sábado, 11 de dezembro de 2010

14º Capítulo – Para o alto e avante!

Catherine

        Após uma noite intensa de sexo ela e os demais dormem ali mesmo no motel. Cat acorda assustada, olha em sua volta e tenta lembrar exatamente o que passou naquela noite. Todas as noites parecem tão repetitivas que têm até certa dificuldade de lembrar exatamente o que fez. Ainda mais vendo um homem ali, dormindo, nu. Ela se veste. Beija as duas moças. Deixa o dinheiro em cima de uma mesinha que ali tinha e saiu. Na rua, ela com cara e roupas amassadas, acende um cigarro. Anda até uma padaria. Pede uma média e um pão na chapa. Come ali sentada sozinha, sem falar nada. Pensando que mais uma noite ela fez o que faz todas as noites. E toda a noite não existe amor.

 - Mas para que amor se há diversão? – pensou ela em voz quase audível.

        Sentiu-se mentirosa, podre, machista. Mas o medo é algo tão forte. Mais forte e nocivo do que qualquer trago. Tão intenso que faz a sua vida um cotidiano que para muitos e muitas é um sonho longe da realidade. Para ela um tedioso cotidiano.

        Termina o seu café da manhã, paga a conta e sai. Ela tinha algumas aulas para dar. Precisava ter dinheiro para bancar essa sua vida. Precisava de inspiração. Precisava… ela parou por alguns segundos. Ela lembrou de Alicia. Teve medo desse pensamento.

        - Não posso me apaixonar.

        Ela pegou mais um cigarro e continuou em seu andar apressado. Ela prefere assim, andar. Poderia até pegar um táxi, mas prefere economizar os bolsos e gastar os sapatos. Catherine deseja algo e nem sabe bem ao certo o que é. Essa cantora deseja tantas coisas que nem saberia enumerar. Deseja tantas mulheres que nem em todos os caderninhos poderia escrever.

        - Preciso cantar. Preciso tocar. Preciso… apenas preciso. É algo necessário a minha alma. Minha arte tem que me salvar. Minha arte tem que me encontrar. Em que labirinto fui me perder? Será um erro? Será que é bom mesmo me manter longe da paixão? Mas como vou amar sem viver uma paixão? Perguntas! Eu não agüento mais me perguntar! Será que sou eu mesmo? Quem sou eu?

        Ela resolve correr para alcançar o que está perdido dentro de alguma parte dela. Uma parte romântica. Mas o romantismo pode ser tão doloroso. Logo deixa a sua corrida para pegar fôlego. Fumante mal consegue correr, imagina correr sem parar. Ela queria um sorriso doce. Algo sem malicia. Algo sem maldade. Mas onde existe pureza nesse mundo?

        - Parem perguntas de ficarem me torturando. Eu nunca saberei nenhuma dessas respostas.

        Cat resolve pegar um táxi e chegar a casa logo. Precisa ver sua agenda. Precisa trabalhar. Hoje é segunda-feira. Chegando ao prédio sobe correndo até seu apartamento. Pega sua agenda e vê que tem aula para dar daqui duas horas. Entra no chuveiro e toma um banho gelado. Toma água da torneira. Anda nua pelo apartamento. Veste a primeira coisa que encontra no armário. Pega o violão e sua pasta de cifras e partituras. Respira fundo e vai para a escola de música que tem ali no bairro próximo. Ela precisava se concentrar em alguma coisa. Trabalho. Melhor forma de fugir pode ser o trabalho.

        Catherine chega lá, sorri para a atendente e a pergunta de seus alunos. Respira aliviada por ver que nem está atrasada. Entra na sala para poder lecionar o que ela aprendeu praticamente sozinha.

***

Alicia

Alicia acorda e viu que sua irmã já saiu para trabalhar, mas vê um recadinho:

        “Lili, minha linda irmã, espero que tenha um bom dia de trabalho. Volto pela às dezoito horas. Até lá não esqueça de ser feliz. Te amo. Beijos.”

        Seria melhor ser feliz sempre. Mas dia novo, vida nova. Temos que sempre seguir tentando guiar o automóvel desgovernado que temos em mãos, nosso cotidiano. Podemos andar na linha certa e perder a graça, que é pegar um bom atalho. Ou podemos deixá-lo andar do jeito que quiser e bater em algum porte ou outro carro.

        Alicia tinha aula. Teria que enfrentar o dia lá fora. O Sol. As pessoas. Os olhares. E a lembrança de Vanessa naquele local. O mais complicado, quando se termina um namoro é voltar para o local onde tudo começou.

        Ela se levanta. Sente dor na cabeça e lembra do run. Essa falta de costume de beber é péssima para dias, em que tem que acordar cedo após uma bebedeira. Bartolomeu pulou na cama e deu uma lambida de bom dia. Ela afagou o cãozinho. Abraçou-o. Levantou com ele no colo e o colocou de volta ao chão. Lavou o rosto e se encarou no espelho. Não sabia o que sentir. O que exatamente pensar. A cabeça doía, mas ela teve uma vontade incontrolável de rir. Nem sabia do que ria. Talvez lembrando a noite anterior. Sua gargalhada engrandeceu o ambiente.

        - Ai Al, minha irmã querida somente seu amor fraterno para alegrar uma moribunda de amor.

        O amor dessas irmãs é tão honesto e forte, que talvez a maior perda que qualquer uma das duas possam ter é uma da outra. Se Alicia perde sua irmã perde sua própria vida também. O contrário também vale. Alicia é tudo para a Al também.

        Alicia entra no banho. Água quente e confortável. Água que lava todo seu corpo. Tira toda e qualquer impureza que possa existir. Hoje o dia pode até vir a ser difícil. A dor de cabeça pode até perturbar mais do que possa imaginar, mas nada vai tirar o sorriso criado na noite anterior com Al, Cazuza e run como culpados.

        Ela sai do banho, pega o roupão cor lilás e vai assim até seu quarto para poder escolher um belo traje para o dia de hoje. Geralmente odeia segundas-feiras, porém está é diferente. É um dia novo. Um dia completamente diferente. Agora ela liga a rádio e escuta a voz de Isabella Taviani a cantar. Uma das cantoras preferidas de Alicia. Ela é do tipo de cantora que sabe chegar à alma da pessoa que a ouve. E embala. Pode causar sorrisos e lágrimas em uma mesma canção. E não é para qualquer cantor essa força. Tem que ser mais que um cantor ou interprete para fazer isso a quem ouve. Tem que ter o dom da vida. Da alma alheia.

        Alicia toma um suco de soja que tem em sua geladeira. Já arrumada. Vestida de cores delicadas. De saia. Linda. Hoje qualquer pessoa pode cair de paixões por tamanha luz que ela está irradiando. Luz da alegria. Toda pessoa feliz tem essa luz própria. Toda feliz que encontra uma felicidade tamanha consegue ter essa beleza iluminada.

        Escovou os dentes. Olhou-se novamente no espelho e até se namorou um pouco. Pegou sua pasta e foi para a garagem pegar o carro e ir para a faculdade. Não importava mais se iria encontrar Vanessa em braços de João Pedro. Hoje ela estava feliz. Muito feliz.

***

Bruna

        A noite passou feito um segundo mal contado. Quando acordou viu que era novo dia. Acabaram as férias. Precisava acordar. Precisava reagir. Viu que havia dormido com a fotografia em mãos. Bruna guardou tudo que deixou jogado a noite. Entrou no banho. Quando saiu nem conseguia imaginar a roupa que iria usar. Não queria escolher. Deixa a própria roupa se decidir por ela. Optou pela cor negra. Talvez um luto da alma, do coração. Mas assim que iria nesse dia de segunda-feira para seu curso de administração.

        Denis bateu em seu quarto avisando que o café da manhã estava na mesa. A jovem foi se arrastando até a mesa. Sentou, tomou um copo de suco de laranja, saboreou um pedaço de queijo com torrada e pegou uma maça. Após comer esta, voltou ao seu banheiro, escovou os dentes e foi para a porta.

        Entrou dentro do elevador com o irmão e os pais. Estes sempre davam uma carona aos filhos para seus lugares de estudo no caminho do trabalho deles. Bruna percebe que esqueceu a pasta e voltou no elevador enquanto os pais estavam a espera na garagem.

        Parecia cena de novela. Quando ela chega ao andar dar de frente com Cássia. As duas ficam sem saber o que falar. E para que serviriam as palavras? Os corações diziam por si só. Disparados, alucinados de amor. Tristes e amorosos. Um amor sempre perdoa. Bruna se aproxima de Cássia e as duas fixam seus olhos um no olhar da outra. No coração de Bruna uma mistura de sentimentos ligeiros. No da Cássia o pedido de perdão e de socorro. Sim, socorro por não saber como agir, nem o que falar.

        Bruna engole a seco e tenta passar por Cássia, que a segura pela mão, esta transpira o suor vindo do Pólo Sul. Bruna olhou Cássia e resolveu falar uma frase para calar o silêncio.

        - Eu te amo, mas por enquanto também te odeio. Por isso, melhor nos afastarmos. Não sei se isso um dia irá curar. E se curar irei te amar ainda do jeito que um dia já amei.

        Cássia derrama uma lágrima.

        - Mesmo que demore uma vida inteira, saiba que vou estar sempre esperando seu perdão. Errei, admito. Mas o amor que tenho por você ainda queima em mim. E dói te ver assim. Preferiria morrer ao lhe ver sem ser minha.

        - Não fale bobagens. A morte é a desculpas dos errados, dos fracos. Tente viver para aprender com seus erros.

        - Mas…

        - Não tem nada de “mas”. Eu estou atrasada. Tenho mais do que fazer do que discutir qualquer coisa com você. Tenho que pegar minha pasta e ir para minha faculdade. Você vai viver sua vida, enquanto vivo a minha. Adeus.

        Cássia entrou no elevador e foi embora. Bruna respirou profundamente, enxugou uma lágrima que cismou em derramar. Pegou a pasta e esperou outro elevador chegar.

        - Ai Bruna, não vale a pena dar chance para esse povo ter qualquer pensamento de chances. Nenhuma das duas merecem seu perdão. Seja forte.

        O elevador chegou ao seu andar. Ela entrou e foi para garagem e de lá para a faculdade.

***

Monise

        Monise acordou gritando. Ela gritava tanto que acordou seus pais que correram para seu quarto. Ela não sabia o motivo que a fazia gritar, mas sentia essa necessidade. Era o desespero saindo em som. Seus pais queriam saber se era alguma dor. A jovem não respondia nada, apenas gritava. Quando eles olham um buraco negro surge em seu estomago e começa a tragar a moça para dentro dela mesmo.

        Era um pesadelo. Ela até acordou gritando, mas foi de susto pelo pesadelo que teve. Sua mãe foi ao quarto da moça e esta respondeu que teve um pesadelo.

        - Anota este e leve para sua terapeuta ver isso com você.

        - Eu não vou anotar, porque não quero lembrar.

        - Tudo bem, então. Faça do jeito que for melhor para você. Levante-se, tome um banho. Acabaram as férias. A senhorita tem aula hoje.

        - Vou pensar se vou levantar.

        - Sua terapeuta falou que é melhor você freqüentar a escola. Vai ser melhor para você, minha filha.

        - Pois é, acho que vocês sabem o que é melhor para a MINHA vida. Vou tomar banho.

        - E não demore.

        A menina bate a porta do banheiro. Sai de lá cinco minutos depois com o corpo molhado, sem toalha para secar. Veste uma roupa suja qualquer. Balança a cabeça. E vai até a sala afirmando que está pronta para a sessão de tortura.

        Sua mãe se assusta com a imagem da filha. O pai cospe o café de susto. E falam para ela se vestir direito e pentear os cabelos. A menina diz que não vai se arrumar para isso. A mãe levanta, pega a jovem pelos braços e a leva para o quarto. Mostra roupas que deve vestir. E começa a pentear o cabelo da menina, como se ela tivesse apenas quatro anos de idade. Agora ela está arrumada de forma parecida com qualquer outra menina de sua idade, o que a faz ficar ainda mais irada.

        A menina mal toma um copo de leite com achocolatado, sai de casa com os pais. Ela é levada para a escola. Sai do carro com a mãe que a leva até a sala da diretora. E Monise fica lá até começar a aula. Após isso é levada para a sua sala. Entra, olha a todos e senta em uma cadeira que fica no fundo. Não quer nem fingir que se importa com tudo aquilo. A loira fica lá em seu canto desenhando em seu caderno, desligada de tudo que acontece. A professora tenta até chamar sua atenção. Mas a garota apenas ignora.

        O sinal barulhento anuncia o intervalo. Monise fica sentada ali, até chegar a diretora que vai buscar para que ela não fique parada ali. São ordens médicas. Todos tentando ajudar a desvendar o segredo de Monise. A menina não oferece resistência. Apenas vai. Quando escuta uma voz.

        - Caraça, vocês não tem noção como foi essa minhas férias…

        Era voz de Luciana. Mas como? Não recorda de nunca ter a visto ali naquele ambiente de tortura. Não pode ser. Deve estar delirando já. Ou será que é mais um sonho?

        Não, não era um sonho. Luciana vê a nova amiga e corre para resgatá-la das mãos da diretora.





Monise e Luciana

        - Dona Juracy. A senhora sabe que eu a amo, né?

        - O que você quer Luciana?

        - Essa que você está carregando é a minha Monise.

        - Você a conhece?

        - Lógico. Ela tem uma tatuagem na bunda dizendo que é minha. Quer que ela te mostre para você ter certeza?

        - Você quer ser levada junto com ela?

        - Não. Quero que você a deixe aqui comigo. Eu farei essa linda garota muito mais feliz do que você. Vê que eu sou muito mais gata que a senhora.

        - Não vou ficar aqui ouvindo desaforo de uma moleca. Você quer essa garota estranha com você. tome. Cuide dela e de você. Vocês são doentes.

        As três caem na gargalhada. Sim, as três. Luciana, Monise e Bárbara. Monise para até um segundo e pensa “nossa, eu dei uma gargalhada”.

        - Ae loirinha, foi resgatada pela nossa heroína ao avesso.

        - Eu não sabia que você estudava aqui – disse admirada e contente a Monise.

        - Pois é, por isso achei que já havia visto este rostinho lindo em algum lugar. Bem, agora você está me devendo uma, garotona.

        - Eu odeio essa escola. Não estou me sentindo bem com essas roupas. Me tire daqui.

        - Daí você vai estar me devendo duas.

        - Faço o que você quiser depois. Serei sua escrava se quiser.

        - Menina, não fala isso para essa louca não. Ela te faz de escrava mesmo.

        - Desde que ela me tire dessa escola, eu até lavo o vaso sanitário dela com minha escova de dente.

        - Porra. Tudo bem. Vamos lá. Mas porque você quer sair? Aqui é divertido. Posso te mostrar o melhor ângulo da escola. Quer vir comigo?

        Nesse momento Luciana estende a mão para a nova amiga. E Bárbara chama atenção da amiga pelo namorado.

        - Alerta namorado. Alerta namorado.

        - Gu, meu amor. Conheça a mais gostosa loira da escola. A Monise.

        - Você a seqüestrou da onde?

        - Da diretoria.

        - Um dia você vai ser expulsa, garota.

        - Juracy me ama. Ela nunca vai me expulsar.

        - Sério. Fica alerta.

        - Gu, você é meu bom menino. Melhor você ir para a biblioteca, enquanto eu vou ajudar minha amiga seqüestrada. Ok?

        - Você que sabe. Mas veja lá o que você vai fazer.

        - Relaxa. Sei o que estou fazendo.

        As meninas correm para um banheiro. Ajudam a menina a arrumar o visual de um jeito, que não a deixe com jeito de “patricinha”.

A menina se sente melhor agora. Nunca pensou que ficaria feliz em ver algum ser humano. Mas Luciana é uma pessoa diferente de todas as outras pessoas. Não somente por uma loucura ou alegria. Mas ela deixa qualquer pessoa a vontade com a sua companhia. Ela agora pode respirar.

Elas fumam. Brincam. Dão risadas. Perdem aula. Andam pelo pátio escondidas. Monise estava sentindo um gosto de alegria que não sentia há muito tempo.

Luciana tem um ar de liberdade em seu fôlego de garota. Um jeito de agir sem pensar, mas que na verdade ela chegou a pensar para agir. Ela ama a vida do jeito que a leva. A vida é do jeito que você segue o percurso dela.

Luciana acorda toda manhã, toma banho correndo. Toma café correndo. Sai pela rua para tomar banho de sol até chegar à escola. Ela parece que nunca tem sono. Nunca tem tédio. Mau humor não dura cinco minutos.

O horário da escola estava terminando. Elas tinham que pegar o material delas ainda. Por um momento, Bárbara deixou as duas sozinhas. Luciana olha para Monise com ternura.

- Você é tão linda. Acho estranho quando lhe vejo triste. Por que a Juracy estava te carregando? O que você fez?

- Minha terapeuta e minha mãe a mandam tomar conta de mim para eu não me matar na sala de aula.

- Você não vai se matar.

- Eu já tentei diversas vezes.

- Mas foi antes de me conhecer. Eu te amo. Você não vai se matar.

Luciana a olha com um brilho nos olhos, beija suas mãos e depois a boca. Um beijo leve e rápido, que termina com um sorriso e um chamado de Bárbara, dizendo que o caminho está livre. As duas saem de lá e pegam o material escolar e vão embora para suas casas.



2 comentários:

Lilith disse...

oo beijo no final da lu com a monise fechou com chave de ouro hein andyy =D

Andreia Monte disse...

Depoiis de algum tempo, trabalhnado e sem tempo pra net... tô aqui no feriadão, curtindo essa história mto bem escrita novamente... Já tava com saudades!

"Ameiiii o finalzinho... Finalmente o bj da Lu com a Monise.... "


BjinhoO.s