sábado, 4 de dezembro de 2010

13º capítulo – “Alguém quando parte é por que outro alguém vai chegar”

Catherine e Luciana


        A noite ia caindo e os passos iam para a casa da jovem estudante de ensino médio. Sua amiga lhe levou até o prédio onde morava. As duas se despediram com um sorriso e um aperto de mão, que logo virou um terno abraço. Uma reconhecera na outra uma amizade, que pode ir além de falar sobre mulheres.

Catherine:  - A gente se vê novamente?

Luciana:    - Lógico.

        A jovem entra no prédio e a cantora dá as costas e volta a procurar o que deseja naquele momento: uma companhia para a noite.

***

Catherine

        Sempre em busca de uma nova “vitima”, como uma leoa em busca de um animal sensível e delicado para ser devorado. Mas sem marcas de sangue. Mordidas são leves e com sabor de desejo. O olhar é muito mais desafiador do que de um animal enjaulado em busca de uma brusca liberdade. O sexo, mais do que uma necessidade biologia, é para Catherine uma diversão e também um hobbie. Uma caça que começa assim que acorda, até a hora que vai dormir. Seu dia está sempre em volta de seus desejos. Música, bebida e mulheres, a tríade da vida da cantora. As suas bases. Ela sempre muito sozinha. Amizade? Algumas. Talvez bem poucas. É raro alguém confiar cegamente em quem só busca o prazer. Ela não se importa com isso, talvez ainda não tenha reparado na real solidão. Ou não queira reparar. Saber que está sozinho é muito cruel.

        O telefone toca.

É a ruiva de horas atrás.

Catherine marca com ela em um bar. O mesmo bar de que ela gosta de levar suas novas presas. O dono chega a ser um comparsa seu. Sabe exatamente a bebida que tem que levar. Lógico que Catherine coordena tudo. Ela conhece bem as mulheres e o que deve fazer com cada uma, dependendo da roupa, jeito de olhar e falar. Para conseguir o que deseja, tem que conhecer bem o que é desejado.

        Esse bar tem suas mesas redondas, cadeiras levemente acolchoadas, um piano em cima de um palco improvisado. As especialidades de lá são os bebes, comer lá só se for petiscos. Lugar mais para jogar papo fora com amigos ou para uma conquista. Quando o pianista acertava na canção, vários casais se formavam ou se desfaziam. Já se ouviu de lá tapas, mas também diversos beijos foram dados. Os garçons eram como amigos daqueles freqüentadores.  A maioria dos que iam lá eram fregueses de anos.

Catherine desde que fora morar no bairro escolheu aquele como o seu bar particular. Chega lá e pede a sua vodka. Quando deseja agradar alguma moça pode pedir algum drink mais elaborado pelo barman Renan. Renan é um rapaz de vinte anos, filho do dono do bar, seu Asmin (sim é este o grande comparsa de Catherine). Mas voltando ao jovem. Ele cresceu praticamente dentro daquele local. Aprendeu várias bebidas e, principalmente, aprendeu a fazer bebida de acordo com o que o cliente precisava. Se for para comemorar ou para chorar. Uma conquista ou um adeus. Renan ainda tinha um aspecto magro e com um sorriso levemente atrapalhado, com um dente a frente de outro. Sua pele é morena como a da mãe e o cabelo liso, fino e ralo como a do pai. Desde que o pai começou a ficar mais em casa deixando que o filho tomasse conta do bar, Renan também se propôs a auxiliar a Cat com suas armações.

Ela entra. Senta em sua mesa preferida e pede uma dose de vodka. Renan a olha e imagina que alguém deveria estar pra chegar para acompanhá-la. Ele se aproxima da amiga e fala.

- Qual é o prato de hoje?

- Uma ruiva, suponho.

- Fatal?

- Ainda não provei, mas pelo o jeito e o gosto da boca é do tipo que faz doce, mas no fundo sabe bem o que quer.

- Martini?

- Exato.

- Pode deixar que o Martini há de ser bem doce como a boca dela.

- Você é um jovem irresistível. Quero ver um dia você fisgando uma caloura daqui.

        Catherine chamava as moças que entravam no bar de jeito desavisado, pela primeira vez, de calouras. Aquele bar é para pessoas diferenciadas em comportamentos. Um dos freqüentadores é um senhor de cinqüenta anos. Cabelos grisalhos e olhos que pareciam cor de mel, porém, quando estava sobre luz forte, todos podiam ver saindo de sua fronte duas bolas verdes. O nome dele pouco importava. Todos o chamavam de Doutor, apesar de ser engenheiro e não medico. Ele gostava de ir lá para falar da juventude, de musica. Apreciava o pianista do bar, o Kevisson. Um negro de trinta e dois anos fã de jazz. Tocava também canções brasileiras famosas. Tom Jobim estava sempre em seu repertório. Certa vez Catherine e ele fizeram um dueto. Ela na guitarra e ele no piano. Foi no aniversário de sessenta anos de seu Asmin.

        A ruiva enigmática chegou atraindo atenção daqueles personagens verídicos. Seu jeito de andar e de se impor. Catherine a olhou. Um garçom mais antigo da casa foi até a mesa da cantora e puxou a cadeira para a moça. Cat o sorriu. Todos antigos de lá sabiam que aquela mulher é a única quem carrega belas mulheres para um bar com aspecto machista. A ruiva senta e coloca sua mão sobe as mãos de Cat, abre um sorriso e a chama pra se aproximar e fala de forma maliciosamente macia que quer a conhecer melhor. Catherine percebe que ela não é tão doce quanto imaginava. E que não irá fazer doce. Faz o sinal para Renan trazer a bebida. O rapaz traz. A ruiva que se apresenta por Melissa, agradece o jovem com um olhar sedutor. Cat percebe que esta não deseja apenas um simples sexo. Ela quer mais. Tem cara de fome. Neste momento o telefone da cantora toca. É Samantha. Ela e o namorado decidiram encontrar com Catherine naquela noite. Cat os chamam para ir naquele bar. Ela tem um plano.


- Sua cama ainda está vazia para esta noite?

- Você toparia que ela estivesse bem cheia?

- Estou entendendo seu jogo. Quantas?

- Contando com nós duas seriam quatro pessoas. Sendo que uma pessoa é um cara.

- Interessante. Três mulheres e um homem. Sendo que você parece um pouco com um mocinho.

- A idéia é por aí. Topa?

- Topo.

- Vamos esperá-los. Estão vindo para cá. Vou falar com o rapaz e vamos nós quatro para algum lugar melhor.

- Você não é de perder tempo.

- Nunca. Enquanto esperamos, deseja alguma coisa?

- Você.

        Após esta resposta Catherine a “convida” para ir ao toalete. Avisa ao amigo Renan do casal que está por chegar e fala que é para preparar algo forte para ela.
Chegando ao banheiro confortável com poltronas, as duas se beijam, se agarram. A mão grande de dedos compridos de Catherine entra por debaixo da saia da ruiva que geme e se treme toda naquele sexo rápido. Era só um aperitivo. Uma gozada rápida e simples para se conhecerem um pouco. Após já estarem bem apresentadas ela lava as mãos e voltam para a mesa. E está o policial e Samantha. Linda, como sempre. Elas se aproximam e ele se levanta e se apresenta como Roberto. Aperta a mão de Cat e passa a mão na bunda de Melissa. Catherine senta, pega a sua bebida e dá uma golada e fala.

- Vocês já sabem a minha idéia, não é?

Roberto a sorri com um jeito safado. Ele estava adorando a idéia de ter em uma cama três mulheres. Samantha fica contente por vir a ser de Cat mais uma vez e Melissa adora a cena que passa em sua mente. Estão todos contentes com o que está por acontecer. Catherine e Roberto pagam a conta e eles saem de lá no carro daquele policial grande e forte. Eles vão para um motel. Lá todos nus mudam de posições, casais se modificam. Horas Roberto pára e fica vendo aquelas três lindas mulheres transando. Horas ele penetrava em alguma delas. Catherine com seu carisma de sempre fazia que as duas moças sempre a quisessem. Em um momento uma posição agradou os quatro. Samantha era penetrada por Catherine. Melissa fazia sexo oral na cantora e Roberto penetrava a ruiva.
  
***

Alicia
  

Alguém quando parte é por que outro alguém vai chegar
Num raio de lua, na esquina, no vento ou no mar
Pra que querer ensinar a vida?
Pra que sofrer com despedida?” (Cazuza – Cartão Postal)

Como uma canção o fim daquela noite vai se desenhando. Aquelas duas aprendendo a lidar com a solidão de seus corações e a dor que é a do orgulho, ser trocada, deixada. Pior que perder um amor é a idéia de ser trocada. “A dor do amor” é dada por onde deveria se chamar “a dor do ego destroçado”. Quem sofre: o amor ou a imagem? Amores vêm e vão. Aliás, assim são as paixões. Amor é um verbo belo, mas parece certa utopia sentir realmente. Muitas pessoas falam em amar alguém, mas será isso amor ou paixão? O que é real e o que é ilusão? Amar é a realidade que buscam na ilusão chamada paixão. E esta é a explosão de sentimentos, seja de ódio ou mesmo de amor. Paixão é quente, sufocante feito fogo de palha. O amor é o calor de lareira acesa em uma noite fria de inverno em alguma serra. Amor é eterno, se acaba vira uma amizade gostosa. Paixão detona. Talvez não sobre nada depois que este acaba.

Alicia anda em seu apartamento enquanto Al toma seu banho. Queria saber o que o destino lhe reserva. “Nada acontece sem ter um real motivo”, pensava quase que ronronando a artista plástica. Resolveu tomar um copo de chá de erva cidreira, talvez trouxesse um pouco de paz naquelas ervas desidratadas.

Al em seu banho quente, debaixo d’água, pensa em seu amor destruído. Chora lágrimas que confundem com a água que corre por todo seu corpo. Com a cabeça baixa, os cabelos caídos, molhados, colavam em sua fronte. Sabia que não era para estar sofrendo daquele jeito, pois tinha que apoiar a irmã, porém, sofrer por amor é até poético. É como se fosse mocinha de uma história de amor, de um filme, ou algum livro. Ela se sente um pouco assim, personagem de sua própria vida. Uma personagem de teatro, onde tem que ter mais voz e mais gestos para demonstrar tudo que é necessário passar. Mas agora, ela quer ficar ali quieta, pensando, chorando, engolindo a seco aquela dor desmedida.

O chá parece um pouco sem graça. Quem sabe a resposta esteja em uma dose de run? A moça ingere aquela bebida fazendo um pouco de careta. Acha engraçado e decide tomar mais uma dose. Enche o pequeno copo, e sente suas pernas tremerem. Senta, encara aquele liquido, e mete-o para dentro, queimando-a por dentro. Al ao sair do banho de roupão e uma toalha na cabeça para se proteger de seus longos cabelos molhados, vê a irmã tremendo e tentando ingerir, a que seria a terceira dose de run. Olha aquela cena, um pouco escondida para a irmã não notá-la. E mais uma vez, sentada, tremendo, Alicia tenta beber aquela dose. Al quebra o silêncio com uma risada escandalosa. A caçula vê a irmã de roupão rindo e cai na risada também.

- Você está tentando beber o que? Veneno?

- É run. Estava tomando chá de erva cidreira, mas me deu vontade de beber algo forte. Mas eu não estou acostumada.

- Estou vendo você tremendo aí. Aprende a ser macho, mana. Dá um gole disso aí.

Al toma uma dose e coloca o copo sobre a mesa. Vai até o quarto e veste uma calcinha e vem vestindo o sutiã pelo o corredor, ainda com a toalha nos cabelos molhados. Olha a irmã e pede mais uma dose e as duas bebem ao mesmo tempo. Uma olha para a outra e começam outra deliciosa gargalhada. Alicia levanta já meio tonta e chega ao som e coloca um CD do Cazuza. E elas começam a cantar e tomando cada vez mais daquela bebida que nem mais fazia a jovem tremer. Esqueceram naquele momento as dores que lhe atormentavam o peito. Cantavam, pulavam, dançavam com a voz daquele jovem que já havia falecido, mas parecia tão presente em suas almas e seus corpos.

- Viva o Cazuza! Viva o run!

- Viva a loucura escondida dentro de uma nota musical ou de um gole de álcool barato.

- Fala assim do meu run não, que nem foi tão barato assim.

- Serve pra embebedar.

- Serve pra comemorar a tristeza que sai pelos olhos.

- Tristeza sai também pela boca feito vômito. Algo nojento e que foi mal digerido. Tristeza é algo que não conseguimos mandar pro sangue. Mas o álcool rapidamente entra em nossas veias e penetra em nossas mentes que vão se desalienando. 

- Vai se fuder, tristeza de mulher.

- Vê se nos esquece, pois somos lindas e poderosas.

- E somos irmãs.

- Isso. Somos irmãs. O resto não importa.

- O resto é resto.

- Que resto? Não existe nada mais além do que estamos vivendo agora. Sinta essa felicidade ébria correndo dentro da gente. As lágrimas são só de alegria.

- “Tudo azul, completamente blue, tudo azul”… Amo demais esta canção.

- Vamos fazer uma coisa que fazíamos quando crianças?

- O que?

- Já volto. Vou ao quarto pegar algo.

Al volta do quarto de sua irmã com dois travesseiros. Joga um contra o corpo da irmã e acerta o outro em seu rosto. Alicia a olha e revida e começa assim uma guerra com travesseiros de penas de ganso. Uma acerta a outra nas costas e a outra revida na barriga, elas sorriem, uma tenta se defender enquanto a outra é só ataque. Alicia acerta com força no rosto de sua irmã e as primeiras penas começam a cair. A guerra faz cair a garrafa de run, que neste momento estava quase chegando ao fim, mas o suficiente para cair no tapete e manchá-lo. Cazuza continuava a embalar a bagunça risonha das duas. Até que já não havendo nenhuma pena dentro dos travesseiros cada uma cai de um lado e o riso toma conta do rosto. O interfone toca. É o sindico falando que um vizinho está a reclamar do som alto e das brincadeiras. Elas diminuem o som, mas nunca se sentiram tão meninas desde que assim eram.

- Alicia, saudade de brincar de brigar com você. Saudade de tudo isso. Como eu gosto de ficar perto de você.

- Também gosto de ficar perto de você, Aline. Nossa, deu para cansar.

- Caramba. O run caiu no tapete.

- Tudo bem, eu queria trocar tudo mesmo. E o importante é que o que me incomodava sumiu.

- Em mim também.

- Acho que nem tudo de ruim saiu não. Acho que estou enjoada.

- A Vanessa te engravidou?

- Sua boba. Acho que foi o run que me fez mal.

- Bebida nunca faz mal, quem toma sem saber tomar que faz mal ao nome da bebida.

- Só rindo com você. Eu… acho… que… vou…

Neste momento Alicia corre em direção ao banheiro. Tudo que estava dentro de seu estomago entra em revolta e volta indo em direção ao vaso sanitário. Sua irmã chega lentamente e vê a cena e ajuda segurando o cabelo dela.

- Al…

        - Está se sentindo melhor?

        - Olha só a tristeza indo embora de mim. Dói, mas é bom, pois sei que vou dormir melhor. É só dar descarga.

        - Dá descarga e veja a tristeza indo embora. Você é muito linda para ficar chorando por algo que lhe faz mal. Guarde as lágrimas quando elas valerem a pena realmente.

        - Quando vou saber que vai valer a pena chorar?

        - Talvez apenas com a morte de alguém que realmente te ame, que vale a pena chorar. De resto, talvez nada valha a pena. Choramos porque somos tolas sentimentais.

        - E será que isso é ruim? Será que amar, se apaixonar de verdade por alguém é algo ruim?

        - Não somos nós que estamos demasiadamente equivocadas, são as pessoas que tinham que aprender não só amar as pessoas. Talvez desejar isso é querer demais. Mas respeitar quem as ama, ou apenas respeitar uma pessoa já seja um grande passo para a humanidade.


***

Bruna


        O que é o tempo para a dor? Qualquer pessoa faria de tudo para evitar o sofrimento, mas quando o remédio de um é algo ainda mais doloroso a mente se perde, o coração se rasga. Talvez esse mercúrio cromo que se busca está nos ponteiros do relógio. O tempo é a cura. Mas quanto tempo é necessário para fechar uma ferida na alma? E as cicatrizes? O que fazer com elas? Às vezes é desejado que a dor de um amor, de uma traição pudesse ser “deletada” da nossa mente como se apaga um arquivo não desejado de um computador. Saudade é o que faz ter a certeza que toda a dor não é à toa. E que, talvez, todo amor, mesmo quando parece absurdo, vale a pena.

        Bruna está sozinha agora em seu quarto e pega em fotografias que relembram um amor, uma amizade. Ela sente uma lágrima querer escorrer pelo o seu rosto, mas ela a enxuga antes que possa chegar ao queixo. A sensação de solidão é cada vez mais angustiante para aquela jovem. Vontade de gritar ficou feito um nó em sua garganta. Ela não consegue se concentrar em mais nada. Os olhos estão naquela foto onde Cássia e Ligia a beija na bochecha. Cada uma de um lado. De mãos dadas com as duas. Havia sido um dia que ela gostou muito, seu aniversario de dezenove anos. Agora aos vinte, tudo isso é apenas uma lembrança de que um dia foi feliz.

        A tristeza existe para saber que um dia se foi feliz, ou que podemos ser felizes um dia. E o amor transborda seus olhos e ela já não pode segurar. Tudo se escoa pelo seu queixo. Lágrimas são como água do mar. Salgadas, tem vontade própria. Pode vir pelo o bem ou pela a dor. O mar pode ser um grande amigo ou um dos mais pavorosos inimigos. E ali, em sua face delicada, aquelas pequenas gotas de mar se derramam. Prova que há muito amor dentro dela. Prova de amor em cada gota. Ninguém chora por quem não gosta. Só se chora de tristeza por quem realmente tem afeto.

        Uma brisa entra pela a sua janela e a lua já é bela e grande ali do lado de fora. Parece tudo aquilo um sinal. Uma chamada da esperança. Esperança de que? Será que vai amar novamente? Será que vai esquecer? E o perdão? Perdoar é tão divino e ela se sente tão humana.

        Uma hora tudo isso iria passar. Ela teria que voltar a viver calmamente. Ela iria ainda encontrar as duas muitas vezes. É bom aprender a ser forte feito rocha. Mas até a mais dura pedra pode ser penetrada pela a delicada água. Como pode ser complicado amar alguém.

        Fora dali, daquela realidade em gotas, Cássia encontra com Ligia. As duas se olham friamente, mas o frio não fica sempre ali. Cássia olha a outra e diz que tudo aquilo acabou com o seu sossego, que toda hora pensa no ocorrido. Que sente falta de Bruna. Sente falta da amizade, dos beijos, do carinho e, principalmente, do amor desta. Lágrimas de raiva e saudade se confundem nos olhos de Cássia, que tenta buscar os motivos para elas existirem. Olha para a moça e tenta saber o motivo que a levou a fazer aquilo. Admite que errou também, porém, a ex-amiga provocara até ela não conseguir agüentar. Ela perdeu um amor de sempre. Aprendeu a amar amando Bruna. Aprendeu a beijar beijando Bruna. Aprendeu tudo nos braços de Bruna. E agora estava imersa no vazio, pois Bruna era parte dela. A parte boa dela.

        Ligia dizia qualquer coisa de amar Bruna muito, o que causou toda aquela atitude dela. Assume que ela que buscou aquilo tudo para poder ter o amor de sua melhor amiga, mas um amor apaixonado.  Ligia chora também e se diz arrependida, pois viver assim está ainda mais doloroso. Cássia implora a moça a assumir seu erro diante Bruna, para poder tentar consertar todo aquele cenário. Ela fala de todo seu medo de piorar para seu lado e também, que Bruna não irá ouvir nada que sair de sua boca. E por fim fala que ela está saindo com outra. Cássia fala que já sabe de tudo também. O choro das duas se torna intenso. A paz ali não é existente. As duas se abraçam e choram uma consolando a outra. Elas perderam um amor e não se deve perder um amor sincero.

        O perdão ali nasceu. Uma perdoou a outra, aliás, Cássia perdoou Lígia e a pediu ajuda. Em um abraço forte dentre lágrimas uma prometendo que aquilo tudo iria passar.

        Aquele domingo ia passando de forma estranha. Segunda é tudo novo de novo. Um dia diferente. Talvez. Um dia mais contente. Talvez. Mais cada dia novo é uma chance de recomeçar, te reconquistar, te lutar para um novo amanhã, uma nova luz, um novo Sol. E quem não quer ver tudo revivendo, quando se acha que está à beira da morte? A morte não é o fim, apenas um recomeço.

***

Monise


        Ela desliga o computador. Olha pela a janela aquele céu. Ela se sente menor ainda diante de tamanha imensidão. Passa as mãos em seus curtos cabelos loiros e fica ali por alguns longos dez segundos. Ela já não enxergava, simplesmente, o céu e sim várias imagens confusas, pedaços de tristeza, pedaços de lembranças. Uma lágrima quis sair de seus olhos, mas secou antes de se derramar. Sentou em sua cama com a cabeça baixa e as duas mãos no rosto.  Aquele estado de melancolia não queria passar. Ela quer ter forças para reagir, mas não consegue. Todos os dias ela deseja que este seja o último, mas não é. Nunca é. E a dor não parece diminuir. A angustia, a vontade de gritar, de rasgar a pele e chorar por algo que não tem justificativa para todas as outras pessoas. Ninguém sabe o seu motivo. Ela sofre porque sofre sozinha. Em um silêncio solitário, um deserto afastado.

        Monise, com suas mãos muito pálidas e magras pega seu caderno e uma caneta. Ela quer escrever alguma coisa para poder dizer o que sente. É o grito em formas de letras desenhadas.

“Rio de Janeiro, 03 de agosto de 2008.

Ainda te vejo me olhando como na primeira vez. Seu jeito doce de menina fazia contraste com meu jeito meio moleca de boné e skate nas mãos. Foi o dia mais lindo em minha vida. O seu olhar que me fez esquecer de tudo que havia de triste e ruim nesse mundo. Eu só queria ser feliz ao seu lado desde aquele olhar.

A primeira vez que pegamos nas mãos foi tão sem querer. A timidez bateu de imediato. Seguramos e soltamos as mãos. Você me olhou novamente com um jeito envergonhado e eu estava corada, porém, após este olhar, novamente nossas mãos ficaram feito um nó. Eu não me sentia sozinha, mesmo quando estava só. Eu tinha você em meu coração e pensamentos.

Nosso primeiro beijo ainda me enche de lágrimas. Um beijo corrido, que depois veio com um outro mais longo. A vergonha durou pouco tempo. O desejo de sermos apenas uma foi maior do que qualquer sensação. Ali o amor se confirmava. Eu não era só a primeira menina que beijara, eu era o seu primeiro beijo. Eu era o seu primeiro amor. Tudo isso sempre me comoveu profundamente. Queria continuar a ser sempre a primeira.

Agora sinto sua falta como quem sente falta de água para beber em um deserto. E assim me sinto. Em um imenso deserto sentimental. Temo nunca mais amar de novo. Temo nunca mais ser aquela menina moleca e contente que fui um dia. Temo tudo, menos te esquecer, pois essa é a minha única certeza. Nunca hei de lhe esquecer. Você vive ainda em meu coração e pensamentos, mas eu estou só, pois o seu amor não chega mais até a mim. Sinto-me como vivesse naquela canção de Milton Nascimento, Travessia.

Queria estar com você. Penso nisso todos os dias, todos os segundos. Queria poder te esquecer para poder viver, mas eu não consigo. Eu queria até poder amar de novo, mas não sei se sou capaz disso. A forma que nos separamos foi muito cruel pela parte deste mundo e eu o odeio tanto por isso. Queria dizer que te amo, mas eu acho que não sou mais capaz de amar, nem a você, meu grande amor.”


Ela arrancou a folha do caderno, pegou um envelope dentro da gaveta e colocou ali, com um selo. Guardou em uma pasta que tinha várias cartas com sempre o mesmo destinatário: um amor de sempre.

Após este ato simbólico de escrever uma carta para alguém que não vai ler e que ela nem mesmo vai enviar a carta, ela pega uma caixa com varias coisas. Um cartão que dizia que aquele era um amor eterno, uma aliança prata, um cordão de ouro com a primeira letra do nome daquela moça e uma fotografia. Monise pega cada um com a delicadeza de um anjo que quer tocar em outro. Sophie o nome daquela que é um grande amor jurado de ser eterno. E Monise é quem jurou amar para sempre, mesmo que não tenha amor dentro dela. A tristeza escorre pelo seu rosto. Ela chora até adormecer com a foto em suas mãos.

***


Luciana


Mal se despediu de Catherine e entrou no prédio onde morava, ela escutou uma buzina e após isso um grito que chamava seu nome. Ela abre um sorriso semelhante ao do Coringa e olha para trás. Era sua professora Julia.

- Luciana, eu preciso falar com você.

Nem a Luciana olhou a Cat nem a mesma voltou atrás, que continuava sua trajetória. A jovem simplesmente saiu do prédio e seguiu para o carro da mestra. Esta parecia um tanto quanto alegre e ao mesmo tempo assustada. Como tivesse pronta a falar alguma coisa, mas estivesse buscando coragem.

- Lu, eu demorei vir aqui, pois buscava forças para isso.

- Não entendo. Forças para que?

- Eu estive pensando em você. No que você falou, em seus gestos, em seu beijo. É loucura. Eu sou mais velha que você. Sou sua professora. Se alguém me pega eu sou demitida. Não trabalho mais em lugar nenhum.

- Calma! Calma! Fale devagar. Não entendo aonde você quer chegar, mas se tranqüilize que você não irá ser demitida.

- Luciana, eu estou aqui porque eu quero você, nem que seja somente por esta noite.

Após terminar a frase, Julia segura a sua aluna pela a nuca e a beija de forma que parece que as duas irão ficar sem fôlego. Beijo este que parece só ser o gatilho para que elas saíssem daquele local. Tem certas coisas que não pegam bem fazer em uma rua movimentada, em frente a um prédio. Julia acelera, porém o mais acelerado é seu coração, que bate forte ao caminho de um lugar mais tranqüilo.

Ela para o carro em uma rua escura e silenciosa. E volta a beijar Luciana. A adolescente retira a blusa de sua amante e começa a beijar o seu colo. A professora arranca a blusa da outra e enfia a mão dentro de sua calça alcançando o seu alvo. Lu dá um gemido alto ao ser penetrada. Julia tira a calça da jovem para poder levar a menina ao prazer máximo. O movimento do carro fica forte. Este balança com as duas moças fazendo sexo, completamente selvagem, dentro do veículo.

- Menina, agora vou te dar aula de como gozar muito.

Luciana geme e sua professora a penetra cada vez mais. E até começa a enfiar cada vez mais dedos. Queria que a menina gritasse, urrasse de prazer. Seus corpos completamente tomados pelo o suor. Luciana completamente nua e sua professora ainda de calça jeans preta. O momento é tão forte e tão completo de excitação de ambas que nem reparam na movimentação de pessoas perto do carro. Este não tem os vidros escuros, por isso fica fácil para quem passa saber o que está acontecendo.

- Mais! Mais! Entra mais dentro de mim, teacher.

De repente uma batida no carro desconcentra as duas que olham assustadas. É um guarda que faz com as mãos movimentos para elas se vestirem. O que elas fazem com certa pressa e olhar amedrontado. Após se vestirem o guarda que ficou o tempo todo olhando para as duas as manda saírem do carro.

Guarda:     - Querem ser presas ou me deixam participar da festinha?

Luciana:    - Presas? Por quê?

Guarda:     - Atentado ao pudor.

Julia:         - Calma, seu guarda. Não é bem isso que você está pensando.

Guarda:     - Eu não estou pensando em nada, eu vi e admito que achei bem interessante. Nunca tinha visto duas mulheres colocando aranhas pra brigar. Sempre quis participar de uma cena assim.

Luciana:    - Então, você gostou. Já viu. Então libera a gente.

Guarda:     - Eu vi, gostei e quero mais. Fiquei com vontade de gozar também. Aposto que vocês vão gostar de ter mais um na festinha de vocês. Ou preferem ir presas e ter várias pessoas para participar? Vocês escolhem.

Julia:         - Isso é um absurdo. Abuso do poder.

Guarda:     - Não é bem isso. Abuso do poder seria se eu não desse escolha para vocês.

Luciana:    - Estávamos apenas namorando.

Guarda:     - Vocês são namoradas?

Julia:         - Sim.

Guarda:     - Maiores de idade?

Julia:         - Sim.

Guarda:     - Mostrem os documentos.

        As duas mostram suas carteiras de identidade. O guarda percebe que apenas Julia é maior de idade.

Guarda:     - Então a mocinha é menor. Sabia que isso também pode dar cadeia por sedução de menores?

Julia:         - A nossa diferença de idade nem é tão grande.

Guarda:     - Mas você é maior.

Luciana:    - Seu guarda, você nunca quis transar com uma mulher mais velha quando era adolescente?

Guarda:     - Quis e fiz.

Luciana:    - Então, eu também.

Guarda:     - Eu não estou achando ruim não. Eu acho até gostoso. Mas o juiz da vara do Juizado da Criança e do Adolescente pode não achar o mesmo.

Julia:         - Você não vai me entregar, não é?

Guarda:     - Já avisei. Vamos para um lugar nós três, me deixa participar da festinha que estarão as duas liberadas.

Luciana:    - Seu guarda, eu tenho que ir para casa. Meus pais estão preocupados.

Guarda:     - Pensou em seus pais quando decidiu ficar com uma mulher? Quando você estava dentro do carro com ela esteve pensando em seus pais?

Julia:         - Mas seu guarda, libera a gente. Por favor.

Guarda:     - Só posso liberar uma, somente.

Luciana:    - Uma? Você está louco?

Julia:         - Calma, Luciana. Vai para casa. Eu converso com ele.

Luciana:    - Não vou deixar você sozinha com ele.

Julia:         -Vá para sua casa. Seus pais realmente devem estar preocupados com você.

Luciana:    - Mas…

Julia:         - Não tem nada de mas. Vai embora agora.

        Luciana voltou para o prédio onde reside. Sua professora continuou ali com o guarda que lhe falou para ter cuidado com o que faz com menores de idade na rua. Ela pode ser presa. Mas ele ainda pediu uma transa. A professora atendeu o seu pedido pensando no emprego. Ele a levou para dentro do carro novamente e ali fez a penetrou causando grande dor a jovem. Ele era do tipo grande e forte. Um moreno de cerca de quarenta anos e uma aliança do dedo direito. Sim, ele era casado. Após o ato ele agradeceu a moça e disse que ainda ficou com muito desejo de ter saboreado as duas. Entrou no carro da policia e foi embora. Deixando a professora ali chorando.

2 comentários:

Lilith disse...

esse foi forte hein andyy

O.o a ultima cena entao.. nossaaa

Andreia Monte disse...

Nossa Xará esse último capítulo foi tenso'... rs.

Amei a parte: “Alguém quando parte é por que outro alguém vai chegar
Num raio de lua, na esquina, no vento ou no mar
Pra que querer ensinar a vida?
Pra que sofrer com despedida?” (Cazuza – Cartão Postal)
Entendo a Al , como é ruim sofrer e sentir vontade de chorar e não poder, pq temos que ajudar quem tbm está sofrendo. =/


E gostei mto mesmo desse comentário:
Prova de amor em cada gota. Ninguém chora por quem não gosta. Só se chora de tristeza por quem realmente tem afeto.


Tem palavras ótimas nessa história.

Estou adorando como sempre! ;)

BjinhO.s