Os dois dormem enquanto a TV fala. Mas o som daquela “máquina de ilusões” apenas colabora com o sono. Como os ninassem. Os dois beberam além do costume. Alicia ingeriu bem menos álcool que o amigo já acostumado, porém, até ele adormecera. Ainda há pizza. O filme está no fim e o sono pesado. Alicia nunca fizera nada parecido em sua vida. Nunca bebera “tanto”, nem dormira com um homem no sofá de sua casa.
A campainha toca.
Alicia, ainda desorientada pelo sono e efeito etílico, levanta e vai atender a porta. Vê que é a sua irmã. “Al aqui?”. Ela atende.
- Irmã? O que você faz aqui a esta hora da noite?
- Ainda são seis da noite. Deixa-me entrar para a gente conversar…
- Você está chorando? Ou chorou?
- Você está bêbada!?! Que cheiro de cerveja é esse? Tem mais?
- Acho que deve ter alguma coisa ainda na geladeira.
- Vou pegar uma e te contar o que houve. Preciso de você, Lili.
- Sim… sim…
Al pega a cerveja e volta dizendo.
- Eu e a Veronika terminamos.
Alicia se assusta com a notícia. Não esperava isso. Seis anos de namoro e agora o fim?
- Por quê? Como assim? Eu estava lá ontem e estava tudo bem.
- Mas não estava. Ela me traiu.
- O quê? Estou ouvindo bem? A Vero te traiu? Ah não! O mundo está acabando. É o apocalipse. Bem que a nossa avozinha falou. Ou é o efeito do álcool. Estou bêbada demais e estou ouvindo coisas.
- Mas é verdade. Tanto que você está bêbada demais, tanto que ela me traiu.
- Explica isso melhor.
- Pior, cara – uma lágrima rola pelo rosto de Al – fui traída por uma farsa, uma máquina. Alguém de mentira.
- Como assim? Uma máquina?
- Uma garota de internet. A Vero está tendo um namoro virtual. E o pior, eu li as conversas. Sabe, dá para notar que a garota está mentindo. Ela se contradiz direto. Eu mostrei para a Vero, mas ela prefere ficar com alguém que nunca tocou, sentiu, beijou do que comigo. Justo eu que sempre lhe fui leal.
- Você já traiu a Veronika que eu sei.
- Eu falei de lealdade e não de fidelidade.
- Mas, desculpa, mas a Veronika é burra de largar você por uma qualquer. Mesmo que fosse uma mulher de verdade e não de computador. Ela é estúpida.
- Se fosse uma de verdade, ainda ia, mas a menina mente na cara de pau. Você lendo a conversa dá para notar. Eu não entendo. O que eu fiz de errado, maninha?
- Eu não sei. O que aconteceu com a Veronika? Ficou louca?
- Ficou. Só pode. Ou eu que não soube amá-la. Isso parece coisa de quem está vazia por dentro. Já não tem mais amor.
- Mas você sempre foi carinhosa com ela…
- É… fui… talvez quem dê muito amor, no fundo não mereça ser amado. Eu não sei o que faço. Sei anos…
- E o que vocês vão fazer com o apartamento?
- Ainda estamos decidindo.
- Se quiser dormir aqui uns dias…
- Vou te atrapalhar?
- Não, amor. Pega suas coisas e fique aqui uns dias.
- Tá. Obrigada. Você sabe que eu posso ter todas as mulheres do mundo, mas você será sempre a que eu mais amo.
- Eu também te amo.
Elas se abraçam e Al vê Marcos no sofá.
- Quem é este homem no seu sofá? De onde ele apareceu?
- Um amigo. Vizinho. Chama-se Marcos. Ele está me dando um apoio.
- Ah! Ta… Vou lá buscar minhas coisas.
- Vai lá. Eu vou acordar ele.
- Se for por mim, pode o deixar dormir.
- Mas é bom acordá-lo.
- Está bem. Deixa-me ir pegar minhas coisas.
- Tudo bem Al.
Al sai da casa de Alicia e entra no elevador panorâmico (aquele que é de vidro e todos vêem o que acontece lá). Dentro do elevador apenas Al e uma outra pessoa. A vizinha do décimo andar. Uma loira linda, com lábios grossos, coxas torneadas, bundinha empinadinha. Linda com uma voz rouca. A mulher chama a atenção de Al, que não tira os olhos do decote da vizinha da irmã. Todos os homens e algumas mulheres desejam aquela mulher. Olhar de safada. Vestido curto. Devote espetacular. Mulher espetacular. Um jeito sexy de falar, andar e agir.
A atenção de Al era tamanha no corpo da loira, que nem nota quando o elevador pára.
- O elevador parou! – fala assustada (ou fingido de) a loira.
- Ahm… Parou o quê? Ah… o elevador… Deve ter parado em alguma andar. Alguém o chamou…
- Parou, mas não foi em nenhuma andar.
- Caramba… e agora? - falou em tom de cinismo - Só nós duas aqui, trancadas em um elevador sem nada para fazer - o cinismo em seu tom de voz continuou -
- Acho que estou passando mal – fala a loira com ar de atriz de quinta categoria – Coloca a mão no meu coração e sinta como está disparado.
A loira coloca a mão de Al em seu seio esquerdo. Al fica excitada com aquela atitude inesperada da loira e diz:
- Se quiser eu posso te deixar calma e relaxada – o ar mistura o cinismo e um olhar levemente safado/cafajeste.
- Como, linda? – pergunta com um ar falsamente ingênuo.
- Fazendo você gozar.
As duas começam a se beijar e esfregar. Al tira o vestido que a loira está vestida. Segura em suas nádegas e morde lentamente o pescoço, como um vampiro em busca do sangue de sua presa. Mas a ultima coisa que ela quer é sangue e sim os gemidos de prazer dela mesma e da loira. As roupas de Al vão sendo retiradas pela a loira. Na rua algumas pessoas notam o caso do elevador e ficam olhando admirados. Sexo entre duas mulheres.
Enquanto isso Marcos é acordado pela a Alicia. O rapaz lembra que tem que levar o seu cão para passear.
A loira abaixa e começa a fazer sexo oral em Al, que geme. A loira parece faminta. Tem uma língua forte e lábios que chupa a jovem no elevador.
Marcos chega à rua com o seu cão e nota que muitos curiosos olham para o prédio onde mora e ele, na curiosidade, resolve procurar o foco de tanta atenção. Não acredita e liga para Alicia vir ver esta cena.
As duas sentam no elevador. O desejo é incontrolável, insaciável. Al abraça a loira por trás e beija sua nuca e esfrega seu sexo nas nádegas daquela tentação em forma de mulher. Com uma das mãos ela acariciava um dos seios da moça e a outra vem subindo pela coxa até chegar ao ponto desejado e esperado pelas as duas.
Alicia não entende o pedido do amigo, mas vai até a rua e ele mostra o que ele enxerga como “a cena mais excitante de sua vida”. Alicia olha… olha… e seu rosto de espanto vai tomando forma.
- Al!?!
- O que é Al? – pergunta o excitado Marcos.
- É a minha irmã.
- A sua irmã é uma das duas que está no elevador?
- A de cabelos castanhos.
- Caraça… Alicia, sou fã de sua irmã. Eu sou louco para comer aquela loira.
- Ela é a cara da Luana Piovani.
- É mesmo… muito gostosa… gostosa com eco.
- É – fala ainda espantada – também queria comê-la.
Al, com seus dedos compridos, penetra na loira, que geme cada vez em um tom acima. O que deixa Al ainda mais estimulada sexualmente. Os corpos não param um segundo em buscar mais prazer. Os dedos de Al não param de penetrar na vizinha do décimo andar em um movimento frenético. Os gemidos e sussurros vão tomando proporções cada vez maiores.
- Marcos, eu não acredito. Ela terminou hoje um relacionamento de seis anos e estava sofrendo. Eu a vi chorar.
- Isso que eu chamo de curar a dor de cotovelo. Aí Alicia, se espelha na sua irmã. Só um bom sexo para curar a dor do amor.
- Você é safado.
- Eu!?! E a sua irmã é o que!?! A rua parou para vê-la com a loira. Qual é o nome dela mesmo?
- Renata. Do décimo andar. A vizinha mais gostosa.
- Junto com você, são as mais gatas do condomínio inteiro.
O elevador volta a funcionar. As duas reparam na loucura que cometeram e se vestem rapidamente e na rua um coro anuncia o desejo daqueles transeuntes.
- Ahhh…
Gritos de:
- PAREM O ELEVADOR DE NOVO!!!
- EU QUERO ESSAS GOSTOSAS LÁ EM CASA!!!
- LÁ
- GOSTOSAS!!! TESUDAS!!!
- EU QUERO COMER VOCÊS DUAS JUNTAS.
Pessoas em seus carros buzinavam. Quando o elevador chegou ao térreo todos as queriam. As desejavam. Alicia leva a irmã de volta para o condomínio e faz cara de quem não está entendo nada. Sua irmã, suada e cansada, sorri e tenta fazer Lili entender.
Lealdade: sempre; Fidelidade: às vezes; Vagabunda: eternamente.
Alicia acompanha a irmã até seu carro. Marcos se aproxima e exclama:
- Irmã de Alicia, você é demais.
- Obrigada.
Ela arranca e vai para a casa dela
***
Bruna
Como uma menina de família que perde a virgindade, diante timidez e falta de uma lógica maturidade sexual, Bruna se sente descabaçada com aqueles beijos de Bárbara no “escurinho do cinema”. Este próprio que geração atrás de geração foi testemunha de tantos amantes envergonhados pela luz do mundo, e que buscam na penumbra a fórmula inesquecível para o primeiro toque dos lábios. Apesar de ser uma moça dos anos 2000, Bruna se enxergou em instante como donzela da década de 1950. E será pecado beijar outra dentro daquela escuridão? Mas é a primeira vez após a primeira vez. Outra mulher soava desafinadamente em seus sonhos de menina que cresceu sem notar.
Os beijos cessam com o olhar assustado de Bruna. “E agora?”, ela pensava. Ela não queria demonstrar o estranhamento que aquela situação lhe passava. Não era moça virgem de décadas anteriores e sim uma mulher da atualidade. Não deve ter essas ‘frescuras’ de menina pura. Pois, hoje em dia quem é realmente puro? Nem quando teve a sua primeira vez com Cássia ficara tão envergonhada. Era um sem querer premeditado de ambas. Bárbara desejou Bruna desde o primeiro ar respirado juntas. Bruna sabia em seu intimo o que aquele telefonema daquela outra moça significava. E agora os beijos misturavam dentro de seu eu a timidez e o desejo.
Bárbara nota, por ainda segurar a mão da outra, o nervosismo se definiria claro com a suadeira, mesmo no ar condicionado gelado. Babi é mais nova um ano que a menina de mãos molhadas e frias, porém, era já uma mulher feita. Aparenta já os vinte e poucos anos. Sempre atraiu olhares dos mais atentados homens, e mulheres. Por saber atrair todo tipo de sexo, aprendera a ser mulher, quando ainda deixava as bonecas. Suas primeiras experiências sexuais foram com os primos mais velhos. Na ocasião, os dois irmãos que revezavam o corpo da jovem parente, tinham dezessete anos e o outro com quinze. Ela começava a entrar na puberdade com a menstruação, pêlos, seios, bunda… ela havia completado onze anos quando o mais velho a encurralou nas escadas de seu prédio e lhe deu um beijo. No mesmo dia, ainda naqueles degraus poucos utilizados, o rapaz a mostrou o que era um homem. A menina passara as férias com os primos. Todos os dias daquele verão quente um dos dois a penetrava. O mais velho era mais bruto e viril, o caçula também a queria, só com o seu desejo adolescente, porém, era mais delicado. Enquanto um se preocupava apenas com o seu próprio prazer, o outro prestava atenção se a prima estava ou não gostando. Aumentava e diminuía a velocidade de acordo com os gemidos e a cara que ela fazia. Ele ainda era carinhoso. Foi com os dois que ela aprendeu a ser mulher, se sentir desejada e como tratar as mulheres.
A primeira vez com uma mulher de Bárbara foi para se insinuar para quatro rapazes com mais de vinte anos. Ela e uma amiga se beijaram, porque eles assim quiseram. As duas transaram na frente deles na república de estudantes, que era o domicilio dos rapazes. E depois com os quatro. Babi tinha catorze anos.
Hoje ela entende muito dos homens e ainda mais das mulheres. Nem beija mais rapazes, só as moças. Ela acredita que ficar com homem algo muito simples. “Eles são muito básicos, não tem tanta emoção de como é com elas”, já disse confessando suas idéias para a amiga Luciana e outras meninas ‘do babado’, certa vez. Bárbara é do tipo que muitos poderiam dizer que ‘nasceu para o sexo’. Não importa qual e sim sentir um corpo junto ao dela.
Agora, a experiente Bárbara sente o nervosismo de Bruna, o que a dá mais desejo. “É como deixar menos uma virgem no mundo”, pensa a jovem com um olhar dos mais ardilosos. Deixou a menina engolir o suco e beijou o pescoço e, das mãos foi à coxa. Aproveita que a ‘vitima’ está de saia e lentamente vai encaminhando a sua mão até o sexo de Bruna. Não pretende penetrar na menina, apenas brincar de enlouquecer com toques, ou melhor, uma leve massagem na área sexual. Bruna foca os olhos da tela grande do cinema tentando não prestar atenção naquele ato. Bárbara com ar sagaz e resolve fazer uma pergunta:
- Você é virgem?
A resposta foi gaguejada:
- Eu só fiz amor com a Cássia.
- Você tinha quantos anos quando começou a namorar essa menina?
- Catorze. Foram cinco anos de namoro.
- Você já transou com um homem?
- Nunca.
- Percebi.
Para Bárbara, até mesmo para uma lésbica, o sexo com o sexo oposto é necessário. A mulher é muito delicada. Ao transar apenas com mulheres o fator sexo fica muita ‘meiga’ como ela acredita e diz. Ao transar com um homem, pelo menos uma vez, de preferência um mais viril, o lado mais sexy e erótico aparece. Bárbara quer ter Bruna, mas pensou em algo que não faz há muito tempo, ter um homem na cama junto com outra mulher. Quer transformar aquela flor delicada em outra pessoa. Em uma mulher com M maiúsculo. Decidi ficar só segurando a mão da moça. Uns beijos aconteciam, ainda assustados. Quando acaba o filme termina ela resolve andar no shopping com a menina.
“Só o sexo puro, simples e selvagem, a sexualidade mais pornográfica do que erótica é capaz de curar a dor de amor, que nos leva a ingenuidade, para curar esta moça”, assim os pensamentos de Bárbara lhe dizia. Saindo do shopping a moça decide levar a ‘menina pura’ a um lugar que nunca fora, um sexo shop. Bárbara teve uma idéia. Talvez não fosse necessário ter um homem, mas ela em seu jeito ‘exploradora assídua de corpos femininos’.
Mostrou tudo a Bruna, que estava admirada com tudo aquilo. Depois saíram sem nada comprar. Nos planos de ter Bruna, Bárbara teria que ir com calma neste momento exato. A menina poderia se assustar.
Resolveram voltar ao bairro onde residem. Bruna olha, como sempre, admirada as ruas, as praias, pessoas alegres e ‘conversadeiras’ e em seu contentamento faz o seu brado:
- Moramos em um dos lugares mais belos, com as pessoas mais belas do mundo. É um privilegio de poucos viverem em um dos cartões postais do mundo!
Bárbara achou engraçado e bonito o que a menina disse ‘do nada’. E resolve colocar em cheque um triste e fadado contraponto as palavras da outra.
- Pois é… Um dos cartões postais mais lindos e violentos do mundo. Daqui a pouco até o Cristo terá que usar colete a prova de balas.
- A violência é causada pela a hipocrisia de governantes e pessoas da sociedade e falta de bom senso de ‘filhinhos e filhinhas de papai’.
- Como assim? O que você quer dizer com isso!?!
- O obvio que ninguém quer enxergar. Não há como dizer puramente para alguém parar de usar drogas. Na hora da curtição a base da maconha e cocaína ninguém quer lembrar que o uso de drogas financia o tráfico. Mas a guerra não é só culpa dos traficantes de drogas e armas, mas por causa da polícia mal trinada, os governantes e ‘pessoas’ da sociedade…
- Hum…
- Os governantes e a sociedade têm que abrirem os olhos e liberarem as drogas, pois, assim o traficante vai ser um cara ‘legal’ e pagará os impostos para ter qualquer empresa no Brasil. Não precisará pegar ‘qualquer um’ na rua e o pôr farda e arma
- E o que se faz com o aumento de viciados que vão morrer?
- Só com educação nas escolas e nos lares para que eles não caem nas drogas. Mas não podemos deixar que m inocente morra de bala, porque o cara lá em seu ap de luxo quer cheirar.
As duas chegam onde decidem parar. Sentam em um quiosque e a conversa continua.
- Para você é fácil falar isso. Tem seus pais com você, aposto que estuda em colégio particular. Sou como você, não vou dar uma de coitadinha, tenho uma família estruturada e dinheiro, mas há tantos que não tem ou teve a chance que temos.
- É culpa da falta de vergonha na cara dos políticos eleitos com os nossos votos, tão preciosos, que as pessoas vivem em situação educacional abaixo de nós. A educação, afirmo novamente, não só na escola, mas também nos lares, é a forma única e absoluta de melhorar nosso país. A ignorância é o combustível da fome e violência. Tem que ter boas escolas, ótimos professores, estes bem remunerados e com oportunidades de reciclagem e estudo. Tem que ter dialogo entre pais e filhos. E outra coisa que tem que haver, que todos esqueceram, é o amor.
- O que o amor tem a ver com isso tudo? – já diz Bárbara que ensaia um debochado sorriso.
- O amor plural. Amor nas famílias, pelo próximo, amor pelo mundo.
- Eu amo as próximas… todas – se diverte a Babi.
- Amor pelo Rio de Janeiro. E não só a gente aqui, mas um amor pelo Brasil e cada um amando a sua cidade e estado. Amor incondicional e não este amor que andam cantando. Este amor que virou objeto comercial. O sexo não é a solução. O corpo não é o mais importante e sim um instrumento para levar nossas idéias e ideais. Os sentimentos reais e puros. Se houvesse, por exemplo, amor de todos pelo o país, fariam de um tudo para ser o melhor. Sem fome, analfabetismo, alfabetização funcional, miséria, violência, medo, preconceitos.
- O que o sexo tem a ver com isso?
- o sexo pelo puro sexo é a busca do prazer, ou seja, individualismo, que é o mais próximo do egoísmo, este que é o maior dos opositores do amor.
- Você é utópica. Acredita que este amor é capaz de salvar o mundo.
- Eu acredito sim.
- O seu amor não lhe salvou do sofrimento.
- realmente não me salvou e por amar tanto Lia e Cássia, eu sofra mais.
- Porque o amor é egoísta. Como você pode pregar o sentimento mais egoísta para o fim de todos os males. Acredito na educação, mas o amor é a instituição mais falida de todas. Vamos mudar de assunto, pois as revoluções estão fora de moda.
- Tudo bem, se é isso que você acredita.
- Gostei de te conhecer e ficar com você.
- Eu acho que eu preciso ir embora.
- Posso te levar?
- Pode.
Elas foram após pagar o que consumiram. Bárbara puxara assuntos amenos para não ouvir outros discursos. No dia seguinte as aulas voltariam. Antes passaram duas semanas de férias. Bruna, universitária, ainda teria uma semana a mais de descanso. Elas chegam ao prédio onde reside a estudante de adminitração. Na despedida, um atrevido selinho foi dado por Babi, o que faz a outra ficar ruborizada. Bruna entra e Bárbara se vai, mas alguém vê, por acaso, toda a cena sem ser percebida. Lígia.
***
Catherine e Luciana
- Sabe…
- Sei?
- Não, você não sabe, vai saber quando eu disser.
- O que?
- Eu não sei se devemos.
- Por quê?
- Acho que estou um pouco bêbada… ou apenas…
- Sem vontade de transar…
- Não é bem isso… vontade eu sempre tenho…
- É comigo?
- Não. Nunca. Você é linda, perfeita, gostosíssima.
- O que é?
- Acho que eu preciso de um baseado…
- Pra transar?
- Viajar…
- Por que da viagem?
- Preciso desconectar do mundo. Achar meu eixo. Meu eu…
- Pra quê? Sexo é físico e não filosoficamente viajante.
- Ah… cara… sei lá…
- Você é estranha…
- Por que você acha isso?
- Eu não acho, tenho certeza.
- Por quê?
- Por que eu tenho certeza?
- Por que você disse que sou estranha?
- Porque há pouco você queria e agora não quer.
- Sou bipolar… - diz e sorri Cat.
- Bem… eu não quero porque…
- Você também mudou de idéia?
- Sim… é que…
- O que?
- Iguais, não somos?
- Digo que parecidas em alguns aspectos ideológicos.
- Pois é.
-Somos melhores como companheiras de causa.
- Sim, sim.
- E aí, companheira – abre um sorriso – vamos ligar para alguém?
- Liga você para a Monise e vê como ela está.
- Ok… ok…
- Você me ajuda a dizer algo que dê sentido a essa ligação, no mínimo desconexa com o momento da menina.
- É mesmo. Por que você, uma garota dez anos mais…
- Se me chamar de velha eu te jogo pela janela.
- Dez anos mais madura que ela iria ligar no domingo a essa hora?
- Dizer que ela é gata.
- Boa… será que funciona?
- Sei lá, mas vou dizer isso.
- Meio sem propósito. Imagina a cena. Você liga e diz oi. Ela pergunta quem é e você se identifica. Ela depois de um minuto recorda e pergunta o que você quer e você fala simplesmente, diretamente e unicamente que ela é gata.
- Estranho.
- Muito.
- Já sei. Olha a viagem. Direi a ela que tive um sonho que eu tinha que reunir as cinco do bar da praça.
Luciana começa a gargalhar.
- Imagina se você tivesse fumado um baseado? Você está viajante já desse jeito.
Catherine ascende um cigarro e dá uma tragada e fecha os olhos ao soltar a fumaça e diz que quer parar com aquele vicio maldito, mas não consegue se imaginar sem seus vícios internos e externos. Liga o som, quer ouvir Chico Buarque e toma um cálice de vinho, mas sem o sangue da canção. Ofereceu a amiga que resolveu aceitar só um pouco. Não bebe, pois é atleta, mas um pouquinho não faria mal. É só para experimentar.
- O problema é que tudo que nós queremos é utópico. E foda, mas como todo jovem brasileiro na época da ditadura, utópico. Hoje queremos amar e ser felizes. Quer maior utopia que isso? Ou se ama ou ser é feliz.
- Não concordo. Eu sou feliz e amo o Gustavo.
- Você não o ama. A coisa é que você precisa dele, pois é a razão, enquanto você é a emoção.
- E você é feliz?
- Não.
- Você não acha que um leva ao outro?
- Meu caso é diferente. Minha fuga do amor é por saber do caos que esta porra traz à vida de um sujeito.
- Você já amou?
- Qual é a diferença se a resposta for sim ou não?
- Sim me dará a idéia que você é covarde com causa. Você um dia amou, sofreu muito e foge disso para não sentir a dor que já sentiu antes. Se for não será uma medrosa sem motivos. Alguém que olha em volta e ver um pouco de tristeza por causa de paixão e usa isso de desculpa.
- Amor é utópico e ponto final.
- Não é. Eu amo e sou feliz.
- Por que você trai o seu namorado, então?
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Calma aí. Vou aumentar o volume. Escute Bárbara.
- Nome de minha amiga.
- É uma canção que você pode interpretá-la de três formas, depende de suas ideologias e vivencias. Você pode achar que a tal Bárbara é a liberdade, a democracia em época que vivíamos em uma ditadura. O desejo de ser livre. Você pode enxergar como uma canção lésbica, uma mulher que fala para a outra e por último é cocaína. A busca por tal. O desejo pela droga, para alimentar o vicio. Note a letra. É demais.
- Sabe, você tem que se apaixonar. Tente amar Alicia ou outra, mas tente.
- E acabar com o meu coração?
- Ame, amiga. Jogue neste abismo que é o amor.
- Viu? Abismo? E se eu sofrer?
- Você escreva canções tão belas como está que está tocando agora.
- Atrás da porta. Linda mesmo… vou tentar…
- Isso…
- Mas escrever como o Chico é difícil.
- Independente das palavras utilizadas, o importante é sentir.
- E você?
- Eu o que?
- Vai continuar a se enganar e enganar esse garoto?
- Eu não…
- Não adianta dizer que não engana. Pelo menos nunca traí ninguém.
- Mas foi amante. Acertei?
- Pois é, mas a culpa não é minha e nem problema meu.
- Somos duas cafajestes.
- Concordo plenamente.
- E o amor?
- A utopia?
- Digamos: a realidade dura e honesta.
- Sim. Como amar?
- Morrendo…
- Como assim?
- Cada dia é um nascimento e uma morte para quem ama.
- E quem não amar o dia é apenas um dia. Algum corpo diferente, perfume que nunca fora absorvido pelo travesseiro.
- A falta de amor é a mais triste arma da covardia.
- Mas é foda.
- Acredito que se nós cinco amarmos, estaremos nos livrando das dores do mundo.
- Quem sabe?
- Pois é… quem sabe?
- Vamos ligar para a Monise?
- E o que dizer?
- Você se propõe amar parar correr de outros sentimentos?
- E se a causa da dor dela for o amor?
- Daí o amor e a felicidade nasceram para serem distantes.
- Voltamos a utopia.
- Voltamos no ‘não acreditar’.
- Tudo parece chegar à utopia.
- Somos humanas e sonhadoras.
- Somos mulheres. Complicadas e humanamente apaixonadas.
- Complicadas ao cubo.
- Será que é por essa paixão digna do sexo feminino que amamos tantos as mulheres?
- Mulheres são apaixonadas, apaixonantes, misteriosas, pensativas. Pensamos tanto.
- Essa nossa conversa daria um livro.
- Dez mil livros, filmes, novelas, analises psicológicas e filosóficas… tudo para chegar a conclusão que cabeça de mulher é o segredo mais indecifrável do planeta. Planeta este que não existiria sem o feminino.
- Mulher…
- Eu amo…
- Concluo que também.
- Vamos conseguir ajudar as nossas.
- Se conseguirmos nos ajudar.
- Viu o que a gente falou?
- O que?
- Nossas… nossas mulheres…
- Pois é.
As duas começaram a dar risadas do erro da palavra, porém é o que elas já sentem, como se aquelas jovens fossem delas. Amigas, amantes, apaixonada…
***
Monise
Monise se aproxima da janela. Seu pai olha e sente medo e tenta se aproximar aos poucos. Monise quer ser pássaro para poder voar. Quer ser livre da cadeia que ela criara. A liberdade é um bem difícil de conquistar. Ela quer ser imortal… e sente uma leve brisa bater em sua face e a acariciar. Ela quer algo que nem sabe como se chama. Quer gritar e se libertar dos pesadelos constantes, do gosto de amargo que sente na alma. Quer chorar. Quer sorrir.
Ela debruça na janela. Pode até sentir as asas em suas costas. Quer voar para onde a dor é menor. Monise se inclina mais para o nada. Está de olhos fechados. Seu corpo parece que vai deixar de fazer parte deste mundo. Duas mãos a segura e a abraça pedindo, pelo amor de Deus, não os deixe. É seu pai. Monise abre os olhos e enxerga aquele homem de jeito fino e um olhar profundamente triste. Abraça-o.
- Papai, eu nunca o deixarei.
Ele de olhos vermelhos das lágrimas que segura firme.
- Minha filhinha, me conta por que disso tudo. Papai faz de tudo e você fica querendo ir embora do mundo.
- Papai, você é um homem bom, mas o mundo é mau e eu não quero mais este doer em minha alma.
- Moni, me conta que eu vou poder te ajudar a expulsar os fantasmas que lhe atormentam.
- Não… papai, eu amo você e a mamãe, não quero que sofram.
- Mas já sofremos com o seu sofrimento.
- A verdade pura pode ser pior que a mentira fantasiada.
- Explica, querida.
- Quero dormir.
A menina nada come e vai para seu quarto e tenta chorar. Não consegue. Os minutos. Levanta e tenta falar com Fred. O telefone toca, mas ninguém atende. Ela queria entender o motivo que não consegue falar com o amor. Ele está tão longe.
Monise se sente só. Com uma dor só sua sem poder contar para ninguém. Ela não quer que sua dor seja de quem não tem culpa. Ela se sente culpada pelos seus sentimentos.
A mãe da menina vai até o quarto e senta na cama e olha para a filha.
- Eu não consigo falar com o Fred.
- faz tempo que vocês não se falam.
- Eu tento ligar e ele não atende, não me retorna. Eu me sinto triste.
-Vocês brigaram quando ele foi embora.
- Ele brigou comigo.
-Por quê?
- Porque eu não quis falar nada.
- O que você não quis falar?
- Coisa minha.
- Foi por isso que ele foi embora.
- Talvez…
Tente ligar mais vezes.
- Ele não quer me ouvir
- Vocês foram tão amigos.
- Eu ainda o tenho em meu coração.
- Se vocês voltarem a se falar, nas férias, se você quiser e estiver bem pode ir lá.
- Eu queria um abraço dele.
- Serve meu?
- Lógico.
Elas se abraçam.
- Sabe, mamãe, eu conheci uma menina, mas acho que a conheço de outro lugar.
- Da onde?
- Não sei, talvez da praia mesmo, ou… ah… já lembrei…
- Conta para a mamãe.
- Acho que eu a vi no colégio.
- Viu? Que bom. Pode ser uma nova amiga.
- Ela é agitada, atleta, alegre. Tudo de diferente de mim. Tem namorado, amigos e amigas. É popular. Feliz.
- Você também pode ser.
- Feliz?
- Sim, e por que não?
- Eu nunca mais serei feliz.
- Por quê?
- Porque estou presa no mundo mau e triste.
- Como isso aconteceu?
- Eu quero ficar sozinha.
- Quer comer nada?
- Não. Quero chorar, mas não consigo.
- Por que do choro?
- As lágrimas lavam a alma.
- Por que quer lavar a alma?
- Para viver mais alguns dias. Agora quero ficar sozinha. É difícil chorar.
A mãe de Monise sai do quarto e vê o marido na porta chorando e os dois se abraçam naquelas lágrimas silenciosas da perda. Eles sentem que cada dia perdem um pouco a filha e não descobrem os motivos.
Um comentário:
Eu estou amando a novelaaa....
rsrrss....
Xará, fico cada dia mais curiosa para saber que motivo tão forte é esse o da Monise, o que a deixa tão triste? rsrrsrsrs
Conta vai ? rsrs
Aaahhh... Eu juro que pensei que ia rolar algo entre a Lu e a Cat.. rsrs.
Amiga continua assim...
Está ótimaa....
Aaah sem esqucer a conversa da Bruna e Bárbara... amei o papo cabeça das duas sobre politíca.. solciadade e tals.. rs
Beijnho.s
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