sábado, 11 de setembro de 2010

Primeiro Capitulo - Encontros e desencontros

Primeiro de agosto de 2008 – Sexta – feira – 22:00 – Cidade do Rio de Janeiro

Catherine


       Um som ao fundo. Uma voz feminina forte ecoa no na boate fechada. Pouca luz. Um olhar concentrado. Seu nome é Catherine. Ela canta como se estivesse falando ao mundo sobre o que ela sente. Seus cabelos lisos caem sobre seu rosto. Suas mãos grandes no violão. Um transe. Um completo transe. Um momento apenas para aquela canção, Glory Box de Portishead, no estilo mais acústico. Sua boca de aparência macia. Suas roupas que fazem o contraste do negro com o branco. Seus olhos atentos. Ninguém mais estava prestando atenção. Estavam hipnotizados pela sua voz. O garçom arrumava as bebidas para o começo da noite. A moça da limpeza varria o chão do local. E a voz continuava. Ninguém parava. Aquele som os levava para um lugar dentro deles.

       Um passo firme pára o ambiente. Era Carla, a dona da boate. Ela olha para aqueles que chegaram mais cedo, dá um sorriso malicioso, e caminha até o bar. Fala com o garçom, pergunta alguma coisa e olha para a cantora, sem tirar de seu rosto aquele sorriso. Ela era uma dessas mulheres que lhe chama atenção. Tendo seus trinta e cinco anos. Uma mulher madura que tem um olhar que entra em seus olhos, penetra em sua alma e petrifica o seu corpo. Em cima de um sapato de salto doze, uma calça justa ao seu corpo e uma blusa que lhe aparecia os seios. Uma pele morena de praia. E um jeito sedutor de caminhar.

       Ela se aproxima de Cat, que mal a olha, continua em sua canção hipnótica. Carla lhe pede atenção com o olhar, que ficou mais sério. Ela, então, se cala. E diz como quem não quer nada: - estava ensaiando. Abre um sorriso e abaixa o rosto se preparando pra tocar outra canção. Mais uma vez, aquela mulher deseja a atenção daquela que foi contratada para oferecer entretenimento a uma noite em sua boate. Ela põe a mão em seu queixo e lentamente levanta o seu rosto. Dessa vez Cat foi quem ficou hipnotizada, mas era por aquela boca. A boca de Carla era daquelas bocas carnudas que quando você olha tem vontade não só de beijar, mas também de morder. Uma boca que pode enlouquecer qualquer homem, ou mulher.

Carla, com a voz mais sensual do mundo disse:

- Você que é a tal da Catherine?

       Ela respondeu com a cabeça. E agora aquela troca de olhares tinha mais força que mil bombas de hidrogênio. Ninguém se arriscaria a dizer algo. Uma palavra poderia explodir o que se passava dentro daquelas duas mulheres. Aquela jovem de vinte e seis anos se via dona daquela mulher mais madura que ela. Já a tinha em suas mãos.

       A noite seguiu. Com a voz de Cat como trilha sonora para as pessoas que ali iam para beber, se divertir, afogar as mágoas, trair, amar, arranjar alguém para transar. Foi uma noite cheia. Muitas pessoas pediam canções. Uma mulher que estava sentada sozinha, que havia chegado sozinha e pediu uma garrafa de uísque. Um homem que estava tentando seduzir uma menina de dezesseis anos que havia forjado os documentos para estar ali. Um jovem que vestia preto e estava visualmente drogado. Muitas pessoas deixaram seus lares, ou outros ambientes para escutar aquela voz. Não se ouvia muitos aplausos, mas muitos suspiros. E alguns deles viam de Carla.

       Um tempo depois, acaba o show de Cat, na boate de Carla primeiro rola o show ao vivo e depois começa a música eletrônica.

       Catherine estava se preparando para ir embora. Arrumava seu violão e guardava algumas coisas em sua mochila, quando aquela mulher sedutora, poderosa entra em seu camarim e o tranca. Cat dá sorriso e as duas se beijam. Com um desejo enorme uma arranca a roupa da outra, como se fosse a ultima vez que fariam isso. O sexo de uma na mão da outra. Os suspiros de Carla viram agora gemidos, uivos. Aquelas carícias, aquele fogo. Uma transa casual. Mais uma para as contas de Cat. É uma experiência, praticamente, nova para Carla, que é casada e quase não fica com mulheres. Só com as cantoras lésbicas de sua boate. Foi até um dos motivos que ela resolveu colocar um show ao vivo antes da música eletrônica, encontrar mulheres que satisfaçam o seu desejo. Seu marido, que também é dono da boate, quase não ia lá. Era o lugar ideal. Era…

        Aquela noite. Justo aquela noite, ele resolveu ir fazer uma surpresa para sua mulher. Ao saber que ela estava com a cantora no camarim, ele foi lá, acreditando que estava acertando o cachê a moça. Ele viu que a porta estava fechada e bateu na porta. Nada. Ele ouviu alguns gemidos e ficou com medo que pudesse estar acontecendo algo horrível com sua amada esposa. Ele forçou a porta e entrou as pegando no flagra. Vestiram-se rapidamente e ainda terminando de colocar a roupa, Cat foi obrigada a ir embora pelos gritos do marido da mulher que a seduziu. Saiu correndo, terminando de abotoar a blusa e calçar os tênis. Ele estava armado. Já um pouco afastada ouviu um barulho de tiro. Ele havia se matado.

       Ela saiu correndo, sem saber onde se esconder. Não sabia que havia sido a cabeça dele que tinha sido estourada. Estava com medo de morrer.

E correu sem destino…

***
Alicia

Era um amor daqueles que você olha e diz:

- Vai durar para sempre.

       Alicia soube esperar. Soube falar, mas principalmente amar. Menina de vinte e cinco anos de idade. Tinha os olhos verdes, cabelos castanhos claros, pele branca. Delicada, até na forma de falar, de olhar, de amar. Nunca foi do tipo que se apaixona assim tão fácil, mas quando viu, pela primeira vez na Universidade, a Vanessa, não acreditou que poderia existir alguém desta forma.

       Vanessa, em seus vinte anos, tinha uma pele branca feito gelo e cabelos negros compridos. Tinha um jeito que não se sabia bem se era do tipo que se quebra fácil, ou que quebra os outros da mesma maneira. Seu olhar dava um medo, e ao mesmo uma vontade de desvendar aquele segredo que parecia que guardava. E ao mesmo tempo em que tinha toda essa força e fraqueza que deixava a todos em dúvida sobre os seus reais sentimentos. Ela namorava João Pedro. Sempre foi “o casal 20” da Universidade onde ela fazia o curso de Publicidade e ele de Engenharia.

       Alicia estudante de artes, já vivia de seu trabalho como escultora. Em seu quarto havia uma pequena escultura de sua amada. Todos os detalhes, que quando o fez, ainda nem a conhecia. Os detalhes delicados se seu corpo nu era apenas de olhares e imaginação. A homenageada, ao ver pela primeira vez a escultura não quis acreditar que um dia ela não tenha colocado alguma câmera escondida ou algo parecido para ter tais dimensões de seu corpo.

       Naquela noite, em um bar, um encontro quebraria o seu coração. Coração de cristal feito de Alicia quando quebra são mil pedacinhos e não tem como consertar.

       Elas já estavam juntas há oito meses. Alicia estava feliz e com saudade, já que Vanessa estava na casa de seu pai, em Friburgo. Ela havia ido para passar o fim de semana lá e ficou sete longos dias. Diria que estes sete dias, na saudade de Alicia, duraram mais que toda a eternidade. Não se pode esquecer que o amor precisa de tempo pra ser eterno, mesmo que ele dure cinco minutos. E ele já durara o tempo para ser para sempre. Quem ama de verdade procura sempre este tal de “para sempre” ou o “para toda eternidade”, o que às vezes parece ridículo.

       Vanessa que marcou aquele encontro. Alicia estava linda e ansiosa. Vanessa chegou, pediu uma cuba ao garçom. Alicia pediu uma água tônica.

       - Precisamos conversar sério – disse com uma estranha calma Vanessa.

Com as mãos entre as mãos da companheira:

       – Fale meu amor, estava com tantas saudades. Estou muito feliz de estar com você aqui. Eu fico pensando quando nós formos morar juntas. Vai ser lindo. Aliás, cada segundo que estou com você é o momento mais importante de minha vida.

       - Cala a boca, Alicia. Eu preciso falar. – Disse com algumas lágrimas nos olhos. E um pouco de raiva de todo aquele sonho.

       - Fala… - disse a preocupada Alicia.

       - Acabou. Acabou. Não tem como continuar esta farsa. Eu não amo você. Eu nunca amei você. Eu gosto de estar com você, de beijar a sua boca, de transar com você, mas eu ainda amo o João Pedro.

       - Eu só posso estar louca. Tendo alucinações. Eu entendi que você disse que ama o João?

       - É a verdade. Ele foi atrás de mim em Friburgo e passamos estes dias juntos. Eu vim aqui para terminar com você e dizer que não lhe quero a ver nunca mais.

       Um momento de silêncio tomou conta daquela mesa. Alicia continuava tentar segurar na mão de sua amada, mas ela as tirou de perto. Alicia começou a chorar de forma de quem não quer acreditar que aquilo poderia ser possível. Perder a namorada para o ex-namorado.

       Ela se levanta, deixa o dinheiro da água em cima da mesa e sai, deixando Vanessa sozinha, mas não por muito tempo. Uns minutos depois João Pedro senta ali e eles se beijam.

       Alicia vê a cena, quando ela vira o rosto para olhar pela a última vez para Vanessa. E continua a andar sem destino.

***

Bruna


       Como duas serpentes que se entrelaçaram e não conseguiam se separar. Dois corpos quentes que ferviam juntos. Boca na boca. Língua na língua. Os gemidos lentos e impossíveis de não serem produzidos. Os olhos fechados. As mãos que pegam em pernas, coxas, bunda, seios. Podia se perceber a que as duas estavam em uma grande excitação. Na escadaria de emergência de um prédio. Seus corpos não paravam de um roçar no outro. Suas bocas já estavam vermelhas, não pelo batom, que era inexistente, mas pela força do beijo. A força do desejo, do tesão. Algumas vezes aquelas mãos desciam entre as pernas, querendo entrar por dentro da calça e penetrar no corpo uma da outra. A cor de suas pelas faziam o contrate da morena com a branca e ruiva. Eram Cássia e Ligia. Duas garotas. Aliás, duas mulheres quentes. Pessoas que se podia ver o fogo no olhar. Elas exalavam, como se fosse um perfume saboroso, o desejo. Cada vez mais, aquela cena parecia esquentar. Como se aquele dia de inverno fosse o mais quente dos verões dos desertos. Parecia que o aquecimento global fosse total naqueles corpos.

       Ligia havia completado dezoito anos no dia trinta de julho. É daquelas leoninas que pegam fogo e que gostam de chamar atenção. E chamam a atenção. Sua pele branca, cabelos rubros e olhos verdes, sempre com uma maquiagem que a dava mais poder. Uma voz sensual demais para a sua idade. Gosta de provocar as pessoas pelas ruas. Até mesmo as suas amigas acabam não escapando de suas cantadas, ou olhares. É a tentação em pessoa.

       Cássia, uma morena linda. Sempre com roupas curtas e sensuais, onde mostram seu corpo. Em seus vinte anos pode enganar muitas pessoas. Quando ela quer, seu olhar é o mais inocente do que de um bebê recém nascido. Como se as pessoas deveriam cuidar dela, protegê-la. E pessoas assim é um perigo. Nem sempre estão precisando de ajuda, ou defesa. Pelo contrario, quem cai na sua que vai precisar de toda ajuda possível para sair de seus encantamentos.

       Aquela pegação permanecia cada vez mais ardente. Parecia que elas conseguiriam mudar uma lei da física, que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Já não ligavam pelas pessoas que passavam por elas, geralmente assustadas, espantadas, admiradas e até mesmo excitadas. Parecia que nem um terremoto as fariam parar. Parecia. Talvez o terremoto não fosse capaz de fazer aqueles corpos se desejarem tanto, mas uma voz, um olhar ardente de raiva sim. Todos pertencentes à Bruna, namorada de Cássia.

       Quando a contaram que as duas estavam juntas na escada, pensou que estivessem apenas conversando. Uma era a sua melhor amiga e a outra a sua namorada. Com certeza estariam falando sobre ela. Até resolveu dar um tempo para deixá-las conversarem mais um pouco. Uma menina de dezenove anos. Acabara de entrar para a faculdade de administração. Sua aparência é de alguém um pouco mais jovem. Cabelos acima dos ombros, cor de mel. Um piercing no nariz e um jeito meigo de falar. Educada, carinhosa e cuidadosa. O que a fez se apaixonar por completo pela Cássia. Estavam sempre juntas de mãos dadas. Uma cuidando da outra. Eram vizinhas de porta, por isso suas mãos, que não sabem de sua orientação sexual nunca desconfiaram. Namoravam desde os catorze anos. Sempre foram amigas. Assim como Ligia. Que morava dois andares abaixo e quando conheceu Bruna foi amizade a primeira vista. As duas estudavam juntas na escola e no cursinho. E foi Bruna que as apresentou.

       Agora, nesse exato momento, duas mulheres que ela tanto amava estavam se abraçando, se beijando e não parecia nada ligado a uma simples amizade.

       Bruna chega ao local, acreditando que está na hora delas conversarem todas juntas. E a curiosidade de saber o que falavam dela apertou. Não queria acreditar no que estava vendo. Por uns poucos segundos ficou imóvel, olhando aquelas que nada viam o que estava ao redor. Foi quando, Bruna abriu um pequeno sorriso e disse: “Vocês estão brincando comigo. Me testando. Isso não pode ser verdade”. Não era brincadeira. E as duas já haviam parado e com uma vergonha, rostos avermelhados, tentaram arrumar as roupas que estavam sendo retiradas. Os botões desabotoados e calças já abertas. Não sabiam o que dizer. Nem Cássia, nem Ligia, muito menos Bruna, que ainda não acreditava o que seus olhos havia acabado de lhe mostrar. Olhou para as duas. Com a garganta calada. Queria chorar, mas nem as lágrimas acreditavam naquela dor. Podia um dia até ser traída, não nunca pelas duas. Quando as primeiras lágrimas caíram, ela socou os braços de Lígia com a sua fala doendo mais do que qualquer soco “Por que Lígia? Você sabe que eu amo essa garota, porque você fez isso comigo? Justo comigo, que sempre fui sua amiga? Por quê? O que eu fiz pra você?”

       Lígia tentava se defender, mas deixando até levar alguns socos. Cássia tentou segurar as mãos de Bruna, que a olhou com o maior nojo do mundo. E saiu de lá. Desceu as escadas e saiu do prédio, sem rumo. Chutando tudo que via em sua frente. Chorando todas as dores do mundo. Mal conseguia andar de tanta dor que seu peito estava sentindo. Mas quando andava ia com passos rápidos. Como quem quer deixar algo para trás. E queria mesmo. Aquele mundo já não lhe pertencia mais. Não conseguiria olhar cada pedaço daquele prédio sem lembrar as duas.

Apenas andava, sem saber para onde seus pés a levavam.

***

Monise


       Já havia tentando cortar os pulsos. Não queria mais o seu pulsar, os seus batimentos cardíacos. Nada fazia sentido. Nem a sua mesada alta, nem suas notas baixas, se seus pais estavam em casa ou não. Às vezes bebia algumas doses de uísque para tomar coragem, para tentar de novo. A vida é uma armadilha. Como se cada dia os passos que ela dava a levava para alguma mina terrestre. Era sozinha. Sempre se sentiu sozinha. Mesmo quando as pessoas tentavam se aproximar, mesmo quando tinha amigos, mesmo quando tinha o que comemorar. Ela estava sozinha dentro de si.

       Mais uma dose. E uma garrafa inteira de vinho. Os cigarros já haviam terminado. Sua angustia não. Ficava no quarto de porta e janelas fechadas o dia inteiro. Não queria ver o Sol. Ele também não fazia sentido dentro de sua dor. Vários psicólogos tentaram analisar. E ela sempre perguntava “Por que viver em um mundo onde são todos egoístas?”

       Um mundo ruim, pessoas ruins. Essa sempre foi a desculpa daquela menina de não querer mais viver. Os psicólogos diziam que este não era o real motivo. Uns diziam que era a solidão. Alguns psiquiatras passaram alguns remédios. Tiveram que tirar, pois ela tomava todos, de uma vez só.

       Monise, como ela se chama, tinha os cabelos curtos, loiros. Tinha piercings pelo corpo. Nas orelhas, no nariz, sobrancelha. Um dragão tatuado nas costas e uma faca na nuca. Amava armas brancas. Havia comprado espadas (sem corte), punhais e facas. Ninguém nunca entendeu esta estranha mania. Mas era a única ciosa que a agradava, ganhar e comprar armas brancas. Ela usava algumas de suas peças para se cortar, quando a angustia era muito grande.

       Ninguém entendia porque disso. Daquela tristeza profunda, que tomou conta dessa menina já há um ano e meio. Ela tem dezesseis anos. O seu comportamento contaminou aquele lar que nunca mais foi feliz. É como se um anjo triste estivesse por lá e contaminasse a todos com esta doença. Ela quase não chorava. Aliás, a última vez que ela havia chorado foi antes da depressão. Antes disso era uma menina alegre, com muitos amigos, otimista. Suas notas sempre foram as maiores da sala de aula. Aluna exemplar. Filha amada. Seus pais realmente sempre trabalharam muito, mas sempre tentaram mostrar o carinho que tinham por ela. Ela era feliz. E agora não era mais.

       Naquela noite, ela estava ouvindo música, lendo alguns livros, que também já não faziam sentido algum para ela. Bebeu uma dose de uísque e resolveu fazer algo que não fazia há muito tempo: ligou a televisão. Estava passando o jornal que falava de crise econômica, acidentes, assassinatos, crianças morrendo de fome. Ela levantou e ficou indignada com tudo aquilo e disse em voz alta:

- Viu como eu tenho razão. Ninguém presta. Esse mundo é ruim.

       Ela abriu a porta e saiu. Estava sozinha mesma, ninguém iria atrás. Só seus pais poderiam se preocupar para onde ela estaria indo naquela hora da noite, mas eles haviam resolvido sair. Queriam conversar, mas sem chances que Monise escutasse.

Ela andava sem destino.

***

Luciana


       Ela corre de seu apartamento beira-mar com o sorriso mais feliz do mundo. Já era de noite. As pessoas estavam em bares, em quiosques, em casa. Mas ela, ainda em casa disse ao seu namorado Gustavo que queria mergulhar no mar. Ele ficou meio sem acreditar no que ouvia da boca de sua namorada. Mas era o que ela realmente queria. O pegou pela mão, desceram os andares de elevador e correram. Ele, tímido, estava constrangido em correr entre aquelas pessoas do saguão do prédio e depois pela rua. Ela não parava. Largou a mão dele e foi se despindo. Chegando no mar apenas de calcinha e sutiã. Não quis vestir o biquíni antes de sair do apartamento. A sua vontade era mergulhar nua. Mas Gustavo não deixou.

       Ela mergulhou e ele ficou olhando ela da praia. Não queria se molhar, nem sujar a sua roupa de areia. Sempre foi um bom rapaz. Ele tinha dezoito anos e ela dezessete. Conheciam-se da escola. Estudavam juntos desde o sétimo ano do ensino fundamental. E agora estavam no terceiro ano do ensino médio e faziam o curso pré-vestibular. Ele queria fazer faculdade de economia e ajudar o seu pai a cuidar de suas empresas. Ela queria fazer educação física e ficar longe dos problemas de seus pais. Ela amava nadar, surfar, jogava futebol, vôlei, basquete. Desde muito jovem ganhava vários prêmios com o esporte.

       Ela nadava, jogava água para cima. Gritava, ria e chamava o namorado para entrar. Ele fazia um não com a mão e ela falava que ele era medroso e que ligava muito para o que os outros vão achar. “Gugu, meu amorzinho, o importante da vida é ser feliz e gozar dela”.

       Outra pessoa se aproximava e olhava a menina se divertir. Chegou perto de Gustavo e o cumprimentou. Era professora deles, Julia. Era bem jovem. Havia se formado com vinte e um anos e tinha agora vinte e cinco. Ela sempre foi a professora preferida e todos os alunos. Alegre, amiga e entendia mais o que se passava na cabeça daqueles meninos e meninas que estavam no fim de adolescência e se preparando para ser adultos. Muito bonita, com o corpo atlético. Cobrava muito das alunas nos campeonatos. Ela treinava o time de vôlei e de futebol feminino. Elas estavam na final do inter-colegial.

       - Ela é bem alegre, não é? – disse a professora.

       - Muito alegre e louca. – respondeu Gustavo.

       - A loucura às vezes faz bem. Ela pelo menos é feliz. – argumentou Julia.

       - É, mas às vezes eu queria que ela fosse um pouco mais normal.

       - E tirar este sorriso do rosto dela? Seria um erro essa menina ser diferente.

       - Pois é. E eu tenho que aguentar.

       - Você gosta dela?

       - Gosto, mas ela tem um comportamento muito explosivo.

       - Viva isso com ela, se não você vai acabar perdendo a namorada.

       - Não. Nunca. Ela me ama do jeito que sou. Eu sou a razão e ela a emoção.

       - Que bom. Torço por vocês. São muito bonitos juntos.

       Luciana sai correndo do mar e vai ao encontro de Gustavo e dá um abraço, deixando-o todo molhado e com raiva. Ela falou que fez isso porque gosta dele. Ele falou que ia embora e que depois ligava para ela. E deixou a menina sozinha com a Julia. Julia, que estava com um casaquinho, pois estava frio naquele dia de inverno, pegou e deu para a sua jovem aluna, pois ficou preocupada que ela ficasse doente. Lu sorriu, agradeceu Julia. E riu mais da reação do namorado e falando a cara que ele fez para a professora. As duas riram e a menina deitou na areia. A professora deitou próxima dela e conversaram sobre tudo. Sobre o mar, a lua que estava linda. Sobre o frio que fazia. Sobre o campeonato e a preparação do time. E sobre amor. Luciana falou que gostava muito de Gustavo, mas não sabia se aquilo era amor mesmo, pois sempre esperou que o amor fosse algo mais forte. Gustavo era quase irmão dela. Alguém que ela tinha muito carinho, respeito. Julia disse que não é bom estar com alguém que não ama.

       A menina chegou mais perto da professora, deu um beijo perto de sua boca, mas disse que tinha que ir embora, pois seus pais deveriam estar preocupados. Ela pegou suas roupas, que Gustavo já havia juntado e se vestiu. Julia levantou e perguntou se ela queria companhia até o prédio. A menina apenas sorriu para a professora. Julia sentiu uma grande vontade de ir com a menina. Até levantou e caminhou um pouco com ela. Luciana pegou em sua mão, beijou e disse que a professora era maravilhosa. E foi andando. A professora que sentiu uma grande atração pela a aluna ficou com medo daquela aproximação, mas continuou perto de Luciana. A menina virou e beijou a professora e foi embora para o prédio onde mora. Julia ficou ali parada por alguns segundos e depois pegou o seu caminho.

       Ao chegar a sua casa, Luciana se deparou com seus pais enfurecidos. Eles haviam encontrado com Gustavo, que contara o caso dela correr, entrar no mar só de calcinha e sutiã e o que ela fez com ele, o abraçando e deixando todo molhado. Eles começaram a gritar com a menina. Ela, ainda na porta de casa, com a maçaneta na mão escutava aquilo. Difícil acreditar que estava a ponto de brigar com seus pais por causa de uma brincadeira, que o Gustavo levou a sério demais. Ela falou:

       - Não me procurem, depois eu volto. Vocês estão muito nervosos sem motivos. Eu só sou uma pessoa feliz.

       Ela saiu de casa, ainda feliz. Não queria deixar de sentir a sua alegria. Ela acabara de beijar a sua professora na praia. Sempre teve vontade de fazer isso e agora conseguiu. Mesmo que fosse expulsa da escola, de casa, do mundo. Aquele dia era de pura felicidade.

       Ela saiu andando sem rumo…





5 comentários:

Mari Vieira disse...

Estou muito feliz em ser a mais nova seguidora de Detalhes Femininos!!!Você é uma pessoa que tem muito talento,que vai brilhar por muito e muito tempo!!!E claro que eu já sou a sua fã logo de cara,é um prazer imenso esta participando desse Blog,lhe desejo toda sorte e muito sucesso!!!Que Deus te abençõe e ilumine sempre o seu caminho!!!Ass:Marri.bye!!!!

margareth disse...

Andy!! Parabéns e obrigada pelo retorno...como já falei ADOOROO ler e estava na espera...rsrs(estou lendo "marley e eu" além de outras tres histórias pela net...kkk)Pena q as postagens só serão no sábado, snif!
Abraço e na torcida por ti,

Lilith disse...

andy!! que maravilha! ja me deliciei de novo com as historias tao rica em detalhes, é como se vc pudesse sentir essas meninas. vc sabe eu sempre vou ler e sempre me sentirei unida a elas de alguma forma. sucesso sempre e continue, ate semana que vem neh? =)

Anônimo disse...

cara. . .mto bom. . .a história e mto loka. . .parabens!!!vc é uma ótima escritora

NatyL disse...

Só hoje que eu descobri esse blog através de um site e resolvi dar um olhadinha, quando vi a história não resisti, comecei a ler...

Parabéns tá muito legal!!

Beijos..

By: NatyL