pensa…

        Canta… canta… canta…

         De noite na cama, eu fico pensando…
        Se você me ama… e quando…
        Se você me ama, eu fico pensando…
        De noite na cama… e quando…

        Ela fica alegre com a canção… abre um sorriso… adorou a palavra cama na canção… mas a palavra amor, incomoda. Amor… todos gostam de falar de amor. Mas amar é tão complicado. E qual é o sentido do amor? Ah! É melhor não pensar nisso. Amar é para poucos. Amor é para os loucos.

        Catherine continua a pensar na ligação…


***


Alicia

        Bartolomeu é um cachorro pequeno e amigo. Alicia precisava de uma companhia, de um amigo que pudesse escutar o que ela está pensando. Tem o Marco, que parece ser um bom amigo. Dizem que mulher não tem amigo homem e o contrário também vale. Mas ela acredita que pode realmente ser amiga do rapaz. Em sua conversa ficou sabendo que ele tem vinte e cinco anos e é advogado e trabalha com o pai. Um rapaz bonito, divertido. Bom amigo. Se ela fosse hetero seria um bom namorado. Se ela fosse…

        Olhando o seu cachorro voltou a pensar em Catherine. Queria mostrar o novo amigo para a nova amiga. Mas por que ela pensou nisso? Olhou o cachorro e lembrou da moça. Também pensa na Vanessa. Sempre odiou animais. Qual vai ser a reação dela ao ver Bart? Vanessa… Catherine… duas mulheres que ocupam os pensamentos de Alicia. Quer que Vanessa ligue para ela. Acredita que é melhor não ligar para a ex-namorada. Vai parecer que está se rastejando. Mas não estaria?
       
        E Catherine? Ela parece que gosta de animais. Ou não? Quer ligar para ela. Ficou com a vontade do beijo. Deixou de beijar uma e beijou a outra. O desejo e o amor entrelaçam os seus pensamentos. E se ligar para a Cat ir até a sua casa com a desculpa do cachorro. O beijo pode rolar… o que de fato pode acontecer? Ela é tão atraente. O seu jeito de olhar profundamente. Parece que a conhece por dentro como ninguém. É do tipo que topa tudo. E com ela Alicia toparia. A Cat é a fantasia, Vanessa é a dura realidade. Beijou Vanessa, mas poderia ter beijado Catherine. E a voz de Cat começou a soar em sua cabeça. Ela pensou em ligar. Antes resolveu escolher uma trilha sonora. Marisa Monte. Alicia adora.  Resolveu escolher aquela canção exata para ouvir para pensar em Catherine. Beija eu.


Beija eu,
Beija eu,
Beija eu, me beija.
Deixa
O que seja ser


        - Acho que vou ligar para a Catherine. Será que ela está acordada?

***

Em ligação

      
        TU… TU… TU…TU…TU…TU…TU…

As duas falam sozinhas:

                - Está ocupado.

Alicia:        - Vou tentar de novo. Talvez eu tenha discado errado.



        TRIM TRIMMM TRIMMMMMM…

Catherine:  - Alô.

Alicia:        - Cat?

Catherine:  - Alicia? É você?

Alicia:        - Sim, sou eu. Liguei para pedir desculpas por ontem, pelo o jeito que eu saí de sua casa.

Catherine:  - Eu te perdôo com uma condição…

Alicia:        - (risos) Qual?

Catherine:  - Você almoçar comigo hoje.

Alicia:        - Lógico. É bom que a gente conversa pessoalmente.

Catherine:  - Sim… sim… Fiquei feliz por ter me ligado.

Alicia:        - Sem querer te cortar, mas você está ouvindo Marisa Monte? De noite na cama, certo?

Catherine:  - É… sim…

Alicia:        - Você não tem cara de quem escuta MPB. Sei lá… parece fã de algo como Metálica.

Catherine:  - Eu gosto de MPB. Sou bem eclética. Adoro a Marisa. Mas… você também está escutando alguma música, não é?


Alicia:        - Então beba e receba meu corpo no seu corpo, eu no meu corpo. Deixa… Eu me deixo. Anoiteça e amanheça…
 
Catherine:  - Voz bonita a sua.
 
Alicia:        - A sua que é linda.
 
Catherine:  - Que CD que você está escutando?
 
Alicia:        - Barulhinho Bom.
 
Catherine:  - Eu também.
 
Alicia:        - Parece coisa do destino.
 
Catherine:  - É… não sei se acredito em destino, mas… parece. Eu tentei ligar para você pouco antes de você me ligar, mas deu ocupado.
 
Alicia:        - É… eu tentei e deu ocupado também. Devemos ter ligado ao mesmo tempo.
 
Catherine:  - Uau… Destino mesmo. Mesma música… ahm… nos ligamos na mesma hora… isso está me dando medo (risos)… O que será que mais temos em comum?
 
Alicia:        - Mesmo bairro… mesmo bar…
 
Catherine:  - O acaso está parecendo que quer brincar conosco…
 
Alicia:        - Quer vir em casa almoçar? Eu posso cozinhar algo para nós. E você fica conhecendo o Bartolomeu.
 
Catherine:  - (espantada) Quem é Bartolomeu?
 
Alicia:        - Meu cachorro. Comprei hoje. É lindo.
 
Catherine:  - Eu vou aí, então. Onde você mora?
 
***

Encontro
 
 
          Alicia explica para Catherine onde é a sua casa. Já passa do meio-dia, mas domingo é dia de almoçar tarde. Alicia corre para o banho e depois, bem vestida e perfumada, resolve cozinhar. Pega um livro de receitas para seguir passo a passo e ajudar a escolher um prato. Está ansiosa para ficar sozinha com Catherine. Olha a geladeira: Peixe. Resolve fazer peixe assado com molho de camarão.  Não é difícil e é rápido. Veste luvas e avental. Não quer ficar cheirando a temperos, ou peixe, ou camarão.  Descongela, tempera, corta, ascende forno, fogo… peixe ali, camarão acolá… tomate, coentro, cebola, alho, limão… pimenta… hummm… pimenta é bom.
 
                               DING DONG…
 
          A campainha. Frio na barriga. Tira as luvas e o avental. Arruma A cabelos. Se vê no espelho. Vai atender.
          Abre a porta.
 
          - Mãe?!?
 
          - Oi filha. Vim buscar você para almoçar.
 
          - Eu estou cozinhando. Está quase pronto.
 
          Antes de Alicia fechar a porta sua mãe entra, sente o aroma agradável vindo da cozinha e decide ficar. Domingo ela almoça pelo menos com uma das filhas, já que o filho mais velho mora em Londres e ela já é viúva. 
 
          Alicia fica perplexa. Seu plano com Catherine acabou naquele inicio de tarde. Mal fecha a porta e novamente a campainha toca. Agora é Catherine.
          Alicia olha a “futura ex tarde de prazer” com um ar desapontado. Catherine Alegre entra e diz que trouxe vinho tinto, branco e água tônica. A fartura de vinhos é por não conhecer o cardápio e a água é para agradar o gosto da dona da casa. Alicia está calada. O silêncio e o sorriso de Cat são rompidos com uma voz.
 
Mãe:         - Filha, você quer alguma ajuda? Oi, desculpa, não sabia que a Lili tinha chamado uma amiga para almoçar conosco.
 
Catherine:  - É… pois é… chamou. Vim conhecer o Bartolomeu.
 
Alicia:        - Mãe, essa é a Catherine, amiga minha. Ela é cantora.
 
Mãe:         - Ah! Cantora? Moça, por que tanto vinho?
 
Catherine:  - A Alicia não disse exatamente o que teria no almoço. Na dúvida trouxe os dois.
 
Mãe:         - Ótimo. Eu sou igual a minha outra filha, a Al. Adoro vinho.
 
Catherine:  - A senhora só teve as duas amigas?
 
Mãe:         - Não. Tenho o Alan. Ele mora em Londres. É o mais velho com vinte e oito anos.
 
Catherine:  - Ah! Legal.
 
Alicia:        - Deve estar tudo pronto. Cat você gosta de peixe?
 
Mãe:         - Com este apelido com certeza gosta.
 
Catherine:  - Eu gosto sim.
 
Alicia:        - Ok! Sentem a mesa. Vou nos servir.
 
Mãe:         - Deixe que a ajudemos. Cat vem comigo para ajudar a sua amiga.
 
Catherine:  - Lógico.
 
Mãe:         - Você vai cuidar dos pratos e talheres. Eu e a Lili nos viramos com a comida.
 
Alicia:        - Mãe, essa é a minha casa. Catherine é minha convidada. Ela não precisa fazer nada.
 
Mãe:         - Lili, e a Vanessa, como está? Saudade dela.
 
Alicia:        - Terminamos. Ela deve estar com o namorado dela.
 
Mãe:         - Vocês terminaram? Por quê? Eram tão lindas juntas. A Vanessa é linda, inteligente, educada. Você a conhece, Cat?  
 
Catherine:  - Ah! Não… não… não fomos apresentadas.
 
Mãe:         - Filha, pega a escultura que você fez da Vanessa para a Cat ver.
 
Alicia:        - Quebrou.
 
Mãe:         - Não faz mal, não é? Você faz outra. Fez tantas, mas uma não terá problema.
 
Alicia:        - Outra hora, mãe.
 
Mãe:         - Cat você tem que ver o talento de Lili. Fez a Vanessa e o corpo dela com uma riqueza de detalhes.
 
Alicia:        - Vamos almoçar?
 
Catherine:  - Lili… quer dizer, Alicia, vou ter que ir embora. Esqueci que tinha marcado hoje com um aluno. A gente se fala outra hora.
 
Alicia:        - Não! Fica por favor.
 
Mãe:         - Lili é o trabalho da mocinha. Deixa-a ir.
 
Alicia:        - Mas Cat, você vai ficar sem almoçar?
 
Catherine:  - Depois eu como alguma coisa. Pode ficar com a água e o vinho branco. Tchau.
 
Alicia:        - Tchau. 
 
Mãe:         - Até outro dia.
 
                
          Alicia fecha a porta.
 
Mãe:         - Melhor assim, filha. Eu não gostei dela.
 
Alicia:        - Mãe, ela é minha amiga.
 
Mãe:         - Sei que tipo de amiga. Quero você com alguém no seu nível e não uma garota metida a Dom Juan.
 
Alicia:        - Mãe? O que é isso? A garota não fez nada.
 
Mãe:         - Eu sei qual é o tipo dela. Quer uma noite e nunca mais. Por isso que foi embora. Eu estou aqui e falei da Vanessa.
 
Alicia:        - Vamos almoçar em paz, por favor.
 
Mãe:         - Agora podemos.
  
***

Bruna
 
          O silêncio já estava dando medo. A sensação é de estar dentro de um filme de suspense, onde pode acontecer alguma coisa a qualquer momento. Denis se aproxima da irmã, respira fundo e nada diz. Queria por um fim a dor silenciosa que assombrava aquele apartamento pela manhã. O almoço estava quase pronto e poucas vezes se ouvia alguma voz.
 
          De repente o celular de Bruna toca. Ela olha e não reconhece o número.
 
Bruna:       - Alô?
 
Bárbara:    - Bruna? Aqui é a Bárbara, amiga da Lu.
 
Bruna:       - Ah! Oi. Tudo bem?
 
Bárbara:    - Tudo ótimo. Eu liguei para a gente se ver hoje de novo. Que tal?
 
Bruna:       - É… pode ser. Estou triste com uns lances que rolaram comigo. Falar com alguém como você pode ser bom.
 
Bárbara:    - Alguém como eu? Como assim?
 
Bruna:       - Divertida, alegre…
 
Bárbara:    - É. Faço o que posso. Mas, baby, fica tristinha não. Você é muito linda para ficar assim.
 
Bruna:       - Obrigada. Mas, que horas vamos nos encontrar?
 
Bárbara:    - Bem, eu cheguei da praia agora. Vou tomar um banho, almoçar e depois te ligo para marcar direito o lugar e a hora. Certo?
 
Bruna:       - Certo. Chama a Lu também.
 
Bárbara:    - Tudo bem. Vou falar com ela e falar para ela chamar aquela amiga de vocês.
 
Bruna:       - A Monise?
 
Bárbara:    - Isso. Ela mesma. Nós quatro juntas somos ótimas.
 
Bruna:       - É… foi muito bom o tempo que tivemos para nós, ontem.
 
Bárbara:    - Eu também gostei. Vamos fazer isso mais vezes.
 
Bruna:       - Lógico. Sempre bom fazer novas amigas.
 
Bárbara:    - Com certeza, gata. Deixa-me desligar, se não minha mãe me mata. E eu tenho que tomar banho.
 
Bruna:       - Ok. Beijos. Obrigada por ter ligado.
 
Bárbara:    - De nada, gata. Ligarei mais vezes. Beijos. Tchau.
 
Bruna:       - Tchau.
 
          Uma ligação. Uma simples ligação fez o Sol aparecer para Bruna e o silêncio morreu. O jovem almoça alegre e seu sorriso contagia a família. Todos conversam e se sentem alegres. O Sol voltou a sorrir.
 
***

Monise
 
          Se em uma casa falta água, a solução é ir à busca da mesma. Se uma pessoa anda triste, a alegria é o remédio. Mas para alguém sem esperança? Como dar esperança? Conseguir alegria é mais fácil do que esperança. O mundo está sendo destruído. Economicamente, ecologicamente, humanamente. Não tem como ter esperança. As pessoas estão cada vez mais individualistas. Como dar uma palavra de esperança? Ainda mais para uma jovem como a Monise. Ela deixou de acreditar nas pessoas. Uma menina de dezesseis anos sem esperança. Justo ela que tem de tudo. Nunca passou fome, sempre estudou nos melhores colégios, os pais sempre lhe foram afetuosos, sempre teve amor, amizade, carinho, atenção e bens materiais. Mas ela não tem esperança no mundo, nas pessoas e, principalmente, nela mesma. Anda triste. Na escola está sempre sozinha. Tem problemas para fazer trabalhos em equipe. Tem problema até para olhar para o espelho. Mal vê seu próprio reflexo. Triste e só. Mas ela não deseja a sua infelicidade, mas não consegue se reerguer.
 
          O médico chama os pais da menina. Diz que a jovem vai ter alta em poucas horas, porém se ele souber que ela tentou se matar novamente, ele vai ser obrigado a pedir a internação da menina em algum hospital psiquiátrico. Ele diz do absurdo que é o fato da menina ter vindo ao hospital inúmeras vezes por tentativa de suicídio. Como uma menina de dezesseis anos pode sofrer tanto para tentar se matar tantas vezes? Os pais dela estão de cabeça baixa. Mesmo que tenham vontade de argumentar algo, não tinham palavras. O médico está certo. Mas o que eles podem fazer? Ela está deprimida e os pais não sabem o motivo. Não recordam nenhuma situação que pode remeter àquela depressão. Sabem que tudo aconteceu um ano e meio atrás. Ela tinha catorze anos, prestes a fazer quinze. Era inicio do ano de dois mil e sete. Fevereiro. A partir daquele mês, todo dia virou quarta-feira de cinzas.
 
          Psicólogos, terapeutas, pai, mãe, tios, primos, amigos, Fred, ninguém tirou uma palavra dela. Fred foi embora. Eles nunca mais se falaram. Não é o fato de cada um estar em um país que os afastaram. Foi o silêncio de Monise que afastou o amigo. Seus pais são os únicos que não desistiram ainda, mas não insistem para ouvir suas palavras. Talvez novas amizades possam ajudar a menina.
 
          Monise chama os pais e pergunta quando vai sair do hospital. Ela quer saber o que o médico falou para eles. A mãe diz que em breve estarão todos em casa. Ela tenta sorrir e diz, mais para animar os pais, que está com vontade de comer batata frita. Eles disseram que iriam comprar para a menina assim que eles fossem para casa.
 
          Um celular toca. É o de Monise, que está na bolsa de sua mãe.
 
 
***

Luciana
 
 
          Chegar em casa. Tomar um banho e esperar o almoço. Mas atos simples não combinam com a Luciana. Ela vai ao seu quarto e liga o som bem alto e tranca a porta. Vai se despindo em frente a um grande espelho insinuando um striper.  Dá risada dela mesma e admira seu corpo nu. Até que toca no rádio aquela canção que ela ama. Aumenta mais o som e pega o controle do aparelho de DVD e faz de conta que é o seu microfone. Sobe na cama e canta, pula, faz a cena nua. Sem tirar os olhos do espelho. Quando a música chega ao fim ela se joga na cama e começa a dar risadas. Ela entra no banho e continua a cantar debaixo do chuveiro. Ela é naquele louco momento uma pop star. Quantas vezes ela já “ganhou o Oscar” debaixo d’água. Com discursos longos e divertidos. Para a Luciana, o banho só vale se tiver alguma emoção criada pela sua mente de menina. Seu pai bate na porta para que a moça diminua o som. Não adianta, ela não escuta. Luciana se ensaboa e lava os cabelos como fizesse propaganda de cada produto. “Use o shampoo Tal para deixar seus cabelos bonitos, cheirosos e fortes como os meus”.
 
          Sai do banho e enxuga o corpo. Escuta o pai reclamar do som alto e diminui. Olha-se novamente no espelho. Ainda está nua. Não tem pressa. Hoje é domingo. Admira o próprio corpo.
 
          - Eu sou um espetáculo de mulher. Como eu sou linda, gostosa, vitaminada. Eu me causo tesão.
 
          Ela começa a rir com ela mesma. Passa desodorante, creme hidratante, perfume e penteia os cabelos. Veste a calcinha pequena e o sutiã, os dois da cor branca, que faz contraste com a pele dourada de Sol. Olha o celular. Abre um sorriso e o pega. Disca alguns números e espera.
 
***
 
Em ligação (Luciana e Monise)
 
Luciana:                   - Alô, Môzinha é você?
 
Mãe de Monise:         - Oi. Quem está falando?
 
Luciana:                   - Aqui é a Luciana, eu queria falar com a Monise.
 
Mãe de Monise:         - Um minuto, por favor.
 
Monise:                    - Oi?
 
Luciana:                   - Môzita. Linda. Tudo bem?
 
Monise:                    - Oi Lu. Ah! Não está tudo bem não.
 
Luciana:                   - O que aconteceu?
 
Monise:                    - Estou no hospital.
 
Luciana:                   - Como? Seu Pai? Avô? Tio? Tia? Primo? Prima? Tia-avó? Vizinho? Conhecido?
 
Monise:                    - Eu. Sou eu mesma. Passei a noite no hospital.
 
Luciana:                   - Como assim você? No encontramos ontem e você estava bem.
 
Monise:                    - Eu me machuquei.
 
Luciana:                   - Como?
 
Monise:                    - Com cocaína e um punhal.
 
Luciana:                   - Como?!? Por quê?!? Você é viciada?!? É suicida?!?
 
Monise:                    - Não vou viciada e tentei morrer algumas vezes. Mas não quero falar sobre isso.
 
Luciana:                   - Eu posso ir te ver?
 
Monise:                    - Não sei se é o melhor. Eu vou ter alta em breve.
 
Luciana:                   - Quem bom. Então, não foi tão sério.
 
Monise:                    - Amanhã vou começar outra terapia.
 
Luciana:                   - Você não precisa de médicos, precisa de uma amiga. Você agora tem a Lu aqui.
 
Monise:                    - Certo, Lu(risos contidos). A gente se vê pela semana.
 
Luciana:                   - Eu queria te ver hoje.
 
Monise:                    - Hoje não. Eu quero ficar sozinha.
 
Luciana:                   - Tudo bem. Entendo. A gente se vê por aí.
 
Monise:                    - Tá legal. Tchau.
 
Luciana:                   - Melhora aí, linda. Beijos. Tchau.
 
                
                Desligam o telefone
 
***

Luciana
 
          Luciana fica triste. A nova amiga tem problemas. Todos têm problemas, mas o dela parece ser sério. Cocaína? Punhal? Luciana fica na cama parada pensando em Monise. O que será que ela tem? Será que são os pais? Talvez não. Parece mais sério. Bem mais sério.
 
          - Preciso de um plano para passar a minha alegria para a Mô.
 
          Mas não é fácil. A felicidade de Luciana é contagiante, mas não passa por “osmose”. Luciana termina de se vestir, desliga o som e vai almoçar com os pais. Luciana está calada.

Um comentário:

Lilith disse...

heyyy.. cada semana eu gosto mais andy..continue e aii vai uma dica p vc criar um romance, eu assisti um seriado, se chama once and again,tem umas cenas bem lindas da jessie e da katie, vc consegue pegar no youtube algumas,da uma olhada.pensei na bruna, mas da uma olhada e me diz depois, ok